Decreto “Apostolicam Actuositatem” Sobre o Apostolado dos Leigos – Parte 4

Capítulo IV :            
Modalidades
Diversas do Apostolado

Os leigos podem realizar seu apostolado quer
individualmente, quer reunidos em vários tipos de comunidades ou associações.

O apostolado individual, brotando abundantemente da fonte
de vida verdadeiramente cristão (cf. Jo 4,14), constitui o princípio e a
condição de todo apostolado leigo, inclusive o associativo, e nada pode
substituí-lo.

Para tal apostolado, sempre e por toda parte fecundo, e
em algumas circunstâncias o único adequado e possível, são chamados todos os
leigos, de qualquer condição, e a ele estão mesmo obrigados, ainda que lhes
falte ocasião ou possibilidade de cooperarem em grupos.

Muitas são as formas de apostolado pelas quais os leigos
edificam a Igreja, santificam e animem em Cristo o mundo.

Forma característica do apostolado individual e
igualmente sinal bem adaptado aos nossos tempos – pois manifesta o Cristo vivo
em seus fiéis – é o testemunho de toda a vida leiga, emanando da fé, esperança
e caridade.  Pelo apostolado da palavra
porém – de todo indispensável em certas circunstâncias – os leigos anunciam
Cristo, elucidam Sua doutrina, difundem-na cada qual segundo a sua condição e
habilidade e professam-na com fidelidade.

 

 

 Compreendo além disso, na qualidade de cidadãos deste
mundo, nas questões de edificação e gestão da ordem temporal, é mister que na
vida familiar, profissional, cultural e social, os leigos investiguem as razões
mais profundas da ação à luz da fé e, havendo oportunidade, as desvendem a
outros, conscientes de que assim se fazem cooperadores do Deus criador,
redentor e santificador, e a Ele rendem homenagem.

Por fim, vivifiquem os leigos sua vida pela caridade e
exprimam-na por obras na medida de suas forças.

Lembrem-se todos que, pelo culto público e pela oração,
pela penitência e pela oração, pela penitência e pela livre aceitação dos
trabalhos e misérias da vida, atitude que os torna conformes com o Cristo
Sofredor (cf. 2Cor 4,10; Col 1,24), poderão atingir os homens todos e cooperar
para a salvação do mundo inteiro.

[Apostolado Individual em Determinadas
Circunstâncias]

Este apostolado individual se impõe de maneira iniludível
nas regiões em que a liberdade da Igreja se acha seriamente afetada.  Em circunstâncias assim bem difíceis, os
leigos, fazendo as vezes dos sacerdotes enquanto podem, expondo sua liberdade e
por vezes a vida, ensinam àqueles que os cercam a doutrina cristã, formam-nos
para a vida da religião e a mentalidade católica, levam-nos à recepção
freqüente dos sacramentos e ao cultivo da piedade e em especial da piedade
eucarística.1  O Sacrossanto Sínodo,
enquanto do imo d’alma rende graças a Deus, que também em nossos tempos não
deixa de suscitar, em meio ás perseguições, leigos de coragem heróica,
abraça-os com afeto paterno e grato ânimo.

1  Cf. Pio XII, Discurso ao I Congresso
Internacional do Apostolado Leigo, de 15-1-1951: AAS 43 (1951), p. 788.

O apostolado individual encontra em campo especial nas
regiões onde os católicos são poucos e vivem dispersos.  Aí os leigos, que exercem o apostolado apenas
individualmente, seja pelas razões acima citadas, seja por motivos especiais
provenientes da própria dedicação profissional, reúnem-se no entanto
oportunamente para uma troca de idéias 
em grupos menores, sem forma mais rígida de Instituição ou organização,
de sorte que diante dos outros apareça sempre um sinal da comunidade da Igreja,
como testemunho verdadeiro de amor. 
Deste modo, pela amizade e intercâmbio de experiências, ajudando-se
espiritualmente uns aos outros, robustecem-se, para enfrentarem os incômodos da
vida e da ação por demais isolada e para produzirem frutos mais abundantes de
apostolado.

