Contraceptivo pode dobrar o risco de HIV, aponta estudo realizado na África

Os hormônios injetáveis são muito populares. Cerca de 12 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos na África subsaariana, ou cerca de 6% de todas as mulheres nessa faixa etária, utilizam o método. Nos Estados Unidos, 3% das mulheres usam contraceptivos, ou 1,2 milhão

Os hormônios injetáveis são muito populares. Cerca de 12 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos na África subsaariana, ou cerca de 6% de todas as mulheres nessa faixa etária, utilizam o método. Nos Estados Unidos, 3% das mulheres usam contraceptivos, ou 1,2 milhão

O contraceptivo mais popular para mulheres do leste e sul da África, uma injeção de hormônio administrada a cada três meses, parece dobrar o risco de as mulheres serem infectadas com HIV, de acordo com um amplo estudo publicado na segunda-feira (3). E quando é usado por mulheres HIV positivo, seus parceiros têm duas vezes mais chances de se infectar do que se as mulheres não usassem nenhum contraceptivo.

As descobertas apresentam potencialmente um dilema alarmante para as mulheres na África. Centenas de milhares delas sofrem ferimentos, sangramentos, infecções e até a morte no parto por causa de gravidez indesejada. Encontrar contraceptivos baratos e convenientes é um objetivo premente para as autoridades internacionais e de saúde.

Mas muitos países com as maiores taxas de gravidez são também dizimados pelo HIV. Então as provas sugerindo que o contraceptivo injetável tem propriedades biológicas que podem tornar as mulheres e os homens mais vulneráveis à infecção pelo HIV são particularmente preocupantes.

“O melhor método contraceptivo hoje é o hormônio injetável porque não é preciso um médico, ele dura bastante, permite que as mulheres controlem o momento da gravidez e o intervalo entre um filho e outro sem muitas dificuldades”, diz Isobel Coleman, diretora do programa para mulheres e política externa no Conselho de Relações Exteriores. “Se agora ficar provado que esses contraceptivos estão ajudando a espalhar a epidemia de Aids, teremos uma grande crise de saúde pública em nossas mãos.”

Os hormônios injetáveis são muito populares. Cerca de 12 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos na África subsaariana, ou cerca de 6% de todas as mulheres nessa faixa etária, utilizam esses hormônios. Nos Estados Unidos, 3% das mulheres usam contraceptivos, ou 1,2 milhão. Embora o estudo tenha envolvido apenas mulheres africanas, os cientistas dizem que os efeitos biológicos provavelmente são os mesmos para todas as mulheres. Mas eles enfatizaram que a preocupação é maior na África porque o risco da transmissão do HIV no sexo heterossexual é bem mais alto do que em qualquer outro lugar.

O estudo, que vários especialistas disseram ter acrescentado um peso significativo à pesquisas anteriores embora ainda tenha algumas limitações, fez com que a Organização Mundial de Saúde convocasse uma reunião em janeiro para considerar se as provas agora são fortes o suficiente para dizer às mulheres que o método pode aumentar seu risco de contrair ou transmitir HIV.

“Vamos reavaliar as recomendações clínicas da OMS sobre o uso de contraceptivo”, diz Mary Lyn Gaffield, epidemiologista do departamento de saúde e pesquisa reprodutiva da Organização Mundial de Saúde. O hormônio injetável é “algo que uma mulher pode fazer ela mesma e não precisa lembrar-se de tomar todos os dias. Também é um método relativamente barato”.

Antes da reunião, os cientistas irão rever as pesquisas relativas aos contraceptivos hormonais e o risco de as mulheres contraírem HIV, transmiti-lo para os homens, e a possibilidade (não examinada no novo estudo) de que os contraceptivos hormonais aceleram a severidade do HIV nas mulheres infectadas.

“Queremos ter certeza de que vamos alertar quando houver uma necessidade real de alertar, mas ao mesmo tempo não queremos ter um julgamento precipitado que teria consequências amplas e severas para a saúde sexual e reprodutiva das mulheres”, disse ela. “Este é um dilema muito difícil.”

O estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Washington e publicado no “The Lancet Infectious Diseases”, envolveu 3.800 casais em Botsuana, Quênia, Ruanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia. Em cada casal, ou o homem ou a mulher já tinha HIV. Os pesquisadores acompanharam a maior parte dos casais por dois anos, pediram que eles relatassem seus métodos contraceptivos, e acompanharam se o parceiro que não tinha o vírus contraiu o HIV do parceiro infectado, disse o Dr. Jared Baeten, escritor e epidemiologista e especialista em doenças infecciosas. A pesquisa foi apresentada na conferência internacional sobre a Aids neste verão, mas agora ganhou ímpeto, dizem os cientistas, com a publicação numa importante revista da área.

