Exortação Apostólica Familiaris Consortio – Papa João Paulo II (Parte 4)

Os anciãos na família

27. Há culturas que
manifestam uma veneração singular e um grande amor pelo ancião: longe de ser
excluído da família ou de ser suportado como um peso inútil, o ancião continua
inserido na vida familiar, tomando nela parte activa e responsável – embora
devendo respeitar a autonomia da nova família – e sobretudo desenvolvendo a
missão preciosa de testemunha do passado e de inspirador de sabedoria para os
jovens e para o futuro.

Outras culturas, pelo
contrário, especialmente depois de um desenvolvimento industrial e urbanístico
desordenado, forçaram e continuam a forçar os anciãos a situações inaceitáveis
de marginalização que são fonte de atrozes sofrimentos para eles mesmos e de
empobrecimento espiritual para muitas famílias.

É necessário que a acção
pastoral da Igreja estimule todos a descobrir e a valorizar as tarefas dos
anciãos na comunidade civil e eclesial, e, em particular, na família. Na
realidade, «a vida dos anciãos ajuda-nos a esclarecer a escala dos valores
humanos; mostra a continuidade das gerações e demonstra maravilhosamente a
interdependência do povo de Deus. Os anciãos têm além disso o carisma de encher
os espaços vazios entre gerações, antes que se sublevem. Quantas crianças têm
encontrado compreensão e amor nos olhos, nas palavras e nos carinhos dos
anciãos! E quantas pessoas de idade têm subscrito com gosto as inspiradas
palavras bíblicas que a “coroa dos anciãos são os filhos dos filhos”
(Prov. 17, 6)».

II – O SERVIÇO À VIDA

A transmissão da vida

Cooperadores do amor de Deus
Criador

28. Com a criação do homem e
da mulher à sua imagem e semelhança, Deus coroa e leva à perfeição a obra das
suas mãos: Ele chama-os a uma participação especial do seu amor e do seu poder
de Criador e de Pai, mediante uma cooperação livre e responsável deles na
transmissão do dom da vida humana: «Deus abençoou-os e disse-lhes:
“crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra”»,

Assim a tarefa fundamental
da família é o serviço à vida. É realizar, através da história, a bênção
originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de homem a homem.

A fecundidade é o fruto e o
sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos
esposos: «O autêntico culto do amor conjugal e toda a vida familiar que dele
nasce, sem pôr de lado os outros fins do matrimónio, tendem a que os esposos,
com fortaleza de animo, estejam dispostos a colaborar com o amor do Criador e
Salvador, que por meio deles aumenta cada dia mais e enriquece a família»,

A fecundidade do amor
conjugal não se restringe somente à procriação dos filhos, mesmo que entendida
na dimensão especificamente humana: alarga-se e enriquece-se com todos aqueles
frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que o pai e a mãe são chamados
a doar aos filhos e, através dos filhos, à Igreja e ao mundo.

A doutrina e a norma sempre
antigas e sempre novas da Igreja

29. Exactamente porque o
amor dos cônjuges é uma participação singular no mistério da vida e no amor do
próprio Deus, a Igreja tem consciência de ter recebido a missão especial de
guardar e de proteger a altíssima dignidade do matrimónio e a gravíssima
responsabilidade da transmissão da vida humana.

Desta maneira, na
continuidade com a tradição viva da comunidade eclesial através da história, o
Concílio Vaticano II e o magistério do meu Predecessor Paulo VI, expresso sobretudo
na encíclica Hamanae Vitae, transmitiram aos nossos tempos um anúncio
verdadeiramente profético, que reafirma e repõe, com clareza, a doutrina e a
norma sempre antigas e sempre novas da Igreja sobre o matrimónio e sobre a
transmissão da vida humana.

Por isso, os Padres Sinodais
declaram textualmente na última Assembleia: «Este Sacro Sínodo reunido em união
de fé com o Sucessor de Pedro, sustenta firmemente o que foi proposto pelo
Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 50 e, depois, pela encíclica Humanae
Vitae, e em particular que o amor conjugal deve ser plenamente humano,
exclusivo e aberto a nova vida (Humanae Vitae, 11 e cfr. 9 e 12)».