[Importância do Apostolado
de Grupo]

Os cristãos são chamados, como indivíduos, a exercerem o
apostolado nas diversas circunstâncias de sua vida.  Lembrem-se no entanto que o homem é por
natureza social e aprouve a Deus reunir os fiéis em Cristo num povo de Deus
(cf. 1Ped 1, 5-10) e num só corpo (cf. 1Cor 12,12). O apostolado de grupo
corresponde assim satisfatoriamente à exigência dos fiéis tanto do ponto de
vista humano quanto cristão, exprimindo ao mesmo tempo o sinal da comunhão e da
unidade da Igreja em Cristo, que disse: “Onde estiverem dois ou três reunidos
em Meu nome, aí estou no meio deles”. (Mt 18,20).

Exerçam pois os fiéis o apostolado em espírito de
unidade.2  Façam-se apóstolos tanto em
suas comunidades familiares quanto nas paróquias e diocesanas – comunidades que
por sua vez exprimem a índole comunitária do apostolado – como também em
agrupamentos livres aos quais decidiram agregar-se.

2  Cf. Pio XII: Discurso ao I Congresso
Internacional do Apostolado Leigo, de 15-10-1951: AAS 43 (1951), pp. 787-788.

O apostolado de grupo é de grande importância também
porque, nas comunidades da Igreja ou em diversos ambientes, muitas vezes exige
que seja realizado por uma ação comum. 
Os grupos constituídos para a ação apostólica comunitária sustentam seus
membros e os formam para o apostolado, organizam e dirigem seu trabalho
apostólico, de forma a se poder esperar daí frutos bem mais abundantes do que
no caso de agirem todos em separação.

Nas atuais circunstâncias, pois, é de extrema necessidade
que no ambiente da atividade dos leigos se fortaleça a forma de apostolado em
grupo organizado.  É só a união estreita
de forças que pode atingir plenamente os fins todos do apostolado moderno e
ainda defender vigorosamente seus benefícios.3 
Nesta linha interessa particularmente que o apostolado também atinja a
mentalidade comum e as condições sociais daqueles a quem se dirige.  Em caso contrário muitas vezes não estarão à
altura da pressão, seja por parte da opinião pública seja por parte das
instituições.

[Modalidades do Apostolado
em Grupo]

Grande é a variedade que existe entre as associações de
apostolado.4  Visam umas a finalidade
apostólica da Igreja, de maneira geral; outras de maneira particular os
objetivos da evangelização e santificação: outras têm um mira a animação cristã
da ordem temporal; outras dão seu testemunho de Cristo, de modo específico,
pelas obras de misericórdia e caridade.

4  Cf. Pio XII, Alocução ao Conselho da
Federação Internacional de Homens Católicos, de 6-12-1956: AAS 59 (1957), pp.
26-27.

Nestes grupos merecem consideração especial os que
cultivam e põem em relevo a unidade mais íntima entre a vida prática dos
membros e a fé dos mesmos.  Os grupos não
constituem fim em si próprios, mas hão de servir ao cumprimento da missão da
Igreja no tocante ao mundo.  Seu vigor
apostólico dependerá de conformidade com os fins da Igreja e do testemunho
cristão e espírito evangélico de cada um dos membros e do grupo todo.

A tarefa universal da missão da Igreja, considerando-se
ao mesmo tempo o progresso das Instituições e a marcha impetuosa da sociedade
hodierna, exige que as iniciativas apostólicas dos católicos aperfeiçoem sempre
mais suas associações no campo internacional. 
As Organizações Internacionais Católicas atingirão melhor sua
finalidade, se os grupos que a elas se incorporam, assim como seus membros se
unirem mais intimamente a elas.

  Salva a devida relação com a
autoridade eclesiástica5, é direito dos leigos fundarem grupos6 e
dirigirem-nos, bem como inscreverem-se nos existentes.  Deve no entanto evitar-se a dispersão de
forças, que se dá quando se promovem novas associações e obras sem motivo
suficiente ou quanto se conservam associações de vida já inútil ou de método
antiquado.  Nem sempre será oportuno
transferir sem mais para outras nações formais instituídas em outras.7

5  Cf. abaixo cap. V, n. 24.

6 Cf. S. C. do Concílio,
Resolução Corrienten., de 13-11-1920:  AAS
13 (1921), p. 139.

7 Cf. João XXIII, Enc.
Princeps Pastorum, de 10-12-1959: AAS 51 (1959), p. 856.

[A Ação Católica]

