Egito: convivência religiosa está ameaçada

Recentes
confrontos violentos entre manifestantes coptos e policiais

ROMA,
terça-feira, 7 de dezembro de 2010 (ZENIT.org) – Dois mortos, cerca de 50 feridos (incluindo 7
oficiais e 11 policiais) e mais de 150 pessoas detidas: este é o balanço dos
confrontos entre manifestantes coptos e as forças da ordem, ocorridos
recentemente na sede do governo de Gizé, ao sul do Cairo.

O protesto,
que contou com a presença de cerca de dois mil membros da comunidade copta,
segundo a agências AsiaNews 
(25 de novembro), foi causado pelas contínuas tentativas das autoridades locais
de impedir o trabalho da nova igreja dos Santos Maria e Miguel, em fase de
conclusão na área de Talbiya, na região das Pirâmides.

Conforme
relatado pela agência AsiaNews, desde o início de novembro, as autoridades
locais tentam impedir, com vários pretextos legais, as últimas obras do
edifício. Apesar de a comunidade copta sustentar que tem todos os documentos
corretos e as autorizações necessárias para completar a estrutura, segundo as
autoridades locais, as licenças em questão não falam de uma igreja, mas de um
centro social.

Na região,
vive, de fato, quase um milhão de coptos, mas não há nenhuma igreja, exceto a
que está em obras. De
acordo com um relatório do governo, em todo o Egito há 93 mil mesquitas, mas
apenas 2 mil igrejas.

O protesto,
que reflete a crescente raiva e frustração por parte dos cristãos, chega em um
momento difícil das relações entre a Igreja copta e a maioria muçulmana. Os
coptos, que constituem uma das mais antigas comunidades cristãs do Oriente
Médio e certamente hoje a mais numerosa, realmente se consideram cidadãos de
segunda classe em seu país. De fato, nos últimos meses, têm aumentado as
tensões entre as duas comunidades.

Um exemplo
da atmosfera explosiva é a notícia transmitida em 16 de agosto pela imprensa
egípcia, segundo a qual as forças de segurança interceptaram um navio com
“explosivos” (na verdade, eram fogos de artifício) procedentes de
Israel e pertencentes a Joseph Boutros Al-Jabalawi, filho de um líder da Igreja
copta em Port Said.

Um mês
depois, no entanto, estourou o “caso Bishoy”. Em entrevista ao jornal
egípcio Al-Masri Al-Yawm, o bispo Anba Bishoy, secretário do Santo Sínodo e
número 2 da Igreja copta, disse que os muçulmanos são “hóspedes” no
Egito.

A partir da
polêmica, o Centro de Pesquisa Islâmico do ateneu publicou um comunicado –
apoiado pelo grão-mufti do Egito, Ali Gomaa – no qual se declara que o Egito é
“um Estado muçulmano”. Já em 1980, a Assembleia Nacional declarou o Islã
como religião do Estado (Compass Direct News, 22 de novembro).

O mais
preocupante agora é que o clima tenso no Egito, com suas acusações, alimentadas
por supostos ataques contra o Islã, torna-se para a galáxia do terrorismo
islâmico internacional uma desculpa fácil para atacar os cristãos presentes no
mundo árabe, como já acontece em outros lugares.

Depois do
ataque no Iraque, em 31 de outubro, as autoridades egípcias reforçaram as
medidas de segurança em torno das igrejas. Os chefes de várias igrejas se
reuniram em 8 de novembro para discutir a questão da segurança dos fiéis, e o
próprio Papa Shenouda III cancelou a celebração do 39º aniversário da sua
eleição (Compass Direct News, 22 de novembro).

Tudo isso
acontece, portanto, em um momento muito delicado para o Egito. No domingo, 5 de
dezembro, foi realizado o segundo turno das eleições legislativas, boicotadas
pelas principais formações da oposição islâmica e leiga. Enquanto a coalizão de
ONG, a Independent Coalition for Elections’ Observation, lançou um apelo ao
presidente Hosni Mubarak para anular a votação, segundo os resultados
preliminares, o Partido Nacional Democrático (NDP) de Mubarak obteria pelo
menos 80% dos assentos no Parlamento do Cairo (Reuters, 6 de dezembro).

Em qualquer
caso, na nova assembleia, os representantes da minoria copta serão poucos. Na
melhor das hipóteses, serão, no máximo, 5 (de um total de 508 assentos, ou
seja, apenas 1%); e no pior dos casos, apenas 2, segundo revela o Al-Ahram
Weekly (5 de dezembro), em um artigo com título eloquente: “Egypt
elections obliterate Coptic voice”.

(Paul De
Maeyer)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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