A Igreja está do lado da
vida

30. A doutrina da Igreja coloca-se hoje numa situação
social e cultural que a torna mais difícil de ser compreendida e ao mesmo tempo
mais urgente e insubstituível para promover o verdadeiro bem do homem e da
mulher.

De facto o progresso
científico-técnico que o homem contemporaneo amplia continuamente no domínio
sobre a natureza, não só desenvolve a esperança de criar uma humanidade nova e
melhor, mas gera também uma sempre mais profunda angústia sobre o futuro.
Alguns perguntam-se se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter
nascido. Duvidam, portanto, da liceidade de chamar outros à vida, que talvez
amaldiçoarão a sua existência num mundo cruel, cujos terrores nem sequer são
previsíveis. Outros pensam que são os únicos destinatários das vantagens da
técnica e excluem os demais, impondo-lhes meios contraceptivos ou técnicas
ainda piores. Outros ainda, manietados como estão pela mentalidade consumística
e com a única preocupação de um aumento contínuo dos bens materiais, acabam por
não chegar a compreender e portanto por rejeitar a riqueza espiritual de uma
nova vida humana. A razão última destas memtalidades é a ausência de Deus do
coração dos homens, cujo amor só por si é mais forte do que todos os possíveis
medos do mundo e tem o poder de os vencer.

Nasceu assim uma mentalidade
contra a vida (anti-life mentality), como emerge de muitas questões actuais:
pense-se, por exemplo, num certo panico derivado dos estudos dos ecólogos e dos
futurólogos sobre a demografia, que exageram, às vezes, o perigo do incremento
demográfico para a qualidade da vida.

Mas a Igreja crê firmemente
que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é sempre um esplêndido dom
do Deus da bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que obscurecem o mundo, a
Igreja está do lado da vida: e em cada vida humana sabe descobrir o esplendor
daquele «Sim», daquele «Amém» que é o próprio Cristo. Ao «não» que invade e
aflige o mundo, contrapõe este «Sim» vivente, defendendo deste modo o homem e o
mundo de quantos insidiam e mortificam a vida.

A Igreja é chamada a
manifestar novamente a todos, com uma firme e mais clara convicção, a vontade
de promover, com todos os meios e de defender contra todas as insídias a vida
humana, em qualquer condição e estado de desenvolvimento em que se encontre.

Por tudo isto a Igreja
condena como ofensa grave à dignidade humana e à justiça todas aquelas
actividades dos governos ou de outras autoridades públicas, que tentam limitar
por qualquer modo a liberdade dos cônjuges na decisão sobre os filhos.
Consequentemente qualquer violência exercitada por tais autoridades em favor da
contracepção e até da esterilização e do aborto procurado, é absolutamente de
condenar e de rejeitar com firmeza. Do mesmo modo é de reprovar como gravemente
injusto o facto de nas relações internacionais, a ajuda económica concedida
para a promoção dos povos ser condicionada a programas de contracepção,
esterilização e aborto procurado.

Para que o plano divino se
realize sempre mais plenamente

31. A Igreja está sem dúvida consciente dos múltiplos e
complexos problemas que hoje em muitos países envolvem os cônjuges no seu dever
de transmitir responsavelmente a vida. Reconhece também o grave problema do
incremento demográfico, como se apresenta nas diversas partes do mundo, e as
relativas implicações morais.

A Igreja considera, todavia,
que uma reflexão aprofundada de todos os aspectos de tais problemas ofereça uma
nova e mais forte conflrmação da importância da doutrina autêntica sobre a
regulação da natalidade, reproposta no Concílio Vaticano II e na encíclica
Humanae Vitae.

Por isto, juntamente com os
Padres Sinodais, sinto o dever de dirigir um urgente convite aos teólogos a fim
de que, unindo as suas forças para colaborar com o Magistério hierárquico, se
empenhem em iluminar cada vez melhor os fundamentos bíblicos, as motivações
éticas e as razões personalísticas desta doutrina. Será assim possível, no
contexto de uma exposição organica, tornar a doutrina da Igreja sobre este tema
fundamental verdadeiramente acessível a todos os homens de boa vontade,
favorecendo uma compreensão cada dia mais luminosa e profunda: desta forma o
plano divino poderá ser sempre mais plenamente cumprido para a salvação do
homem e para a glória do Criador.

