Devemos ter filhos neste mundo cruel?

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“Uma nação sem filhos é uma nação sem futuro” Papa Bento XVI

Recentemente, recebi um e-mail de uma pessoa que se dizia desencorajada de colocar filhos neste mundo, tendo em vista a sua crueldade atual. Sei que muitas outras pessoas podem pensar da mesma forma; por isso coloco aqui esta reflexão e a posição da Igreja. Esta pessoa relatou o seguinte:

“Às vezes penso ser uma enorme injustiça e até uma gigantesca irresponsabilidade trazer um novo ser humano para este mundo tenebroso. Guerras, fome, tráfico de drogas, violência, competitividade alucinada, desemprego, doenças, falta de água… Falta de água! A que ponto chegamos! No planeta água não teremos mais água! Outro motivo para guerrear: guerra pela água potável. Como trazer uma criança para este mundo e permanecer com a consciência tranquila? Sou casado, minha esposa e eu queremos ter filhos. Mas como? Neste mundo? A Bíblia diz que filhos são bênçãos. Mas não seria muita desgraça para um ser inocente ser incluído neste mundo enlouquecido, perverso e adoecido?”

A Igreja, em todos os tempos, incentivou os casais a terem filhos, dentro da “Paternidade Responsável”; isto é: cada casal deve ter todos os filhos que puder educar bem; e não ter medo de tê-los por falta de fé, por comodismo ou por egoísmo; pois o casamento existe, em primeiro lugar, para gerar filhos para Deus: “gerar os futuros cidadãos do Céu”. “Crescei e multiplicai-vos”, é um mandamento que Deus deu ao casal cristão, não um conselho. Isto é uma missão do casal; não é algo facultativo, é compulsório, e nunca dependeu da situação do mundo, que sempre foi difícil. Hoje temos grandes problemas, mas temos muito mais recursos da tecnologia que antes. Se nossos antepassados tivessem medo de por filhos no mundo por causa dos problemas, a humanidade já teria se extinguido.

No dia do casamento o padre pergunta aos noivos: “Vocês estão dispostos a receber os filhos que Deus lhes enviar, educando-os na fé do Cristo e da Igreja?”. Se a resposta for não, o matrimônio é inválido.

O Papa Bento XVI disse certa vez que “uma nação sem filhos é uma nação sem futuro”. Os países da Europa e o Japão estão fazendo campanha para o aumento da natalidade, pois em todos esses países a população diminui. Eles não tem o índice mínimo de 2,1 filhos/casal, para manter a população; estão morrendo. Estão envelhecendo e o país sem jovens para trabalhar. Na Itália, por exemplo, em 2013 nasceram 510 mil crianças, 20 mil a menos que o ano anterior. No Brasil a situação não é diferente. Segundo índices do IBGE, de 2000 a 2014 a taxa de natalidade no país também teve uma queda considerável. Estamos hoje com cerca de 1,7 filhos/casal. No Japão há 330 pessoas por km2, no Brasil são apenas 20; somos um país desabitado comparado com a Europa e Japão.

O Papa Paulo VI também disse que: “O gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são os colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias, se bem que, algumas vezes, acompanhadas de não poucas dificuldades e angústias” (Humanae Vitae, n°1).

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O Papa Francisco numa de suas Catequeses sobre a família, dia 11 de fevereiro de 2015, falou muito sobre isso:

“Os filhos são a alegria da família, não um “problema”. Os filhos são um dom. Cada um é único e irrepetível, portanto, “não ter filhos é uma escolha egoísta”. Não ter filhos é uma escolha egoísta. A vida rejuvenesce e conquista energias multiplicando-se: se enriquece, não se empobrece!”. “Os filhos são um dom. Cada um é único e irrepetível; e ao mesmo tempo inconfundivelmente ligado às suas raízes. Ser filho e filha, segundo o desígnio de Deus, significa levar em si a memória e a esperança de um amor que se realizou justamente iluminando a vida de um outro ser humano, original e novo”… A alegria dos filhos faz palpitar os corações dos pais e reabre o futuro. Os filhos são a alegria da família e da sociedade. Não são um problema de biologia reprodutiva, nem um dos tantos modos de se realizar. E tão pouco uma posse dos pais. “Não, não!”. “Os filhos são um dom, são um presente: entendem?”… “Uma sociedade avarenta de gerações, que não ama circundar-se de filhos, que os considera, sobretudo uma preocupação, um peso, um risco, é uma sociedade deprimida”. Pensemos em tantas sociedades que conhecemos aqui na Europa: são sociedades deprimidas, porque não querem os filhos, não têm os filhos, o nível de nascimento não chega a um por cento. Por que? Cada um de nós pense e responda. Se uma família generosa de filhos é olhada como se fosse um peso, há algo errado! A geração dos filhos deve ser responsável, como ensina também a Encíclica Humanae vitae

O Papa destacou que “para os pais cada filho é si mesmo, é diferente” e contou uma lembrança de família:

“Permitam-me uma recordação de família. Eu me lembro da minha mãe, dizia a nós – éramos cinco -: ‘Mas eu tenho cinco filhos’. Quando lhe perguntavam: ‘Qual é o teu preferido’, ela respondia: ‘Eu tenho cinco filhos, como cinco dedos [mostra os dedos da mão] Se me batem neste, me faz mal; se me batem neste outro, me faz mal. Me faz mal em todos os cinco. Todos são filhos meus, mas todos diferentes como os dedos de uma mão’. E assim é a família! Os filhos são diferentes, mas todos filhos”.

“Um filho é um filho: uma vida gerada por nós, mas destinada a ele, ao seu bem, ao bem da família, da sociedade, de toda a humanidade”. E “daqui vem também a profundidade da experiência humana de ser filho e filha, que nos permite descobrir a dimensão mais gratuita do amor, que nunca termina de nos surpreender”.

O Papa explicou também que “são amados antes de chegarem”. “Quantas vezes as mães na praça me mostram a barriga e me pedem a benção… estas crianças são amadas antes de vir ao mundo. E esta é gratuidade, isto é amor”. São amados antes do nascimento, como o amor de Deus que nos ama sempre primeiro. São amados antes de terem feito qualquer coisa para merecê-lo, antes de saber falar ou pensar, até mesmo antes de vir ao mundo!. Portanto, “ser filhos é a condição fundamental para conhecer o amor de Deus, que é a fonte última deste autêntico milagre. Na alma de cada filho, por quanto vulneráveis, Deus coloca o selo deste amor, que está na base da sua dignidade pessoal, uma dignidade que nada e ninguém poderá destruir”.

Sobre a atualidade, disse que “hoje parece mais difícil para os filhos imaginar o seu futuro. Os pais deram talvez um passo para trás e os filhos se tornaram mais incertos em dar os seus passos adiante”.

Por sua parte, os filhos “não devem ter medo do empenho de construir um mundo novo: é justo para eles desejar que seja melhor que aquele que receberam! Mas isto deve ser feito sem arrogância, sem presunção. Dos filhos é preciso saber reconhecer o valor e aos pais se deve sempre dar honra”.

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Em outra ocasião, também recebi um testemunho de um casal amigo que me disse o seguinte:

“[…] estou escrevendo para o senhor porque vi sua palestra hoje de manhã domingo sobre a alegria de ter filhos. Vi o senhor falando da família Guatura, de Lorena, que tiveram 24 filhos e adotaram mais um. Não sei se o senhor sabe, mas, minha mãe teve 25 filhos. Eu sou o último, o caçula. E minha mãe teve todos normais, nenhum gêmeos, foram 25 gravidezes. Hoje somos 18 vivos. Ela tem 75 anos e mora em Pernambuco. Quero dizer que Deus nos sustentou em tudo. Não somos ricos ou tínhamos todos os brinquedos que queríamos, mas, nunca nos faltou o amor, o carinho e comida necessária para sobrevivermos. Eu louvo a Deus porque ele é generoso em todas as suas promessas e não nos deixa faltar nada. Quero aproveitar e dizer que casamos o ano passado eu e D. e já temos nossa filha de 4 meses; estamos abertos a vida aos filhos que Deus nos confiou. Um abraço. F. e D”.

O Catecismo da Igreja ensina:

“A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais” (§2373; GS, 50,2). “Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais” (§2378).

Será que ainda acreditamos nessas palavras da Igreja?

O Salmista canta: “Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas” (Sl 126,3).

Não podemos deixar que o medo do mundo, a falta de fé, o egoísmo ou o comodismo, eliminem o que há de mais valioso neste mundo: a vida criada à imagem e semelhança de Deus. Não há nada igual!

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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