Decreto “Apostolicam Actuositatem” Sobre o Apostolado dos Leigos – Parte 3

CAPÍTULO III:  CAMPOS DE APOSTOLADO

Os leigos exercem seu apostolado múltiplo tanto na Igreja
quanto no mundo.  Em ambas essas esferas
abrem-se campos diversos de atividade apostólica.  Dentre eles queremos lembrar aqui os mais
importantes, como sejam: as comunidades da Igreja, a família, os jovens, o
ambiente social, a esfera nacional e internacional.  Uma vez porém que em nossos dias as mulheres,
cada vez mais, tomam parte mais ativa em toda a vida da sociedade, é de grande
importância sua participação mais ampla também nos vários campos de apostolado
da Igreja.

[As Comunidades da Igreja]

Como participantes do múnus de Cristo sacerdote, profeta
e rei, os leigos participam ativamente na vida e na ação da Igreja.  No interior das comunidades da Igreja sua
ação é tão necessária que sem ela o próprio apostolado dos pastores não
poderia, muitas vezes, alcançar o seu pleno eleito.  Leitos de verdadeiro espírito apostólico, à
maneira daqueles homens e senhoras que ajudavam a Paulo no Evangelho (cf. At
18,18,26; Rom 16,3), suprem o que falta a seus irmãos e reerguem o ânimo tanto
dos pastores quanto do restante povo fiel 
(cf. 1Cor 16, 17-18).  Pois eles,
nutridos pela participação ativa na vida litúrgica de sua comunidade, tomam
parte, de maneira solícita, nas suas obras apostólicas; trazem para a Igreja os
homens que porventura dela se encontram afastados; colaboram intensamente na
transmissão da palavra de Deus, em especial pela obra da Catequese; pondo à
disposição sua competência, tornam mais eficaz a cura d’almas e a administração
dos bens da Igreja.

A paróquia apresenta um exemplo luminoso do apostolado
comunitário, congregando num todo as diversas diferenças humanas que encontra e
inserindo-as na universalidade da Igreja.1 
Habituem-se os leigos a trabalhar na paróquia, intimamente unidos aos
seus sacerdotes2, a trazer para a comunidade da Igreja os problemas próprios e
do mundo e as questões relativas à salvação dos homens, para serem examinados e
resolvidos por troca de consultas; a empenhar-se, na medida de suas forças, em
auxiliar todas as iniciativas apostólicas e missionárias da própria família
eclesial.

1 Cf. S. Pio X, Carta Apost.
Creationis duarum novarum paroeciarum, de 1-6-1905:  ASS 38 (1905), pp. 65-67; Pio XII: Alocução
aos fiéis da Paróquia de São Sabas, de 11-1-1953. Discorsi e Radiomessaggi di
S. S. Pio XII 14 (1952-1953), pp. 449-454; João XXIII, Alocução ao Clero e aos
Fiéis da Diocese suburbicária de Albano, feita em Castel Gandolfo,
de 26-8-1962: AAS 54 (1962), pp. 656-660.

2  Cf. Leão XIII, Aloc. De 28-1-1894: Acta 14
(1894), pp. 424-25.

 

Cultivem constantemente o senso da diocese, de que a
paróquia é como que a célula, prontos sempre a colaborar, a convite do seu
Pastor, nas iniciativas diocesanas. 
Mais.  Para responderem ás
necessidades das cidades e das zonas rurais3, mantenham sua cooperação não
apenas limitada ao território da paróquia ou da diocese, mas façam o possível
para estendê-la ao âmbito interparóquia, interdiocesano, nacional ou
internacional, tanto mais que aumentando dia a dia a emigração das populações,
a multiplicação dos mútuos liames e a facilidade dos meios de comunicação, já
não permitem a nenhum grupo social permanecer fechado em si mesmo.  Sejam assim solícitos das necessidades do
povo de Deus, disperso em todo o orbe da terra. 
Em primeiro lugar, façam suas as obras missionárias, prestando auxílios
materiais ou até pessoais.  É dever e
honra para os cristãos restituir a Deus parte dos bens que d’Ele receberam.

 

3  Cf. Pio XII, Aloc. Aos Párocos, etc., de
6-2-1961: Discorsi e Radiomessaggi de S. S. Pio XII 12 (1950-1951), pp.
437-443; 8-3-1952: ibid. 14 (1952-1953), pp. 5-10; 27-3-1953: ibid. 15
(1953-1954), pp. 27-35; 28-2-1954: ibid. pp. 585-590.

[A Família]

Uma vez que o Criador de tudo constituiu o matrimônio
como princípio e fundamento da sociedade humana, e o tornou por Sua graça o
grande sacramento em Cristo e na Igreja (cf. Ef 5,32), o apostolado dos
cônjuges e das famílias assume importância singular, tanto em benefício da
Igreja, quanto da sociedade civil.

