Por outro lado – lembrei-o
aos sacerdotes na mencionada Carta da Quinta-Feira Santa deste ano -, o
sacerdócio ministerial, no desígnio de Cristo, « não é expressão de domínio, mas
de serviço » (n. 7). É tarefa urgente da Igreja, na sua renovação quotidiana à
luz da Palavra de Deus, pô-lo sempre mais em evidência, quer no desenvolvimento
do espírito de comunhão e na promoção atenta de todos os instrumentos
tipicamente eclesiais da participação, quer através do respeito e valorização
dos inúmeros carismas pessoais e comunitários, que o Espírito de Deus suscita
para edificação da comunidade cristã e serviço dos homens.
Neste amplo espaço de
serviço, a história da Igreja nestes dois milénios, apesar de tantos
condicionalismos, conheceu realmente o « génio da mulher », tendo visto surgir
no seu seio mulheres de primária grandeza, que deixaram amplos e benéficos
vestígios de si no tempo. Penso na longa série de mártires, de santas, de místicas
insignes. Penso, de modo especial, em Santa Catarina de Sena e em Santa Teresa de
Ávila, a quem o Papa Paulo VI, de venerável memória, conferiu o título de
Doutora da Igreja. E como não lembrar também tantas mulheres que, impelidas
pela fé, deram vida a iniciativas de extraordinário relevo social,
especialmente ao serviço dos mais pobres? O futuro da Igreja, no terceiro
milénio, não deixará certamente de registar novas e esplêndidas manifestações
do « génio feminino ».
12. Vede, portanto,
caríssimas irmãs, quantos motivos tem a Igreja para desejar que, na próxima
Conferência, promovida em Pequim pelas Nações Unidas, se ponha em evidência a
verdade plena sobre a mulher. Seja colocado realmente em devido relevo o «
génio da mulher », tendo em conta não somente as mulheres grandes e famosas, do
passado ou nossas contemporâneas, mas também as mulheres simples, que exprimem
o seu talento feminino com o serviço aos outros na normalidade do quotidiano.
De facto, é no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a
profunda vocação da própria vida, ela que talvez mais que o próprio homem vê o
homem, porque o vê com o coração. Vê-o independentemente dos vários sistemas
ideológicos e políticos. Vê-o na sua grandeza e nos seus limites, procurando ir
ao seu encontro e ser-lhe de auxílio. Deste modo, realiza-se na história da
humanidade o fundamental desígnio do Criador e aparece à luz incessantemente,
na variedade das vocações, a beleza – não só física, mas sobretudo espiritual –
que Deus prodigalizou desde o início à criatura humana e especialmente à
mulher.
Ao mesmo tempo que, na minha
oração, confio ao Senhor o bom êxito do importante encontro de Pequim, convido as
comunidades eclesiais a fazer do ano em curso ocasião para uma profunda acção
de graças ao Criador e ao Redentor do mundo precisamente pelo dom de um bem tão
grande como é o da feminilidade: esta, nas suas múltiplas expressões, pertence
ao património constitutivo da humanidade e da mesma Igreja.
Que Maria, Rainha do amor,
vele pelas mulheres e pela sua missão ao serviço da humanidade, da paz, da
difusão do Reino de Deus!
Com a minha Bênção
Apostólica.
Vaticano, 29 de Junho de
1995, solenidade dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo.