Existem falsos devotos de Nossa Senhora?

Mês de maio, mês de Maria. Muitos se dizem devotos da Santíssima Virgem, entretanto, São Luís Maria Grignion de Monfort afirma que existem muitas falsas devoções a Nossa Senhora, as quais passam por verdadeiras. Como identificá-las? Como ter realmente uma verdadeira devoção à nossa Mãe celestial e não ser ludibriado pelo maligno?

O demônio, como um falso moedeiro e enganador astuto e experimentado, tem já iludido e perdido inúmeras almas, sugerindo uma falsa devoção à Santíssima Virgem. Para dissimular seu diabólico trabalho, o espírito maligno procura falsificar as devoções a Jesus e Maria e à Eucaristia porque são estas como o ouro e a prata entre os metais.

Assim sendo, é de grande importância conhecer os sete tipos de falsos devotos de Nossa Senhora, descritos por São Luís Grignion de Monfort, grande santo mariano, em seu livro “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”.

1º Os devotos críticos

Os devotos críticos têm no fundo uma certa devoção à Santíssima Virgem, mas vivem criticando as práticas de devoção que as pessoas simples tributam de boa fé e santamente a esta boa Mãe.

Põem em dúvida todos os milagres e histórias narrados por autores dignos de fé, ou inseridos em crônicas de ordens religiosas, que atestam as misericórdias e o poder da Santíssima Virgem.

Quando alguém lhes repete os louvores admiráveis que os Santos Padres dão à Santíssima Virgem, respondem que são flores de retórica, ou exagero, que aqueles escritores eram oradores; ou dão, então, uma explicação má daquelas palavras.

Esta espécie de falsos devotos, orgulhosos e mundanos causam um mal infinito à devoção à Santíssima Virgem, dela afastando maliciosamente o povo, sob pretexto de destruir os abusos.

2º Os devotos escrupulosos

Os devotos escrupulosos são aqueles que receiam desonrar o Filho, honrando a Mãe, e rebaixá-Lo se a exaltarem demais.

Não podem suportar que se repitam à Santíssima Virgem aqueles louvores justíssimos que Lhe teceram os Santos Padres.

Não suportam ver que a multidão ajoelhada aos pés de Maria seja maior que ante o altar do Santíssimo Sacramento, como se fossem antagônicos, e como se os que rezam à Santíssima Virgem não rezassem a Jesus Cristo por meio dela.

Não querem que se fale tão frequentemente da Santíssima Virgem, nem que se recorra tantas vezes a Ela.

Dizem eles: cumpre recorrer a Jesus Cristo, pois é Ele o nosso único medianeiro; é preciso pregar Jesus Cristo, isto sim que é sólido!

Em certo sentido, é verdade o que eles dizem. Mas, pela aplicação que Lhe dão, é muito perigoso e constitui uma cilada sutil do maligno, sob o pretexto de um bem muito maior, pois nunca se há de honrar mais a Jesus Cristo, do que honrando a Santíssima Virgem, desde que a honra que se presta a Maria não tenha outro fim que honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo, e que só se vai a Ela como ao caminho para atingir o termo que é Jesus Cristo.

A santa Igreja, como o Espírito Santo, bendiz primeiro a Santíssima Virgem e depois Jesus Cristo: “bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto de Vosso ventre Jesus”.

Não porque a Santíssima Virgem seja mais ou igual a Jesus Cristo: seria uma heresia intolerável, mas porque, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, cumpre bendizer antes a Maria.

Leia também: A origem da devoção mariana

Razões do sucesso da devoção à Santíssima Virgem

A devoção mariana que ajudou Santa Teresinha do Menino Jesus contra a depressão

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda

Maio: Mês dedicado a Maria

O Culto a Maria

3º Os devotos exteriores

Devotos exteriores são as pessoas que fazem consistir toda a devoção à Santíssima Virgem em práticas exteriores; que só tomam interesse pela exterioridade da devoção à Santíssima Virgem.

Amam apenas o que há de sensível na devoção, sem interesse pela parte sólida. Se suas práticas não tocam a sensibilidade, acham que não há nada mais a fazer, ficam desorientados, ou fazem tudo desordenadamente.

O mundo está cheio dessa espécie de devotos exteriores que não têm uma interior e sincera devoção.

