Celeuma em torno de judeus messiânicos – EB

Revista:
“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão
Bettencourt, osb

Nº 375, Ano
2000, p. 345/348

Em síntese: No país de Israel levantou-se uma cadente celeuma por causa da presença de
“judeus messiânicos ” (judeus que aceitam Jesus como Messias). Pediram a
cidadania Israelense, tendo emigrado a partir dos Estados Unidos e da África
do Sul para Israel.O titulo , porém,  lhes é contestado, porque acreditam em
Jesus ; se fossem ateus ou judeus não praticantes , não sofreriam represálias,
mas a adesão a Jesus é considerada grave crime pelas autoridades israelenses,
mesmo que se trate de judeus inflamados de ideal sionista e beneméritos por ter
lutado em prol do Estado de Israel. Há , porém , dentro do próprio país vozes
que se levantam em favor dos “judeus messiânicos “, representados, no momento ,
por três casais: Besford , Kendall e Speakman.

A atitude
dos “judeus messiânicos “ou para “Cristo”( que parecem ser 100.000, espalhados
pelo mundo) explica-se bem . Quem crê nas profecias do Antigo Testamento,
proferidas há 2.500 anos ou mais, deve estar cansado de esperar o cumprimento
das mesmas e, por isto, propenso a crer que 
Jesus e o significativo fenômeno “Cristianismo”correspondem
autenticamente ao teor de tais predições.

A revista
Norte-Americana Time, de 15/03/1993, p 23, apresenta um artigo intitulado “A
Test of Faih “( Um Teste para a fé), que trata de “judeus messiânicos ” ou
judeus que acreditam em
Jesus Cristo como o Messias de Israel prometidos pelos
profetas do Antigo Testamento . Tal corrente de judeus tem suscitado cadente
polêmica com o estado de Israel, pois este não quer reconhecer como cidadãos
israelenses judeus que aceitam o Messias Jesus.

A seguir,
analisaremos os dados da controvérsia, ao que se seguirá breve comentário.

OS FATOS

O povo
nevrálgico da questão atual prende-se ao caso Gavy e Shirey Beresford, que
nasceram na África do Sul, de pais judeus, e emigraram para o país de Israel ,
onde pediram a cidadania israelense. Esta, porém, lhes é  contestada porque cometem o crime de
reconhecer Jesus como Messias. A Sra. Shirley, de 52 anos de idade, é
benemérita, pois pertence a uma família dedicada à causa judaica: perdeu um tio
e uma tia por ocasião do Holocausto ( perseguição dos nazistas aos Israelitas
); dois de seus filhos lutaram no exército de Israel e outros seus familiares
são pioneiros da restauração do Estado Judaico. Ela e seu marido casaram-se
numa sinagoga ortodoxa há pouco mais de onze anos; observam o repouso do
sábado, as prescrições judaicas relativas aos alimentos (Kasher) e jejuam no
Grande dia da Expiação ( Yom Kkipur). São bons e fiéis cidadãos, isentos de
qualquer atrito policial , mas o fato de reconhecerem Jesus como Messias os
tornam inaceitáveis para o governo de Israel, que os quer expulsar.

Aliás, dois outros casais estão na mesma
situação em Israel, provenientes ods Estados unidos da América; são o casal
Kendall, vindo de Idaho, e o casal Speakman, de Oregon. Todos se confessam
menbros de uma corrente dita “de judeus messiânicos “. No mundo inteiro parece
haver 100.000 judeus dessa confissão de fé; os mais conhecidos são os de San
Francisco , ditos “Jews for Jesus” (judeus para Jesus). No país de Israel devem
ser 2.000 menbros, reunidos em trinta congregações.Tais judeus preferem falar de Yeshua para
designar Jesus, em vez de usar o nome de Cristo, que, em sua origem grega,
significa Ungido. Têm-no como Messias, que já veio e há de voltar para rematar
a história. Adotam os livros do Antigo e do novo Testamento, não se consideram
cristãos; não celebram o Natal e nem a Páscoa cristã, mas celebram o
Passover(Páscoa judaica) e a Hanukkah, festa da dedicação do Templo de
Jerusalém após a profanação infligida pelos sírios nos tempos dos Macabeus .

