Compreendendo a Nova Era – EB (Parte 2)

“O psicólogo de Nova Iorque, Larry LeShan, conta acerca de uma mulher que lhe telefonou pedindo que realizasse uma cura a longa distância naquela noite. No dia seguinte, ela tornou a telefonar e disse que seu alívio havia sido imediato. Mas LeShan esquecera-se de efetuar a cura!” (p. 212).

Até mesmo o câncer é tratado holisticamente. “Mediante o relaxamento, a meditação e a visualização, há quem julgue que a imaginação ativa do paciente pode pôr em ação o sistema imunológico do corpo a fim de destruir até mesmo os mais generalizados tumores malignos” (p. 211).

“Esforce-se por retratar mentalmente o câncer”, diz a voz do doutor em uma figura gravada usada para instruir os pacientes. “Imagine as células brancas do sangue de seu corpo – um vasto exército que foi posto ali para eliminar as células anormais (…). Veja esses fagócitos atacando as células cancerosas e levando-as para fora (…). Veja como o câncer está encolhendo … Veja como você está cada vez mais bem sintonizado com a vida” (Jonathan Kirsch, Can Your Mind Cure Cancer? em New West Magazine, 3/01/1977, p. 40).

Gnosticismo

Gnosticismo é uma corrente filosófico-religiosa que data dos séculos III/IV d.C. e que se vem propagando, sob modalidades diversas, até nossos dias. Tem por base a convicção de que o conhecimento (gnosis) salva o homem; trata-se, porém, de um conhecimento oculto, reservado aos iniciados; quem o consegue, faz parte de uma elite, que é muito superior ao comum dos homens:

“A premissa da Nova Era é que o conhecimento ou gnosis é a chave para sermos despertos de nossa ignorância da divindade. O sonolento “eu superior” pode ser despertado. A criação e a humanidade simplesmente são “elevadas” a um nível divino, através da transformação pessoal” (p. 37).

“É inequívoca a influência gnóstica sobre o pensamento da Nova Era, conforme os seus líderes reconhecem livremente. O gnosticismo, que foi reputado uma heresia pela Igreja cristã primitiva, assevera que os seres humanos estão destinados à reunião com a essência divina de onde brotaram. Aqueles que estão “no saber” (significado literal de gnosis) “entendem que o homem é divino, que a sua origem e destino divinos separam-no do resto da criação e que não há limites aos seus poderes. A própria morte é uma ilusão”, explica o notável historiador  Christopher Lasch” (p. 53).

Cristianismo

Também aparecem no conjunto das correntes da Nova Era elementos de Cristianismo. Jesus Cristo, por exemplo, é aí reconhecido como um avatar ou uma especial manifestação da Divindade; deverá aparecer no mundo com o nome de Maitreya, dando início à Nova Era ou à de Aquário. Os adeptos desta corrente pretendem criar “uma eclética religião mundial, que se assemelhe de perto aos sistemas religiosos do Oriente e não às crenças monoteístas ocidentais” (p. 38).

Este caráter eclético da Nova Era explica que tal corrente não tenha uma chefia única, uma organização central e uma sede de governo permanente.

“Ninguém fala pela inteira comunidade da Nova Era, disse Jeremy P. Tarcher, porta-voz de uma firma de Los Angeles que publica livros da Nova Era. “Dentro do movimento não há unanimidade sobre que defini-lo, nem há uma coesão significativa que nos permita chamá-lo de movimento” (New Age as Perennial Philosophy, em Los Angeles Times Book Review, 7/02;1988, p. 15)” (p. 31(.

Concepções PolíticasA Nova Era, segundo a sua visão holística do mundo, quer unificar politicamente os povos da terra; consoante esse modo de ser, “tornar-se-iam obsoletas as fronteiras nacionais. Assim, a agenda da Nova Era requer uma emergente civilização mundial e um único governo central, incluindo impostos planetários e as Nações Unidas como a única agência central de governo” (p. 38).

Essa unificação é baseada no pressuposto de que “os seres humanos estão ficando cada vez melhores, numa ordem bem mais elevada e interligada” (p. 242).

“Satin propõe um sistema de orientação planetária tão completo que inclui até mesmo um serviço de taxação para ajudar a redistribuir riquezas às nações mais pobres. Em seu modelo político, não há lugar nem para o socialismo nem para o capitalismo – esse tipo de questões deveria ser decidido pelas comunidades locais -mas antes uma economia orientada para a vida, composta principalmente de empreendimentos de escala humana” (p. 249).

São estes os principais traços de pensamento e ação que convergem para formar o amálgama da Nova Era. Vê-se que está longe de ser uma mensagem unitária; por ter muitas facetas (nem sempre compatíveis entre si), pode recrutar adeptos dos mais diversos tipos.