4º Os devotos presunçosos

Os devotos presunçosos são pecadores abandonados a suas paixões, ou amantes do mundo, que, sob o belo nome de cristãos e devotos da Santíssima Virgem, escondem ou o orgulho, ou a avareza, ou a impureza, ou a embriaguez, ou a cólera, ou a blasfêmia, ou a maledicência, ou a injustiça, etc…

Na realidade, dormem placidamente em seus maus hábitos, sem violentar-se muito para se corrigir, alegando que são devotos da Virgem; que prometem a si mesmos que Deus lhes perdoará, que Deus é bom e misericordioso e que não nos criou para nos condenar; que não há homem que não peque; que eles não hão de morrer sem confissão.

Não há, no cristianismo, coisa tão condenável como essa presunção diabólica; pois será possível dizer de verdade que se ama e honra a Santíssima Virgem, quando, pelos pecados, se fere, se traspassa, se crucifica e ultraja impiedosamente a Jesus Cristo, seu Filho?

Se Maria considerasse lei salvar essa espécie de gente, ela autorizaria um crime, ajudaria a crucificar e injuriar seu próprio Filho.

Ela quer que se vençam os maus hábitos para que não continuem no estado de pecado, obtendo de Deus a graça da contrição e do perdão dos pecados.

5º Os devotos inconstantes

Devotos inconstantes são aqueles que são devotos da Santíssima Virgem periodicamente, por intervalos e por capricho: hoje são fervorosos, amanhã, tíbios; agora mostram-se prontos a fazer tudo por Maria e logo após já não parecem os mesmos.

Abraçam logo todas as devoções à Santíssima Virgem e, em pouco tempo, já mudam como a lua. Eles são volúveis e indignos de ser contados entre os servidores desta Virgem fiel, que têm a fidelidade e a constância por herança.

6º Os devotos hipócritas

Os devotos hipócritas são os que cobrem seus pecados e maus hábitos com o manto desta Virgem fiel, a fim de passarem aos olhos do mundo por aquilo que não são.

7º Os devotos interesseiros

Os devotos interesseiros só recorrem à Santíssima Virgem para ganhar algum processo, para evitar algum perigo, para se curar de alguma doença, ou em qualquer necessidade desse gênero, sem o que A esqueceriam, não tendo, assim, aceitação diante de Deus e de sua Mãe Santíssima.

* * *

Cuidemos, portanto, de não pertencer ao número dos devotos críticos que em coisa alguma creem e de tudo criticam; dos devotos escrupulosos que receiam ser demasiadamente devotos da Santíssima Virgem, por respeito a Jesus Cristo; dos devotos exteriores que fazem consistir toda a sua devoção em práticas exteriores; dos devotos presunçosos, que, sob o pretexto de sua falsa devoção continuam enrolados em seus pecados; dos devotos inconstantes que, por leviandade, variam suas práticas de devoção, ou as abandonam completamente à menor tentação; dos devotos hipócritas que se metem em confrarias e ostentam as insígnias da Santíssima Virgem a fim de passar por bons; e, enfim, dos devotos interesseiros, que só recorrem à Santíssima Virgem para se livrarem dos males do corpo ou obter bens temporais.

Verdadeiro devoto

Qual deve ser, então, a atitude dos verdadeiros devotos, filhos e escravos de amor de Maria? Ter uma profunda compenetração da importância das graças que Nossa Senhora quer derramar sobre eles. De que modo? Tendo uma total confiança n’Ela! Confiar significa crer no amor superabundante e gratuito de Nossa Senhora, o qual desce de muito alto e nos converte.

O verdadeiro devoto nunca deixa de rezar a Nossa Senhora. É preciso invocá-La continuamente; é necessário que a Ela sempre recorramos, principalmente nos momentos difíceis de nossa existência; seja nas horas de tentações, de provações, angústias e sofrimentos, seja nos problemas comuns de todos os dias. Ela cuida de cada um dos seus filhos e está sempre pronta a ajudar-nos na nossa santificação e conduzir-nos para junto do Seu Divino Filho.

Fonte: https://gaudiumpress.org/content/existem-falsos-devotos-de-nossa-senhora/

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
Adicionar a favoritos link permanente.