Em Mar Musa, oito dias de jejum e oração

Pelo milagre da reconciliação na Síria

ROMA, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Oito dias de jejum, oração e sakina (a paz que Deus inspira na alma) para “suplicar a Deus Excelso, Pai de Misericórdia, que dê a reconciliação aos cidadãos, fundamentada na escolha comum pela não-violência como único método de garantir uma reforma duradoura, sem resvalar para a guerra civil e para o círculo vicioso da vingança”: este é o compromisso e o chamamento da Comunidade de Deir Mar Musa, na montanha síria de Nebek.

O mosteiro de Mar Musa, construído a quase 1.300 metros de altura em uma área semidesértica, oitenta quilômetros ao norte de Damasco, remonta ao século VI. Restaurado em 1984 por iniciativa do padre jesuíta Paolo Dall’Oglio, hoje ele acolhe uma comunidade monástica dedicada à oração e ao diálogo inter-religioso. A comunidade recebe centenas de visitantes e peregrinos todos os anos e se dedica a atividades pecuárias e artesanais em colaboração e apoio à comunidade local. Essa atividade e a paciente construção de relações entre as comunidades cristã e islâmica estão gravemente comprometidas por causa da situação atual do país, marcada pela repressão às manifestações que pedem reformas como a liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos.

A iniciativa de oração acontecerá de 23 a 30 de setembro, dando resposta a um convite de Bento XVI no Ângelus de 7 de agosto passado: “Convido os fiéis católicos a rezar até que o esforço pela reconciliação prevaleça sobre a divisão e o rancor. Renovo às autoridades e à população síria um chamamento urgente para que se restabeleça o quanto antes a convivência pacífica e se responda adequadamente às aspirações legítimas dos cidadãos, no respeito das suas dignidades e em benefício da estabilidade regional”.

“Convidamos a esses dias de jejum, oração e sakina”, afirma a Comunidade de Mar Musa, “porque a nossa postura não pode prescindir do ascetismo, do desprendimento de todo interesse particular em contradição com o bem comum. Serão dias de encontro e de intercâmbio de opinião na calma e no respeito pela dignidade de todo indivíduo e das suas opiniões”.

“Damos as boas-vindas a todos os irmãos e irmãs, aos cidadãos que pretendem participar neste tempo bendito nos limites das suas possibilidades. Sua simples visita já será muito cara ao nosso coração”.

O milagre da reconciliação para a Síria: é isto o que roga a Deus a Comunidade de Mar Musa, com a ajuda de todos. “Esperemos que todos os nossos irmãos, amigos e cidadãos da Síria, de qualquer orientação, nos acompanhem neste ato de devoção. Choramos todos os nossos mártires, nossos filhos, irmãos e pais… Esperamos tocar o coração de todos os que cederam ao uso da violência, justificando-o com o pretexto do medo, do interesse, do dever, da religião ou da ideologia”.

“Nosso país está ferido e as almas estão cheias de sentimentos de injustiça sofrida e de medo do outro. Cada pessoa vê a outra como um perigo para a comunidade, como um inimigo da pátria. Custam a reconhecer-se como seres humanos semelhantes, que têm os mesmos direitos e dignidades, mesmo quando tenham prejudicado a si mesmos. O extremismo nos esmaga, destrói o espaço do possível acordo nacional no âmbito da vida social comum e empurra as pessoas a se dividirem também no interior da própria casa, do próprio mosteiro. Isto conduz à justificação da violência em cada um de nós, de um modo ou de outro, conforme o grupo ao qual acreditamos pertencer”.

Preocupa a pergunta: “Como sair desta voragem assassina, que desnatura a nossa humanidade comum? Como podemos, por um lado, fazer as reformas que se esperam em prol de todos, se mantemos, por outro lado, os aspectos do passado a que as pessoas se aferram? Como poderemos dialogar se as duas partes consideram uma à outra mentirosa, inimiga da pátria e da humanidade?”.

Nenhuma situação carece de esperança, porém, quando nos confiamos ao “Deus Amigo dos Homens”.

“A reconciliação, segundo o nosso ponto de vista, tem várias portas, embora também elas sejam objeto de diálogo e de negócio”. A esperança é que se abra “a porta da liberdade de expressão e de imprensa, que cresça a ética dos meios de comunicação no exterior e no interior do país. Hoje é de fato impossível, para qualquer país, ilhar-se da sociedade global. Devemos, então, procurar um mínimo de objetividade, através da pluralidade midiática mundial, conscientes dos seus limites e agindo contra eles”.

A segunda porta é representada “pelo desejo de alcançar um nível de consciência que permita resolver os conflitos sem a violência na maior parte das ocasiões e das situações. Por isso rejeitamos qualquer proposta de intervenção estrangeira armada, como qualquer ataque terrorista no interior do país, e não podemos aceitar o uso da violência para reprimir o movimento pacífico de reivindicação democrática”.

O povo sírio precisa do apoio da comunidade internacional. Se nos princípios da Carta das Nações Unidas está o da proibição de interferência nos assuntos internos de um país soberano, “consideramos necessário acrescentar outro princípio, o da solidariedade global pelo bem de todos os povos e de todos os indivíduos”.

A nota conclui com um chamado a todas as partes da causa: “Rezemos a Deus que conceda ao presidente da República e ao Governo sírio a sabedoria e a lucidez necessárias para superar a crise”.

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Por Chiara Santomiero

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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