Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 268 – Ano 1983 p. 177
(Jo 19,27)
Maio é o mês dedicado pela
piedade católica a Maria SS (…) Ora em nenhuma outra fonte como na S. Escritura
aparece imagem mais bela da Virgem-Mãe. Detenhamo-nos apenas no Evangelho
segundo São João.
Maria aí aparece tão somente
no limiar (Caná) e no fim da vida pública (Calvário) de Jesus. Estes dois
episódios constituem como que a moldura da missão do Senhor.
Sim. Nas bodas de Caná,
Maria observa em dado momento que falta o vinho. Depois de o haver comunicado a
Jesus, diz aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Tal palavra de
Maria faz eco à Palavra do Pai proferida por ocasião do Batismo de Jesus:
“Ouvi-o!”. São João não nos relata a cena do Batismo nem, por conseguinte, a
voz do Pai, mas faz-nos ouvir através de Maria essa ordem do Pai: “Ouvi-o!”
No Calvário, Maria aparece
como a Mãe dolorosa. Ela sofre por ver o Filho crucificado. Tais dores, porém,
se tornam dores de parto, dores que geram a vida. Com efeito, diz-lhe Jesus,
apontando para João: “Eis o teu Filho”; e a João diz o Senhor, acenando para
Maria: “Eis a tua Mãe!” (Jo 19,25-27). E daquela hora em diante o discípulo a
levou para a sua casa. Tal era a Hora de Maria. A sua maternidade em relação a
Jesus se prolongaria na maternidade que lhe tocaria em relação a todos os
homens, contidos no seu seio quando Jesus, Cabeça do Corpo Místico, lá estava
contido.
O papel de Maria como Mãe no
IV Evangelho explica de certo modo por que São João nunca a designa por seu
nome “Maria”. Fato estranho: São Marcos menciona uma vez este nome: São Mateus,
cinco; São Lucas, treze vezes (doze no Evangelho, e uma nos Atos dos
Apóstolos), ao passo que São João nunca… Este traço surpreende se elucida se
consideramos que o nome “Maria” era assaz usual entre os judeus: o IV Evangelho
mesmo refere Mária de Cléofas, Maria Madalena, Maria de Betânia… O título que
caracterizaria Maria SS. Deveria ser outro, para São João seria o de Mãe,… Mãe
de Jesus e Mãe de todos os homens! Assim no IV Evangelho Jesus aparece marcado
pelo seu relacionamento singular com o Pai (“Meu Pai, o Pai que me enviou, o
Pai que me ama…”) e pela sua união filial a Maria.
Possamos nós nestes mês de
maio tornar-nos cada vez mais, como Jesus, todos voltados para o Pai e
devotados filialmente a Maria!