EXPANSÃO DA NOVA ERA

“A Nova Era realmente tem influenciado cada faceta da vida contemporânea. Seus propagandistas e suas crenças geralmente são visíveis em nossos aparelhos de televisão, no cinema, em horóscopos impressos ou em lojas locais de alimentos naturais. Até mesmo programas esportivos e de ginástica, de treinamento, de motivação, de aconselhamento psicológico e de aulas religiosas servem de canais frequentes para as noções da Nova Era (…)

Trinta e quatro milhões de cidadãos americanos estão interessados no desenvolvimento interior, incluindo o misticismo, de acordo com a SRI Internacional, uma organização de pesquisa de opinião pública em Menlo Park, Estado da Califórnia (…). Quase metade dos adultos norte-americanos (42%) atualmente crê que estiveram em contato com alguém que já havia morrido – em uma pesquisa nacional anterior, onze anos atrás, essa taxa era de 27%” (p. 21).

“Cerca de sessenta milhões de americanos – cerca de um em cada quatro – agora acreditam na reencarnação, uma das doutrinas-chave da Nova Era; e 14% endossam o trabalho dos médiuns espíritas, ou seja, aqueles que na Nova Era, de modo geral, são conhecidos como “canalizadores de transes” (p. 22).

“Em maio de 1988, a mídia transbordou de relatórios – baseados sobre revelações de um livro escrito pelo chefe de pessoal da Casa Branca, Donald T. Reagan, – onde é dito que o Presidente e a Sra. Reagan muitas vezes liam previsões astrológicas e que Nancy Reagan consultava astrólogos para ajudá-la a determinar o itinerário das atividades e das viagens do seu marido.

Uma pesquisa da Nothern Illinois University também anunciou que mais da metade dos americanos pensa que seres extraterrestres têm visitado a Terra, uma crença corrente em muitos círculos da Nova Era” (p. 23).

Examinemos agora

ORIGENS E EXPANSÃO DA NOVA ERA

O surto da corrente eclética dita “Nova Era” foi preparado de perto pela teosofia, escola de pensamento hindu fundada pela Sra. Helena Blavatsky (+ 1891) e desenvolvida por Annie Besant (+ 1933). A Sra. Alice Bailey (+ 1945) pôs a mão final nessa herança oriental.

“Parece que quem cunhou o nome “Nova Era” foi Alice Bailey, o qual é usado reiteradamente em seus escritos. Mas a grande popularidade da expressão aconteceu somente depois que a “Nova Era” foi associada à música título do musical de 1960, Hair, designada “Age of Aquarius” (p. 57).

Nos Estados Unidos o desencadeamento do processo se deu em 1971, quando alguns impressos começaram a ser difundidos juntamente com práticas alucinógenas.

“Pesquisas de âmbito nacional, feitas pela organização Gallup, corroboram as descobertas de Greeley: as experiências paranormais e as crenças nos pressupostos da Nova Era estão em ascendência, fazendo da Nova Era o sistema alternativo de crenças de mais rápido crescimento no país, de acordo com os novos pesquisadores de assuntos religiosos, Bob e Gretchen Passantino. Uma pesquisa de levantamento de opinião pública, feita em 1978, indicou que dez milhões de americanos estavam ocupados em alguma organização descobriu que, entre 1978 e 1984, a crença na astrologia subira de 40% para 59% entre as crianças em idade escolar” (p. 22).

REFLETINDO …

Por que Acontece o Fenômeno Neo-religioso?

1. Embora conste de correntes de pensamento variadas, a Nova Era, âmago vem a ser a rejeição do pensar filosófico e religioso tradicional para dar lugar a concepções e práticas novas, um tanto misteriosas e irracionais; daí o adjetivo Nova que qualifica a fase de tempo (Era) aguardada para breve ou para a época subsequente ao signo de Peixes no Zodíaco. A resposta de Nova Era aos anseios do homem tem um quê de fantasioso e mágico, pois se deriva de forças ocultas e de comunicações do além.

Este fato leva a refletir seriamente. O senso religioso dos homens ocidentais não se extinguiu, como proclamava a Teologia da morte de Deus na década de 1960, mas vai procurar em fontes novas, pouco lógicas, a sua mensagem.

2. Que terá acontecido nos países ocidentais, geralmente berçados pelo Cristianismo? – Sejam ponderados os seguintes fatos:

a) O século XX foi certamente uma era convulsionada; marcada por duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-1945, respectivamente), das quais a segunda causou 55 milhões de mortes; até hoje sentem-se as conseqüências da grande desordem assim acarretada (tenham-se em vista as lutas na ex-Iugoslávia e na ex-URSS). Seguiu-se a descolonização na África e na Ásia, com os conflitos daí decorrentes a repercutir também no Ocidente (migração de africanos e asiáticos para a Europa e a América). Muitas esperanças desfizeram-se, muitos valores desmoronaram, muitas pessoas foram, e estão sendo, deslocadas.