Os cônjuges cristãos constituem um para o outro, para os
filhos e demais familiares, cooperadores da graça e testemunhas da fé.  Para os filhos são eles os primeiros
anunciadores e educadores da fé. 
Formam-nos para a vida cristã e apostólica pela palavra e pelo
exemplo.  Ajudam-nos com prudência na
escolha da vocação e fomentam com todo zelo a vocação sagrada, que por acaso
neles descubram.

Constituiu sempre tarefa dos esposos, mas hoje chega a
formar a contribuição máxima de seu apostolado: manifestar e provar, por sua
vida, a indissolubilidade e santidade do vínculo matrimonial; afirmar
ativamente o direito e o dever, imposto a pais e tutores, de educarem de
maneira cristã a prole; defender a dignidade e autonomia legítima da família.  Cooperem pois eles e os demais cristãos,
junto com os homens de boa vontade, para que na legislação civil tais direitos
se preservem intactos; na organização da sociedade se tenham em conta as
necessidades das famílias, no que diz respeito à moradia, educação dos filhos,
condição de trabalho, seguro social e ônus fiscais; na regulamentação das
migrações, ponha-se de todo a salvo a convivência doméstica.4

4  Cf. Pio XI, Enc. Casti Connubii: AAS 22
(1930), p. 534; Pio XII, Mensagem Radiofônica de 1-1-1941:  AAS 33 (1941), p. 203; Idem.  Aos Delegados do Congresso da União
Internacional de Associações para a Proteção dos Direitos de Família, de
20-9-1949: AAS 41 (1949), p. 552; Idem. Aos Pais de Família da França em
peregrinação a Roma, de 18-9-1951 – AAS 43 (1951), p. 731; idem, Mensagem
Radiof. Para o Natal do Senhor 1952:  AAS
45 (1953), p. 41; João XXIII, Enc. Mater et Magistra, de 15-5-1961:  AAS 53 (1961), pp. 429, 439.

A família recebeu de Deus a missão de constituir a célula
primária e vital da sociedade.  Cumprirá
tal missão, se ela se apresentar como santuário íntimo da Igreja pelo mútuo
afeto de seus membros e pela oração feita a Deus em comum; se toda a família se
inserir no culto litúrgico da Igreja; se enfim a família oferecer uma solícita
hospitalidade; se promover a justiça e demais boas obras a serviço dos irmãos
todos que padecem necessidade.  Entre as
diversas obras de apostolado familiar poderiam enumerar-se as seguintes: adotar
como filhos crianças abandonadas, acolher com bondade os estrangeiros, cooperar
ativamente na direção de escolas, assistir os adolescentes com conselhos e
meios materiais, auxiliar os noivos a se prepararem melhor para o casamento,
colaborar na catequese, amparar esposos e famílias em crises materiais e morais,
prover os anciãos não só do necessário, mas também torná-los participantes dos
justos frutos do progresso econômico.

Sempre e em toda parte, mas de modo peculiar nas regiões
em que se lançam as primeiras sementes do Evangelho  – ou a Igreja se encontra em seus primórdios
ou luta com alguma crise grave – as famílias cristãs, coerentes em toda a sua
vida com o Evangelho e dando exemplo de uma vida matrimonial cristã, oferecem
ao mundo testemunho preciosíssimo de Cristo.5

 

5  Cf. Pio XII, Enc. Evangelii Praecones, de
2-6-1951: AAS 43 (1951), p. 514.

Para poderem atingir mais facilmente os fins de seu
apostolado, pode ser oportuno agruparem-se as famílias em algumas associações”.6

6  Pio XII, Aos Delegados do Congresso da União
Internacional de Associações para a Proteção dos Direitos da Família, de
20-0-1949:  AAS 41 (1949), p. 552.

[Os Jovens]

Os jovens exercem uma influência da maior importância na
sociedade moderna.7    As circunstâncias
de sua vida, a mentalidade e as próprias relações com a família estão
profundamente mudadas.  Muitas vezes,
passam de maneira demasiado rápida para nova condição social e econômica.  Enquanto porém aumenta dia por dia sua
importância social e até política parecem quase despreparados para assumirem
com aptidão os novos encargos.

7 Cf. S. Pio X, Alocução à
Associação Católica da Juventude Francesa de Piedade. Ciência e Ação, de
25-9-1904: ASS 37 (1904-1905), pp. 296-300.

Este crescimento da sua importância na vida social exige
deles uma atividade apostólica, dispondo-os a tanto igualmente sua índole
natural.  Amadurecendo a consciência da
própria personalidade, e impulsionados pelo ardor da vida e pela atividade
exuberante, assumem responsabilidades próprias e desejam participar na vida
social e cultura.  Tal zelo, se vier
imbuído do espírito de Cristo, e estiver animado por um espírito de obediência
e amor para com os pastores da Igreja, permite esperar de tudo isso
abundantíssimos frutos.  Devem tornar-se
eles os primeiros e imediatos apóstolos dos jovens, realizando o apostolado no
meio deles e através deles, levando em conta o ambiente social em que vivem.8

8  Cf. Pio XII, Epist. Dans quelques semaines,
ao arcebispo de Montral, sobre os Congressos dos Jovens Operários Cristãos do
Canadá, 24-5-1947:  AAS 39 (1947), p.
257: Radiomensagem à J.O.C. de Bruxelas, 3-9-2950: AAS 42 (1950), pp. 640-641.

