Deus e o sentido da vida – EB (Parte 2)

A propósito vale a pena
citar o filósofo Arthur Schopenhauer:

“Na grande massa das
pessoas  comuns o pensamento não é um
espelho desinteressado da verdade, mas é um reflexo das paixões, dos interesses
e dos afetos” (citado por Leonel Franca, Por que existem homens que não crêem
em Deus, Ed. Mundo Cultural, São Paulo 1979, p. 189).

Os obstáculos à fé podem ser
superados, como atestam tantas pessoas inteligentes, cultas e religiosas.
Existe, portanto, uma resposta para o homem que tem sede de eternidade
(expressão esta muito repetida por D. Rafael).

Pergunta-se agora:: como se
concretiza essa caminhada do homem para o Eterno e Absoluto?

O autor do livro passa a
falar de Jesus Cristo.

Jesus Cristo

Muito a propósito D. Rafael
transcreve uma passagem do livro Jesus Mestre de Nazaré,  da autoria de Aleksandr Mien, sacerdote russo
ortodoxo:

“Os anais do mundo inteiro
contêm muitos fatos inexplicáveis, mas pode-se dizem com segurança que o
acontecimento mais incrível da história da humanidade é a vida do judeu Jesus
de Nazaré e o mistério que coroou esta vida. Não era quem considera que este
mistério vai além dos limites em que se move o conhecimento humano. Mas também
existem na ressurreição de Cristo fatos tangíveis que não estão fora do
horizonte profissional do historiador. No momento mesmo em que a Igreja recém-nascida
parecia morta para sempre, quando o edifício construído por Jesus se reduzira a
míseros escombros e seus próprios discípulos haviam perdido a fé, precisamente
naquela hora tudo se revirou de repente. Uma alegria exultante tomou o lugar do
desespero e da desconfiança, e aquelas mesmas pessoas que tinham acabado de
abandonar e renegar o Mestre, num instante começaram a proclamar com coragem a
sua vitória.

Deve ter acontecido algo
extraordinário, algo sem o qual o cristianismo hoje não existiria” (pp. 202s).

A transformação dos
Apóstolos aqui mencionada se deve ao fato de que eles viram realmente o Senhor
ressuscitado. Não estavam alucinados nem sonhavam com o retorno de Jesus; por
isto custaram a crer que era o Mestre que lhes aparecia. Muito significativo é
o caso de Tomé, que pediu provas da ressurreição para dizer-lhe “Creio” (Jo 20,
24-29). Comenta São Gregório Magno: “A incredulidade de Tomé foi mais
proveitosa para a nossa fé que a fé dos discípulos que acreditaram” (in
Evangelia, homilia 26).

O papel de Jesus Cristo é
marcante para todo homem que pensa:

“A humanidade se move dentro
das coordenadas dos sentidos e da razão, Cristo rompe essas fronteiras. Abre
horizontes de eternidade. A sabedoria terrena nos ajuda a descobrir os caminhos
de nosso planeta ou de nosso universo. Jesus não se detém aí. Traslada-nos a
outras perspectivas. Como Filho de Deus, fala-nos de nosso destino eterno, que
marca o verdadeiro sentido de nossa existência temporal. É assim que entendemos
que Ele apareça no cenário da história como personagem inigualável e
insubstituível” (pp. 209s).

A alegria de viver

Quem toma consciência de que
a vida tem sentido, cria em seu íntimo disposições de coragem e alegria para
viver. Acontece, porém, que muitos daqueles que professam a fé em Deus são
incoerentes:

“O mais dramático da
situação atual… é que a maioria das pessoas vai arrastando a vida da maneira
mais gostosa, vai escondendo a cabeça  em
terra como o avestruz, atordoando-se com a diversão ou com o trabalho, embriagando-se
com a bebida, o sexo ou a droga, metalizando e endurecendo a sensibilidade com
o dinheiro… e depois não deixa de ir a uma Missa de sétimo dia de um parente
ou amigo falecido, ou de ter uma lembrança saudosa de Deus pelo Natal, ou
talvez ensaie uma oração de vez em quando… especialmente nos momentos de
aperto (…)

É assim que se vai vivendo,
arrastando essa fé lânguida até que, de repente, aparece um descalabro
econômico, a doença que afeta a mãe, cônjuge ou o filho, a morte de um ser
querido…, e a fraca estrutura desaba, fica desconsolada, a frustração domina,
entra em depressão… E
a crise existencial aparece com toda a sua tremenda virulência (…)

Essa fé do “mais ou menos”,
aletargada, essa fé de manutenção, incoerente, nada resolve.

Repetiremos martelarmente: To
be or not to be. That’s the question  –
ser ou não ser cristão, esta é a questão. Não podemos viver de incoerências;
por isto dizemos que viver a fé pela metade é tanto como viver a vida pela
metade” (p. 291).

O sentido da vida se torna
ainda mais significativo quando se toma consciência de que Deus tem um desígnio
para cada criatura humana, desígnio que Ele torna conhecido mediante uma
vocação ou chamado. Cada ser humano reflete um pensamento de Deus. Aliás Ele
não somente chama, mas também concede a sua graça ou o seu auxílio para que
cada qual chegue devidamente à plena realização de si mesmo.

Importa à criatura responder
livremente, com toda a responsabilidade. Essa responsabilidade pode exigir
renúncias, impondo a superação de tendências cegas e primárias. Nada há de mais
próximo da irresponsabilidade do que pautar a vida pelo gosto e pelo prazer.

A renúncia não impede o
cristão de ter alegria: este é o sintoma mais preciso de um íntimo ajustamento
pessoal. Se a dor é o sinal – o censor – de um estado patológico, a alegria é o
indicador de um estado de plenitude vital.

D. Rafael termina seu livro
dissertando longamente sobre a necessária “perene juventude” do cristão:

“A juventude não é uma época
da vida, é um estado da alma. Mas se um estado da alma evidentemente não se
pode cronometrar na esfera do relógio ou nas páginas do calendário nem se
avaliar com um eletrocardiograma, qual será a medida adequada para
dimensioná-lo? (…)

Sem dúvida diríamos que esta
medida depende da atitude mental que em cada ser humano suscita a perspectiva
do futuro: é jovem aquele que espera muito do futuro; que sabe projetar ante
seus olhos grandes horizontes existenciais; que é capaz de utilizar o passado e
o presente como um trampolim para o futuro. É velho um homem de futuro débil,
apagado, cujo campo visual está limitado pelas mesquinhas pretensões do
utilitário e do imediato; é um homem decepcionado da vida; o passado não
representa para ele algo que o empurra para a frente, mas algo que o amarra a
um saudosismo melancólico; o futuro não o magnetiza, mas o deixa apreensivo.

O jovem vive de esperanças.
O velho perde a sua vida nas lembranças (…).

A juventude se define pelo
otimismo e o pessimismo configura a velhice” (p. 351).

Mais adiante o autor volta à
temática:

“A juventude tem espírito
esportivo… O cristão sempre tem futuro; sempre corre nas olimpíadas da vida
para poder subir no podium da realização eterna; não se contenta com o
presente, sente-se removido pelo desejo de entrar na possessão do Amor Eterno;
ouve continuamente em seus ouvidos estes apelos: “Corre sem desanimar”,
“Progride sempre!”, “Não meças esforços!”, “Vale a pena!”, “Adiante”, “Para a
frente!”, “Mais, mais e mais!”, que acendem, encorajam e animam. É o síndrome
do verdadeiro atleta que lateja no peito de cada um de nós.

Quem está impregnado do
otimismo cristão, não se impressiona com os aparentes fracassos e demoras, sabe
esperar, sabe aguardar a sua realização eterna, que com a passagem do tempo já
está sendo construída de alguma maneira nesta vida temporal. Está convencido de
que nosso Pai chama os seus filhos com força do alto. Quer-nos dar o abraço
definitivo, estreitando-nos paternalmente no seu amor, na sua beleza, na sua
infinita alegria e isto suscita na alma um clamor de esperança, apesar das
contrariedades” (p. 366).

Em suma, o livro de D.
Rafael merece ser lido mesmo por aqueles que têm fé.

 

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¹ Deus e o Sentido da Vida, edição
própria, Rio de Janeiro 2001, 130 x 210 mm, 388 pp. Pedidos sejam endereçados à
Caixa Postal 1362, 20001-970 Rio (RJ).

    

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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