A tal respeito, o empenho
concorde dos teólogos, inspirado pela adesão convencida ao Magistério, que é o
único guia autêntico do Povo de Deus, apresenta particular urgência mesmo em
razão da visão do homem que a Igreja propõe: dúvidas ou erros no campo
matrimoni al ou familiar implicam um grave obscurecer-se da verdade integral
sobre o homem numa situação cultural já tão frequentemente confusa e
contraditória O contributo de iluminação e de investigação, que os teólogos são
chamados a oferecer no cumprimento da sua missão específica, tem um valor
incomparável e representa um serviço singular, altamente meritório, à família e
à humanidade.

Na visão integral do homem e
da sua vocação

32. No contexto de uma
cultura que deforma gravemente ou chega até a perder o verdadeiro significado
da sexualidade humana, porque a desenraíza da sua referência essencial à
pessoa, a Igreja sente como mais urgente e insubstituível a sua missão de
apresentar a sexualidade como valor e tarefa de toda a pessoa criada, homem e
mulher, à imagem de Deus.

Nesta perspectiva o Concílio
Vaticano II afirmou claramente que «quando se trata de conciliar o amor
conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento
não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve
também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e
dos seus actos; critérios que respeitam, num contexto de autêntico amor, o
sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível se se
cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal».

É exactamente partindo da
«visão integral do homem e da sua vocação, não só natural e terrena, mas também
sobrenatural e eterna», que Paulo VI afirmou que a doutrina da Igreja «se funda
na conexão inseparável, que Deus quis e que o homem não pode quebrar por sua
iniciativa, entre os dois significados do acto conjugal: o significado unitivo
e o significado procriativo», E conclui reafirmando que é de excluir, como
intrinsecamente desonesta, «toda a acção que, ou em previsão do acto conjugal,
ou na sua realização, ou no desenvolvimento das suas consequências naturais, se
proponha, como fim ou como meio, tornar a procriação impossível».

Quando os cônjuges, mediante
o recurso à contracepção, separam estes dois significados que Deus Criador
inscreveu no ser do homem e da mulher e no dinamismo da sua comunhão sexual,
comportam-se como «árbitros» do plano divino e «manipulam» e aviltam a
sexualidade humana, e com ela a própria pessoa e a do cônjuge, alterando desse
modo o valor da doação «total». Assim, à linguagem nativa que exprime a
recíproca doação total dos cônjuges, a contracepção impõe uma linguagem
objectivamente contradictória, a do não doar-se ao outro: deriva daqui, não
somente a recusa positiva de abertura à vida, mas também uma falsificação da
verdade interior do amor conjugal, chamado a doar-se na totalidade pessoal.

Quando pelo contrário os
cônjuges, mediante o recurso a períodos de infecundidade, respeitam a conexão
indivisível dos significados unitivo e procriativo da sexualidade humana,
comportam-se como «ministros» de plano de Deus e «usufruem» da sexualidade
segundo o dinamismo originário da doação «total», se manipulações e alterações.

À luz da experiência mesma
de tantos casais e dos dados das diversas ciências humanas, a reflexão
teológica pode receber e é chamada a aprofundar a diferenca antropológica e ao
mesmo tempo moral, que existe entre a contracepção e o recurso aos ritmos
temporais: trata-se de uma diferença bastante mais vasta e profunda de quanto
habitualmente se possa pensar e que, em última análise, envolve duas concepções
da pessoa e da sexualidade humana irredutíveis entre si. A escolha dos ritmos
naturais, de facto, comporta a aceitação do ritmo biológico da mulher, e com
isto também a aceitação do diálogo, do respeito recíproco, da responsabilidade
comum, do domínio de si. Acolher, depois, o tempo e o diálogo significa
reconhecer o carácter conjuntamente espiritual e corpóreo da comunhão conjugal,
como também viver o amor pessoal na sua exigência de fidelidade. Neste contexto
o casal faz a experiência da comunhão conjugal enriquecida daqueles valores de
ternura e afectividade, que constituem o segredo profundo da sexualidade
humana, mesmo na sua dimensão física. Desta maneira a sexualidade é respeitada
e promovida na sua dimensão verdadeira e plenamente humana, não sendo nunca
«usada» como um «objecto» que, dissolvendo a unidade pessoal da alma e do
corpo, fere a própria criação de Deus na relação mais íntima entre a natureza e
a pessoa.