Cuidem os adultos de estabelecer com os jovens um diálogo
amigável, que permita a ambas as partes superarem a distância da idade,
conhecerem-se mutuamente e comunicarem-se uns aos outros as riquezas que a cada
qual são próprias.  Os adultos estimulem
a juventude ao apostolado, primeiro pelo exemplo, e, dada ocasião, pelo
conselho prudente e ajuda eficaz.  Os
jovens por sua vez mantenham para com os adultos os sentimentos de reverência e
confiança; e, embora estejam naturalmente inclinados a tudo quanto é novidade,
estimem contudo devidamente as tradições dignas de tal nome.

Também as crianças tem sua atividade apostólica
própria.  Segundo a capacidade, são
verdadeiras testemunhas vivas de Cristo junto aos colegas.

[O Ambiente Social]

O apostolado no meio social, a saber, o esforço de dar,
pelo espírito cristão, nova forma à mentalidade e aos costumes, às leis e às
estruturas da comunidade em que se vive, a tal ponto é função e dever dos
leigos, que por outros nunca poderia ser devidamente realizado.  Nesse campo, os leigos podem exercer um
apostolado de igual para igual.  Aí
completam o testemunho da vida pelo testemunho da palavra.9  Aí, no campo do trabalho, da profissão, do
estudo, da moradia, da diversão ou vida social, sentem-se mais capazes de
ajudarem os irmãos.

9  Cg. Pio XI, Enc. Quadragesino Anno, de
15-5-1931: AAS 23 (1931), pp. 225-226.Os leigos cumprem esta missão da Igreja no mundo, antes
de tudo por aquela coerência da vida com a fé, pela qual se transformam em luz
do mundo; pela honestidade em qualquer negócio, honestidade que atrai a todos
para o amor da verdade, e do bem e afinal para Cristo e a Igreja; pela caridade
fraterna, pela qual participam das condições de vida, trabalhos, dores e
aspirações dos irmãos, dispondo sensivelmente e sem perceber os corações de
todos para a ação salutar da graça; pela consciência plena da parte que lhes
toca na edificação da sociedade, com a qual procuram cumprir, com magnanimidade
cristã, sua atividade doméstica, social e profissional.  Desta forma influenciam, pouco a pouco, o
ambiente da vida e do trabalho.

Tal apostolado deve atingir a todos os que aí se
encontram, fazendo-lhes todo o bem espiritual ou material que está ao
alcance.  Mas os verdadeiros apóstolos,
ainda não satisfeitos com esta atividade, dirigem seu esforço no sentido de
anunciarem.  Cristo ao próximo, também por
palavras.  Pois muitos homens há que não
podem ouvir o Evangelho nem conhecer a Cristo a não ser através dos vizinhos
leigos.

[A Esfera Nacional e
Internacional]

O campo do apostolado se abre imensamente na esfera
nacional e internacional, onde os leigos são, de maneira especial, os que
traduzem na prática a sabedoria cristã. 
Em seu amor à pátria e no fiel cumprimento dos deveres civis, sintam-se
os católicos obrigados a promover o verdadeiro bem comum e assim fazer valer o
peso de sua opinião, para que poder civil se exerça na justiça e as leis
correspondam aos preceitos morais e ao bem comum.  Os católicos versados em política, e
devidamente firmes na fé e na doutrina cristã, não recusem cargos públicos, se
puderem por uma digna administração prover o bem comum e ao mesmo tempo abrir caminho
para o Evangelho.

Empenhem-se os católicos em cooperar com todos os homens
de boa vontade, para promoverem tudo que for verdadeiro, tudo que for justo,
tudo que for santo, tudo que for amável (cf. Filip. 4,8).  Mantenham diálogo com eles, antecipando-se a
eles pela prudência e afabilidade, e promovam pesquisas acerca do
aperfeiçoamento das instituições sociais e públicos segundo o espírito do
Evangelho.

Entre os sinais de nosso tempo é digno de nota aquele
senso sempre mais amplo e inelutável de solidariedade entre os povos todos.  Promovê-lo com carinho e transformá-lo em
sincero e verdadeiro afeto da fraternidade é tarefa do apostolado leigo.  Além disso, devem os leigos tomar consciência
que daí decorrem, sejam doutrinárias ou práticas, sobretudo na questão dos
povos que se empenham pelo progresso.10

10  Cf. João XXIII, Enc. Mater et Magistra, de
15-5-1961: AAS 53 (1961), pp. 448-450.

Lembrem-se todos os que trabalham em nações estrangeiras
ou lhes prestam assistência, que as relações entre os povos devem chegar ao
trato fraterno, em que ambas as partes dão e recebem ao mesmo tempo.  Os que por assuntos internacionais, negócio
ou recreio, empreendem viagens, lembrem-se que por toda parte são também
arautos itinerantes de Cristo e como tais se comportem de fato.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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