 O casal Beresford insiste em que não
abandonou a religião judaica; apenas reconhece o Messias prometido aos seus
ancestrais; seria Jesus de Nazaré! Todavia as instâncias judiciárias de Israel
respondem-lhes que a crença em
Jesus Messias é incompatível com a fé judaica, que espera o
Messias como ainda vindouro. É digno de nota o fato de que, pra adquirir a
cidadania israelense, o judeu não precisa praticar o culto judaico nem mesmo de
crer em Deus ; muitos dos fundadores do Estado de Israel eram ateus ou
agnósticos e a maioria da população israelense não observa as práticas
religiosas legais. Todavia crer em Jesus é crime,… crime pior do que o
ateísmo. As razões desta concepção são explicadas pelo Rabino David Hartman, de
Jerusalém: ” Não nos interessa o caso de judeus para Buda. Jesus pode ter-se
considerado um rabino judeu, mas não podemos esquecer o que aconteceu após ele.
Através dos séculos, Jesus tornou-se um símbolo dos nossos inimigos. Em nome de
Jesus fomos perseguidos, maltratados, tidos como assassinos de Jesus. Estamos
tocando ponto nevrálgico, que não foi sanado”.

A chaga é tão sensível para os judeus
tradicionais que várias organizações judaicas espalhadas pelo mundo estão a
procura de judeus messiânicos para denunciá-los às autoridades israelenses;
assim, quando quiserem desembarcar em Israel, logo serão identificados como
ineptos para receber a cidadania. Acontece, porém, que poucos messiânicos
conseguiram entrar em Israel clandestinamente. O casal Beresford foi denunciado
por um dos filhos de Shirley chamado Javin Weinstein; irritado pela crença
messiânica de usa mãe, houve por bem apresentá-lo como suspeita às autoridades
israelenses.

A atitude
do governo, embora pareça firme, é contestada dentro do próprio país de Israel;
há quem a julgue extremista e contraria ao espírito do Sionismo. Verifica-se,
alem do mais, que em 1998 um inquérito populacional deu a ver 78% dos
Israelenses interrogados acritavam que os judeus messiânicos tinha direito a
cidadania israelense desde que participassem ativamente da vida do estado de
Israel. Por isso também alguns juristas israelenses resolveram defender a causa
dos casais Beresfod, Kendall e Speakmem apresentando ao Parlamento (Kenesset)
uma petição para que lhes seja concedido permanecer em Israel.no momento
presente são turistas , cuja autorização de permanência já expirou e não tem
direito à emprego. Diante deste fato exclamou David Stern, um representante da
comunidade messiânica :”Nós podíamos morrer em Auschwitz como judeus, mas não
nos é permitido viver em Israel como judeus”.              

2.Comentário

Três
observações vêm ao caso.

É
certamente merecedor de destaque o fato, pouco conhecido, de que cerca de
100.000 judeus aceitam Jesus como Messias. Entende-se tal fenômeno: os judeus
estão cansados de esperar o Messias prometido pelas escrituras. Muitos hoje
perderam a fé; outros imaginam que ao Messianismo será simplesmente uma era de
paz e de bonança sobre a terra, sem a intervenção do “filho de Davi “. Quem crê
nas profecias, é por isto, propenso a admitir que estas já se cumpriram, pois
foram proferidas há 2.500 anos ou mais. Além do que , o fato “Jesus Cristo”e o
Cristianismo tornaram-se tão pujantes e significativos na histórias da
humanidade que bem podem ser tidos como a realização das profecias.

O que, em
parte, dificulta aos judeus aceitar Jesus como Messias, é um certo nacionalismo
ou o receio de perder a sua identidade étnica, a tal ponto religião e etnia
estão associadas entre si no povo judeu.

Os judeus
“messiânicos” afirmam com razão que não traíram a sua religião judaica. Esta é
essencialmente a expectativa do Messias , de modo que aderir ao Messias Jesus
está na linha mesma ou na dinâmica da religião de Israel. É o que professa
também o Cardeal Jean-Marie Lustger no livro “Le Choix de Dieu” comentado às
pp. 349-356. O cristianismo é o remate ou a consumação do judaísmo, a tal ponto
que Pio Xl afirmava que nós, cristãos , somos judeus ou o verdadeiro Israel.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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