Exortação Apostólica Familiaris Consortio – Papa João Paulo II (Final)

Os sem-família

85. Desejo ainda acrescentar
uma palavra para uma categoria de pessoas que, pela situação concreta em que se
encontram – e muitas vezes não por sua vontade deliberada – eu considero
particularmente junto do Coração de Cristo e dignas do afeto e da solicitude da
Igreja e dos pastores.

Infelizmente há no mundo
muitíssimas pessoas que não podem referir-se de modo algum ao que poderia
definir-se em sentido próprio uma família. Grandes setores da humanidade vivem
em condições de enorme pobreza, em que a promiscuidade, a carência de
habitações, a irregularidade e instabilidade das relações, a falta extrema de
cultura não permitem praticamente poder falar de verdadeira família. Há outras
pessoas que, por motivos diversos, ficaram sós no mundo. Também para todos
estes há um «bom anúncio da família».

Em favor de quantos vivem na
pobreza extrema, já falei da necessidade urgente de trabalhar com coragem para
se encontrarem soluções mesmo a nível político, que consintam ajudar a superar
estas condições desumanas de prostração. É um dever que incumbe,
solidariamente, à sociedade inteira, mas de uma maneira especial às autoridades
pela força do seu cargo e das responsabilidades consequentes, assim como às
famílias, que devem demonstrar grande compreensão e vontade de ajudar.

Àqueles que não têm uma
família natural, é preciso abrir ainda mais as portas da grande família que é a
Igreja, concretizada na família diocesana e paroquial, nas comunidades
eclesiais de base ou nos movimentos apostólicos. Ninguém está privado da
família neste mundo: a Igreja é casa e família para todos, especialmente para
quantos estão «cansados e oprimidos».

CONCLUSÃO

A vós esposos, a vós pais e
mães de família;

a vós, jovens e donzelas,
que sois o futuro e a esperança da Igreja e do mundo e construireis o núcleo
que garantirá e dinamizará a família no terceiro milénio que se aproxima;

a vós, veneráveis e caros
Irmãos no episcopado e no sacerdócio, queridos filhos religiosos e religiosas,
almas consacradas ao Senhor, que testemunhais aos esposos a realidade última do
amor de Deus;

a vós, homens todos de
coração recto, que por razões diversas vos preocupais da situação da família,
dirige-se com trepidante solicitude, a minha atenção ao final desta Exortação
Apostólica.

O futuro da humanidade passa
pela família!

É pois indispensável e
urgente que cada homem de boa vontade se empenhe em salvar e promover os
valores e as exigências da família.

Sinto-me no dever de pedir
aos filhos da Igreja um esforço especial neste campo. Conhecendo plenamente,
pela fé, o maravilhoso plano de Deus, eles têm uma razão mais para se dedicar à
realidade da família neste nosso tempo de prova e de graça.

Devem amar particularmente a
família. É o que concreta e exigentemente vos confio.

Amar a família significa
saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a
família significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder
superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável
ao seu desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de
hoje, muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes
dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas
próprias que lhe advém da natureza e da graça e na missão que Deus lhe confiou.
«É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura! É
necessário que sigam a Cristo».

Compete ainda aos cristãos a
tarefa de anunciar com alegria e convicção a «boa nova» acerca da família, que
tem necessidade absoluta de ouvir e de compreender sempre mais profundamente as
palavras autênticas que lhe revelam a sua identidade, os seus recursos
interiores, a importancia da sua missão na Cidade dos homens e na de Deus.

A Igreja conhece o caminho
pelo qual a família pode chegar ao coração da sua verdade profunda. Este caminho,
que a Igreja aprendeu na escola de Cristo e da história interpretada à luz do
Espírito, não o impõe, mas sente a exigência indeclinável de o propor a todos
sem medo, com grande confiança e esperança, sabendo, porém, que a «boa nova»
conhece a linguagem da Cruz. É, no entanto, através da Cruz que a família pode
atingir a plenitude do seu ser e a perfeição do seu amor.

Desejo, por fim, convidar
todos os cristãos a colaborar, carinhosa e corajosamente, com todos os homens
de boa vontade, que vivem a responsabilidade própria no serviço à família. Os
que dentro da Igreja, em seu nome e sob a sua inspiração, quer individualmente
quer em grupos, movimentos ou associações, se consagram ao bem da família,
encontram muitas vezes a seu lado pessoas e instituições empenhadas no mesmo
ideal. Na fidelidade aos valores do Evangelho e do homem e no respeito a um
legítimo pluralismo de iniciativas, esta colaboração poderá favorecer uma mais
rápida e integral promoção da família.

E agora, ao concluir esta
mensagem pastoral, que visa chamar a atenção de todos sobre as pesadas mas
fascinantes tarefas da família cristã, desejo invocar a protecção da Família de
Nazaré.

Por misterioso desígnio de
Deus, nela viveu o Filho de Deus escondido por muitos anos: é, pois, protótipo
e exemplo de todas as famílias cristãs. E aquela Família, única no mundo, que
passou uma existência anónima e silenciosa numa pequena localidade da
Palestina; que foi provada pela pobreza, pela perseguição, pelo exílio; que
glorificou a Deus de modo incomparavelmente alto e puro, não deixará de ajudar
as famílias cristãs, ou melhor, todas as famílias do mundo, na fidelidade aos
deveres quotidianos, no suportar as ansias e as tribulações da vida, na
generosa abertura às necessidades dos outros, no feliz cumprimento do plano de
Deus a seu respeito.

Que São José, «homem justo»,
trabalhador incansável, guarda integérrimo dos penhores que lhe foram
confiados, as guarde, proteja e ilumine.

Que a Virgem Maria, Mãe da
Igreja, seja também a Mãe da «Igreja doméstica» e, graças ao seu auxílio
materno, cada família cristã possa tornar-se verdadeiramente uma «pequena
Igreja», na qual se manifeste e reviva o mistério da Igreja de Cristo. Seja
Ela, a Escrava do Senhor, o exemplo de acolhimento humilde e generoso da vontade
de Deus; seja Ela, Mãe das Dores aos pés da Cruz, a confortar e a enxugar as
lágrimas dos que sofrem pelas dificuldades das suas famílias.

E Cristo Senhor, Rei do
Universo, Rei das famílias, como em Caná, esteja presente em cada lar cristão a
conceder-lhe luz, felicidade, serenidade, fortaleza.

No dia solene dedicado à sua
Realeza, peço que cada família Lhe ofereça um contributo próprio, original para
a vinda no mundo do seu Reino, «Reino de verdade e de vida, de santidade e de
graça, de justiça, de amor e de paz», para o qual se encaminha a história.

A Ele, a Maria e a José
confio cada família. Nas suas mãos e no seu coração ponho esta Exortação: sejam
Eles a transmiti-la a vós, veneráveis Irmãos e dilectos filhos, e a abrir os
vossos corações à luz que o Evangelho irradia sobre cada família.

A todos e a cada um,
assegurando a minha constante prece, concedo de coração a Bênção Apostólica em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Dado em Roma, junto de São
Pedro, no dia 22 de Novembro de 1981, Solenidade de N. S. Jesus Cristo Rei do
Universo, quarto ano do meu Pontificado.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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