Como ler e entender a Bíblia?

O estudo da Sagrada Escritura é uma parte do estudo da Teologia. A Sagrada Escritura só existe, assim como a teologia só existe, na Igreja. A Igreja é a Coluna e Fundamento da Verdade.

O texto inspirado da Sagrada Escritura, que é parte da Tradição que vive na Igreja e só pode ser entendida dentro dela, não tem “vida própria”. Não é uma coisa que se estude independentemente da teologia, a não ser que se queira fazer estudos, sei lá, de sintaxe grega ou hebraica. É por isso que a crítica textual foi condenada repetidamente: ela abandona os princípios básicos de uma exegese ortodoxa, que é forçosamente baseada não na Escritura como algo isolado, mas na percepção da Escritura como parte do Depósito da Fé.

Esta parte do Depósito foi sujeita a perversões inomináveis nos últimos 500 anos, tanto em termos de traduções errôneas quanto em termos de exegeses delirantes, sempre a partir da ideia de jerico de se tomar a Escritura como algo que pode ser abordado independentemente do resto do Depósito da Fé.

Há, assim, hoje (na verdade, nos últimos 500 anos) um perigo constante de erros graves e que colocam a alma em risco ao tomar a Escritura como objeto de estudo isolado. É por isso que eu digo que não se deve sequer abrir a Escritura para estudo (em contraposição à oração dos salmos, meditação da Paixão, etc.) sem que se tenha um excelente domínio da teologia. O domínio da teologia é o domínio do contexto fora do qual é simplesmente impossível ter bom proveito do estudo da Sagrada Escritura. Fora deste contexto teológico, sem este conhecimento, o que se tem é o que S. Pedro alertou: os ignorantes e indoutos (não malvados!, apenas ignorantes e indoutos…) distorcem as escrituras para sua própria perdição.

Para que haja um estudo proveitoso da Sagrada Escritura, assim, é necessário que se tenha no mínimo um nível de conhecimento teológico que ultrapassa em muito o simples catecismo. Sem isso, é criança brincando com um lança-chamas: não pode dar certo.

Além deste pressuposto básico, é necessário que se use a Escritura verdadeira, não versões falsificadas e tendenciosas. E é por isso que a Igreja manda **queimar** as traduções protestantes. Tendo-se o contexto, o “locus” que é a íntegra do Depósito da Fé, é necessário que se tenha a Escritura verdadeira. E é por isso e para isso que a Igreja nos dá a Vulgata. Os textos gregos e hebraicos – bem como boas traduções da Vulgata – podem servir para acrescentar algo, iluminar uma dificuldade, mas o padrão é a Vulgata.

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Resumindo, assim, o que eu tenho a dizer é o seguinte: que se estude teologia, muita teologia, estudando-se primeiro o catecismo, depois as definições magisteriais (no Denzinger, por exemplo), depois lendo os Doutores da Igreja, para aí passar aos Padres da Igreja, e só então abordar o mais difícil, que é a Sagrada Escritura. E na hora de abordar a Sagrada Escritura, que se use a Vulgata primordialmente, com os textos da septuaginta e massoréticos servindo como “cereja de bolo”. Se não se sabe latim, grego e hebraico, que se use apenas e tão-somente uma boa tradução da Vulgata para uma língua que se domine, e que não se tente “estudar a Bíblia”. Não se vai estar estudando a Bíblia ao ler traduções; se vai estar estudando traduções. E ao ler traduções condenadas pela Igreja, se vai estar envenenando a alma. É bom ler uma tradução **recomendada pela Igreja** como meditação, como oração, etc., mas para fazer exegese, é preciso antes de qualquer outra coisa, antes de abrir a Bíblia, uma excelente formação teológica e um profundo conhecimento da Tradição, e, em seguida, um texto que se saiba *ser a Bíblia*. E este texto é a Vulgata. Não é o texto de manuscritos gregos e hebraicos tardios, nem muito menos traduções vernáculas destes textos tardios, nem muito menos, evidentemente, traduções errôneas e tendenciosas destes textos feitas por hereges. Estas devem ser **queimadas**, não estudadas. São como pratos de veneno disfarçado de comida cheirosa.

Ficar lendo “bíblia” de hereges e se metendo a “biblista”, mais ainda, sem ter tido uma excelente preparação teológica anterior, é como uma criança brincar com um lança-chamas no pátio do posto de gasolina: se não der uma caca muito grande, é porque o anjo da guarda ficou de cabelo branco tentando evitar.

A quem já se habituou a confundir qualquer “bíblia” com a Sagrada Escritura, é melhor afastar de vez o perigo, fazendo uma enorme fogueira com esses horrores todos e assando uma leitoa gorda por cima.

Prof. Carlos Ramalhete
http://www.pr.gonet.biz

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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