b) Simultaneamente, vem-se registrando enorme progresso científico e tecnológico. Se, de um lado, este é um fato positivo e alvissareiro, de outro lado acarreta certo desatino e perplexidade: a máquina é preferida ao homem, que sofre o desemprego em proporções avultadas; a máquina também ameaça o homem, pois lhe pode causar catástrofes dolorosas, se manipulada contra o homem. A ciência pode  tornar-se selvagem para o homem; tenha-se em vista o que ocorreu na Genética: novas e novas experiências reduzem o embrião humano ao nível de coisa, que é produzida artificialmente e destruída quando não tem valor pragmático; os critérios da ciência definem quem há de viver e quem há de morrer.

c) A corrida aos bens materiais na Europa e na América contribui para “achatar” o homem. O materialismo sufoca o senso místico natural ou congênito de todo ser humano.

d) A corrente existencialista iniciada por Sören Kierkegaard (+ 1855) tem lançado o descrédito sobre a metafísica e os valores perenes e transcendentais. Um certo antiintelectualismo no tocante à Ética, ao Direito e à Religião progride ao lado do intelectualismo das ciências exatas; os sentimentos e as emoções subjetivas prevalecem sobre o raciocínio e a lógica objetiva. “Cada um na sua verdade ou Ética” é um adágio popular bastante disseminado, que bem exprime o subjetivismo de certas concepções relativas ao homem e ao seu destino.

e) Verifica-se que até mesmo o Cristianismo clássico foi afetado pelas ondas do pensamento moderno no que este tem de negativo: o secularismo ou uma predominante preocupação com as estruturas temporais (sociais, econômicas e políticas) deste mundo contribui para esvaziar o Cristianismo dos seus valores mais típicos ou dos seus aspectos transcendentais. A “teologia da morte de Deus”, também dita “Cristianismo sem Deus” ou “Cristianismo arreligioso”, proposta por autores das décadas de1940-1960 (Dietrich Bonhoeffer, Harvey Cox, John Robinson,  Altizer, van Buren…), embora já tenha feito sua onda, deixou marcas; estas se refletem ainda nas modalidades extremadas da Teologia da Libertação, que persiste até nossos dias, colocando em eclipse a autêntica mística cristã, para enfatizar proposições e realizações de ordem material.

Em consequência, um certo relativismo e um reducionismo cristológico e eclesiológico têm tornado anêmicos o anúncio do Evangelho.

3. Estes fatores conjugados entre si  provocam um grande vazio dentro do homem ocidental. Todo ser humano precisa, incoercivelmente, de saber por que e para que vive. Ora, somente a fé religiosa pode responder cabalmente a estasquestões.

Compreende-se então que o senso religioso inato do homem procura abastecer-se em fontes não tradicionais, concebidas de modo confuso, irracional e fantasioso. Buda, Maitreya, Moon ou “um outro Jesus” são chamados a preencher a lacuna do coração humano, numa tentativa mais ou menos cega de satisfazer às aspirações deste. Um guru, um líder “carismático”, um “profeta” (…) proporcionam aparente segurança ou firmeza às pessoas inquietas. Novas comunidades oferecem acolhida e calor humano aos desesperançados. Estes julgam encontrar assim a solução para os seus anseios.

Perde-se frequentemente a consciência de que a fé é um ato da inteligência humana (não um ato cego ou emocional) e, por isto, deve estar apoiada em credenciais ou em motivos de credibilidade (eu tenho que procurar saber inteligentemente por que hei de crer nisto ou naquilo e não naquilo outro). O pulular de novos movimentos religiosos e seitas daí resultante levava André Malraux a escrever: “O problema capital do fim do século XX será o problema religioso”.¹ Este fenômeno, sem dúvida, revela a dimensão religiosa perene do ser humano, mas é muito mais a recusa da irreligião do que a afirmação da fé no sentido pleno desta palavra; é a atitude de quem rejeita ser considerado como sujeito de parâmetros da economia, explicável pelo intercâmbio entre produção e consumo; parece ser mais um protesto (quiçá modista) do que a restauração da autêntica atitude religiosa (esta, para ser plenamente humana, deve contar com o apoio e a colaboração da inteligência); é um sintoma da inquietação do homem que perdeu o seu Norte e se sente angustiado porque ainda atraído por Ele sem saber onde O encontrar; tal sintoma é, sem dúvida, sadio, mas ainda rudimentar ou incompleto.

Pode-se notar, outrossim, que, por vezes, o senso religioso se transfere para o culto de valores meramente humanos tidos como sagrados ou quase sagrados: os direitos do homem (em lugar dos direitos de Deus), a conservação da natureza ou a ecologia (com a veneração da Mãe-Terra), as reivindicações da Amnesty Internacional e o culto à raça (…)

É interessante o comentário que Jean Vernette faz ao popular religioso de nossos dias:

“O atrativo das novas gnoses me o fascínio do maravilhoso revelam o pânico de uma sociedade altamente industrializada que se tornou incapaz de oferecer um sentido da existência apto a convencer os homens.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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