A Igreja Mestra e Mãe para
os cônjuges em dificuldade

33. Também no campo da moral
conjugal a Igreja é e age como Mestra e Mãe.

Como Mestra, ela não se
cansa de proclamar a norma moral que deve guiar a transmissão responsável da
vida. De tal norma a Igreja não é, certamente, nem a autora nem o juiz. Em
obediência à verdade que é Cristo, cuja imagem se reflecte na natureza e na
dignidade da pessoa humana, a Igreja interpreta a norma moral e propõe-na a
todos os homens de boa vontade, sem esconder as suas exigências de radicalidade
e de perfeição.

Como Mãe, a Igreja está
próxima dos muitos casais que se encontram em dificuldade sobre este importante
ponto da vida moral: conhece bem a sua situação, frequentemente muito árdua e
às vezes verdadeiramente atormentada por dificuldades de toda a espécie, não só
individuais mas tambem sociais; sabe que muitos cônjuges encontram dificuldades
não só para a realização concreta mas também para a própria compreensão dos
valores ínsitos na norma moral.

Mas é a mesma e única Igreja
a ser ao mesmo tempo Mestra e Mãe. Por isso a Igreja nunca se cansa de convidar
e de encorajar para que as eventuais dificuldades conjugais sejam resolvidas
sem nunca falsificar e comprometer a verdade: ela está de facto convencida de
que não pode existir verdadeira contradição entre a lei divina de transmitir a
vida e a de favorecer o autêntico amor conjugal. Por isso, a pedagogia concreta
da Igreja deve estar sempre ligada e nunca separada da sua doutrina. Repito,
portanto, com a mesmíssima persuasão do meu Predecessor: «Não diminuir em nada
a doutrina salutar de Cristo é eminente forma de caridade para com as almas».

Por outro lado, a autêntica
pedagogia eclesial revela o seu realismo e a sua sabedoria só desenvolvendo um
empenhamento tenaz e corajoso no criar e sustentar todas aquelas condições
humanas – psicológicas, morais e espirituais – que são indispensáveis para
compreender e viver o valor e a norma moral.

Não há dúvida de que entre
estas condições devem elencar-se a constância e a paciência, a humildade e a
fortaleza de espirito, a filial confiança em Deus e na sua graça, o recurso
frequente à oração e aos sacramentos da Eucaristia e da reconciliação. Assim
fortalecidos, os cônjuges cristãos poderão manter viva a consciência do influxo
singular que a graça do sacramento do matrimónio exerce sobre todas as
realidades da vida conjugal, e, portanto, também sobre a sua sexualidade: o dom
do Espirito, acolhido e correspondido pelos cônjuges, ajuda-os a viver a
sexualidade humana segundo o plano de Deus e como sinal do amor unitivo e
fecundo de Cristo pela Igreja.

Mas, entre as condições
necessárias, entra também o conhecimento da corporeidade e dos ritmos de
fertilidade. Em tal sentido, é preciso fazer tudo para que um igual
conhecimento se torne acessível a todos os cônjuges, e, antes ainda às jovens,
mediante uma informação e educação clara, oportuna e séria, feita por casais,
médicos e peritos. O conhecimento deve conduzir à educação para o autocontrole:
daqui a absoluta necessidade da virtude da castidade e da permanente educaçao
para ela. Segundo a visão cristã, a castidade não significa de modo nenhum nem
a recusa nem a falta de estima pela sexualidade humana: ela significa antes a
energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da
agressividade e sabe voltá-lo para a sua plena realização.

