Enigma eterno

À medida que vou amadurecendo em experiência de vida – sem ser pessimista, mas muito realista – percebo uma situação que me intriga. É a presença do mal, dando a aparência de um fio misterioso, entrelaçando  todas as camadas da existência humana. Os primeiros escritores do cristianismo chamavam a isso de “mysterium iniquitatis” (mistério da iniquidade).

Não dá para entender. “Senhor, não semeaste  semente boa? Donde veio o joio? (Mt 13, 26). E vejam que aqui nem estou falando dos males físicos: enchentes, vendavais, doenças incuráveis, secas e epidemias. Refiro-me ao mal que nasce de nossa liberdade, e se aninha nos corações. Trata-se do pecado, que endurece a vida e estiola o encanto da existência.

Quem não se acabrunha, ao fazer os mais nobres planos, e vem alguém que, maldosamente, estraga tudo? Quem não fica deprimido, dentro da vida social de uma nação, quando aparecem os espertos ladrões da república, e fazem desaparecer, sem deixar rasto, o dinheiro que é de todos? Um marido egoísta e encrenqueiro amargura a vida de toda a família. Uma mulher que espalha boatos maldosos, é fonte de muitas discórdias. Uma comunidade, onde se instala a mentira e a inimizade, amargura todos os corações bem intencion ados e fiéis.

Fico pensando nos tantos ambientes hostis que se formam, e puxam toda a vida das pessoas para baixo. Como o mundo seria diferente se homem e mulher se entendessem melhor; se dentro de uma comunidade paroquial reinasse soberana, a harmonia; se não fôssemos tão violentos e vingativos; se não procurássemos destruir o bem feito pelos outros.

Esses males vem do nosso íntimo, onde está instalado o pecado. Não foi o Criador que deu existência ao mal. Nossa maldade é apenas uma ausência da bondade, ou limitação da perfeição. Mas uma conclusão que ficou muito tempo silenciosa em mim, e que me vejo forçado a externar: quem concorre m uito para praticarmos o mal, é também a influência de satanás. Alguém ficou assustado? A Escritura me ensina: “Foi algum inimigo que fez isso” (Mt 13,28). E então, estamos desamparados diante desse poder espertíssimo?  Não. A resposta nos vem de Cristo: “O Deus da paz não tardará em esmagar satanás debaixo dos pés de vocês” (Rm 16, 20).

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Dom Aloísio Roque Oppermann, scj
Arcebispo de Uberaba-MG

e-mail: domroqueopp@terra.com.br

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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