O estudo descobriu que as mulheres que usavam contraceptivos hormonais se infectavam a uma taxa de 6,61 por 100 pessoas-anos, comparado com a taxa de 3,78 daquelas que não usavam o método. A transmissão do HIV para os homens ocorreu numa taxa de 2,61 por 100 pessoas-anos para mulheres que usavam contraceptivo hormonal em comparação com a taxa de 1,51 para aquelas que não usavam.

Embora pelo menos dois outros estudos rigorosos tenham revelado que os contraceptivos injetáveis aumentavam o risco de mulheres adquirirem o HIV, a nova pesquisa tem pontos fortes em relação aos trabalhos anteriores, disse Charles Morrison, diretor sênior de ciências clínicas na FHI 360, uma organização sem fins lucrativos cujo trabalho inclui pesquisas sobre a relação entre o planejamento familiar e o HIV.

Esses pontos fortes incluem o fato de que os pesquisadores acompanharam os casais e portanto puderam detectar a transmissão de HIV tanto para os homens quanto para as mulheres. Morrison disse que apenas um estudo, menos rigoroso, observou que o contraceptivo hormonal aumentava o risco de mulheres infectadas transmitirem o vírus para os homens.

“Este é um bom estudo e acho que ele acrescenta algumas provas importantes”, disse Morrison, que escreveu um comentário acompanhando o artigo da revista Lancet. Embora o estudo tenha algumas limitações, inclusive o uso de dados não previstos originalmente para determinar a ligação entre o uso de contraceptivo e o HIV, “acho que isso aumenta as suspeitas” de que os contraceptivos injetáveis podem aumentar o risco de transmissão, disse ele.

Por que isso ocorre não está claro. Os pesquisadores registraram o uso de camisinha, essencialmente excluindo a possibilidade de que o aumento da infecção acontecia porque os casais que usavam contraceptivos tinham menos probabilidade de usar camisinha.

A progestina nos contraceptivos injetáveis parece ter um efeito fisiológico, dizem os cientistas.

Renne Heffron, epidemiologista e coautor do estudo, disse que a pesquisa examinando se as mudanças hormonais no tecido genital ou na mucosa vaginal foram inconclusivas. Estudos em macacos descobriram que a progestina reduz a espessura do tecido vaginal, “mas estudos com mulheres não mostraram a mesma redução de espessura”, disse ela.

Pode ser que a progestina causa “mudanças imunológicas na vagina e no colo do útero”, ou aumente a “capacidade de o HIV se replicar”, disse Morrison.

Em determinado ponto, os pesquisadores mediram a concentração de HIV no fluido genital das mulheres infectadas, e descobriram que “havia mais HIV no fluido genital das mulheres que usavam contraceptivos do que naquelas que não usavam”, disse Baeten, sendo um dos motivos possíveis pelos quais os homens podem ter maior risco de serem infectados por usuárias de contraceptivos hormonais. Não é que essas mulheres “tenham mais HIV no sangue”, disse ele.

Os pesquisadores também descobriram que os contraceptivos orais parecem aumentar o risco de infecção por HIV e transmissão, mas o número de usuárias de pílula no estudo era muito pequeno para ser considerado estatisticamente significativo, disseram os autores.

Pesquisas anteriores sobre a pílula foram mais inconclusivas do que sobre os contraceptivos hormonais, e estes podem ter um impacto maior porque envolvem uma dose forte que deve durar por três meses, disse Baeten.

Em outra descoberta preocupante, resultados do mesmo estudo, publicados separadamente, mostraram que a gravidez também dobra o risco de mulheres contraírem o HIV e de mulheres infectadas transmitirem o vírus para os homens. Isso pode ser em parte devido ao aumento do sexo sem proteção, mas também pode estar relacionado aos hormônios, dizem os pesquisadores.

Mas não há soluções simples, reconhecem os autores. Qualquer alerta contra um método contraceptivo tão popular pode não só aumentar as complicações por conta da gravidez como também aumentar a transmissão de HIV, uma vez que a gravidez por si só pode aumentar o risco de a mulher ser infectada pelo vírus.

Primeiro, dizem os pesquisadores e outros, que uma ênfase maior deve ser colocada sobre o uso da camisinha juntamente com métodos hormonais.

Alguns especialistas, como Morrison, são a favor de teste controlado randomizado para ter provas mais definitivas, mas outros questionam como “escolher randomicamente mulheres que podem ter fortes preferências sobre seu método contraceptivo”, acrescentou.

Ludo Lavreys, epidemiologista que liderou um dos primeiros estudos para relacionar os contraceptivos injetáveis com o aumento do risco de HIV, disse que outros métodos, como os dispositivos intrauterinos, devem ser explorados e expandidos.

“Antes de parar” de recomendar os injetáveis, diz ele, “você precisa oferecer outra coisa”.

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Por Pam Belluck

Tradução: Eloise De Vylder
The New York Times

Fonte: 
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2011/10/09/contraceptivo-pode-dobrar-o-risco-de-hiv-aponta-estudo-realizado-na-africa.jhtm

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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