Paulo VI, com profundo
intuito de sabedoria e de amor, não fez outra coisa senão dar voz à experiência
de tantos casais quando na sua encíclica escreveu: «O domínio do instinto,
mediante a razão e a vontade livre, impõe sem dúvida uma ascese para que as
manifestações afectivas da vida conjugal sejam segundo a ordem recta e
particularmente para a observância da continência periódica. Mas esta
disciplina própria da pureza dos esposos, muito longe de prejudicar o amor
conjugal, confere-lhe pelo contrário um mais alto valor humano. Isto exige um
esforço contínuo, mas graças ao seu benéfico influxo, os cônjuges desenvolvem
integralmente a sua personalidade, enriquecendo-se de valores espirituais:
aquela traz à vida familiar frutos de serenidade e de paz e facilita a solução
de outros problemas; favorece a atenção para com o consorte, ajuda os esposos a
superar o egoísmo, inimigo do amor, e aprofunda o sentido da responsabilidade
deles no cumprimento dos seus deveres. Os pais adquirem então a capacidade de
uma influência mais profunda e eficaz na educação dos filhos».

O itinerário moral dos
esposos

34. É sempre muito
importante possuir uma recta concepção da ordem moral, dos seus valores e das
suas normas: a importância aumenta quando se tornam mais numerosas e graves as
dificuldades para as respeitar.

Exactamente porque revela e
propõe o desígnio de Deus Criador, a ordem moral não pode ser algo de
mortificante para o homem e de impessoal; pelo contrário, respondendo às
exigências mais profundas do homem criado por Deus, põe-se ao serviço da sua
plena humanidade, com o amor delicado e vinculante com o qual Deus mesmo
inspira, sustenta e guia cada criatura para a felicidade.

Mas o homem, chamado a viver
responsavelmente o plano sapiente e amoroso de Deus, é um ser histórico, que se
constrói, dia a dia, com numerosas decisões livres: por isso ele conhece, ama e
cumpre o bem moral segundo etapas de crescimento.

Também os cônjuges, no
âmbito da vida moral, são chamados a um contínuo caminhar, sustentados pelo
desejo sincero e operante de conhecer sempre melhor os valores que a lei divina
guarda e promove, pela vontade recta e generosa de os encarnar nas suas
decisões concretas. Eles, porém, não podem ver a lei só como puro ideal a
conseguir no futuro, mas devem considerá-la como um mandato de Cristo de
superar cuidadosamente as dificuldades. Por isso a chamada «lei da graduação»
ou caminho gradual não pode identificar-se com a “graduação da lei”,
como se houvesse vários graus e várias formas de preceito na lei divina para
homens em situações diversas. Todos os cônjuges são chamados, segundo o plano
de Deus, à santidade no matrimónio e esta alta vocação realiza-se na medida em
que a pessoa humana está em grau de responder ao mandato divino com espírito
sereno, confiando na graça divina e na vontade própria». Na mesma linha a
pedagogia da Igreja compreende que os cônjuges antes de tudo reconheçam
claramente a doutrina da Humanae Vitae como normativa para o exercício da
sexualidade e sinceramente se empenhem em pôr as condições necessárias para a
observar.

Esta pedagogia, como
sublinhou o Sínodo, compreende toda a vida conjugal. Por isso a obrigação de
transmitir a vida deve integrar-se na missão global da totalidade da vida
cristã, a qual, sem a cruz, não pode chegar à ressurreição. Em semelhante
contexto compreende-se como não se possa suprimir da vida familiar o
sacrifício, mas antes se deva aceitá-lo com o coração para que o amor conjugal
se aprofunde e se torne fonte de alegria íntima.

Este caminho comum exige
reflexão, informação, instrução idónea dos sacerdotes, dos religiosos e dos
leigos que estão empenhados na pastoral familiar: todos eles poderão ajudar os
cônjuges no itinerário humano e espiritual que comporta em si a consciência do
pecado, o sincero empenho de observar a lei moral, o ministério da
reconciliação. Deve também ser recordado como na intimidade conjugal estão
implicadas as vontades das duas pessoas, chamadas a uma harmonia de mentalidade
e comportamento: isto exige não pouca paciência, simpatia e tempo. De singular
importância neste campo é a unidade dos juízos morais e pastorais dos
sacerdotes: tal unidade deve cuidadosamente ser procurada e assegurada, para
que os fiéis não tenham que sofrer problemas de consciência.

O caminho dos cônjuges será
portanto facilitado se, na estima da doutrina da Igreja e na confiança na graça
de Cristo, ajudados e acompanhados pelos pastores e pela inteira comunidade
eclesial, descobrirem e experimentarem o valor da libertação e da promoção do
amor autêntico, que o Evangelho oferece e o mandamento do Senhor propõe.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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