Há não poucos decênios, em diversas nações, os leigos,
consagrando-se cada vez mais ao apostolado, reuniram-se em várias formas de
atividade e de grupos que, mantendo uma mais estreita relação com a Hierarquia,
visavam e ainda visam fins propriamente apostólicos.  Entre essas instituições ou entre as
similares que, mesmo por métodos diversos de trabalho, apresentaram no entanto
os mais abundantes frutos para o reino de Cristo.  Devidamente recomendadas e promovidas pelos
Sumos Pontífices e por muitos Bispos, por eles foram denominados Ação Católica
e muitíssimas vezes descritas como cooperação dos leigos no apostolado
hierárquico.8

8  Cf. Pio XI, Carta quae nobis, ao Card.
Bertram, de 13-1-1928:  AAS 20 (1928), p.
385.  Cf. também Pio XII, Aloc. À A.C.
Italiana, de 4-9-1940:  AAS 32 (1940), p.
302.

Estas formas de apostolado, quer levem o nome de Ação
Católica quer outro, as quais exercem em nosso tempo um apostolado precioso,
estão constituídas pelas seguintes características, tomadas em conjunto.

A finalidade imediata de tais organizações é a finalidade
apostólica da Igreja, ou seja, evangelizar e santificar os homens e formar-lhes
cristãmente a consciência, para assim conseguirem impregnar com o espírito do
Evangelho as diversas comunidades e os diversos ambientes;

Os leigos, cooperando segundo o modo próprio deles com a
hierarquia, apresentam sua experiência e assumem a responsabilidade na direção
destas organizações, na apreciação das condições nas quais se deva exercer a
ação pastoral da Igreja, como também na elaboração e execução do planejamento;

Os leigos agem unidos, à maneira de um corpo orgânico,
para assim significar  de modo mais
apropriado a comunidade da Igreja e tornar mais eficaz o apostolado;

Os leigos, quer oferecendo-se espontaneamente, quer
convidados para a ação e cooperação direta com o apostolado hierárquico, agem
sob a superior orientação da mesma 
Hierarquia, que pode confirmar esta cooperação também por mandato
explícito.

As organizações em que, a juízo da Hierarquia, tais
características se encontrarem reunidas, devem considerar-se Ação Católica,
mesmo que por causa das exigências dos lugares e povos assumam várias formas e
nomes.O Sacrossanto Concílio recomenda insistentemente estas
instituições que, em muitas nações, respondem certamente às necessidades do
apostolado da Igreja: convida sacerdotes e leigos, que nelas trabalham, a
tornarem mais e mais realidade as notas acima enunciadas, e cooperem sempre
fraternalmente na Igreja com todas as demais formas de apostolado.

[Valor das Associações]

Todos os agrupamentos de apostolado merecem estima;
aqueles porém que a hierarquia, segundo as necessidades dos tempos e lugares,
citar ou recomendar ou decretar como mais urgentes a serem instituídos, devem
ser tidos em alto apreço pelos sacerdotes, religiosos e leigos e promovidos
segundo a forma que lhes é própria. 
Entre estas porém merecem figurar, hoje em dia, sobretudo, as
organizações e grupos internacionais dos católicos.

[Leitos que a Título
Especial servem à Igreja]

Dignos de honra e apreço especial na Igreja não os
leigos, quer celibatários, quer casados, que se dedicam com sua habilidade
profissional, ou para sempre, ou para algum tempo, ao serviço das Instituições
e de suas obras.  Causa-lhe grande
alegria o fato de diariamente crescer o número de leigos que oferecem seu
serviço às associações e às obras de apostolado, seja dentro dos limites de sua
nação, seja no campo internacional, seja sobretudo nas comunidades católicas
das missões e das igrejas novas.

Acolham os pastores da Igreja a esses leigos com alegria
e gratidão.  Cuidem que a situação deles
corresponda o melhor possível ás exigências da justiça, eqüidade e caridade,
sobretudo quanto no sustento honesto, deles e de suas famílias, e que eles
próprios desfrutem da necessária formação, consolo e incentivo espiritual.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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