Carta Apostólica Mulieris Dignitatem (Parte 6)

Se o ser humano – homem e
mulher – foi criado à imagem e semelhança de Deus, Deus pode falar de si pelos
lábios do profeta, servindo-se da linguagem que é por essência humana: no texto
citado de Isaías é « humana » a expressão do amor de Deus, mas o amor em si
mesmo é divino. Sendo amor de Deus, esse amor tem um caráter esponsal
propriamente divino, ainda que venha expresso com a analogia do amor do homem
para com a mulher. Essa mulher-esposa é Israel, enquanto povo escolhido por
Deus, e esta eleição tem sua origem exclusiva no amor gratuito de Deus. É
justamente por este amor que se explica a Aliança, apresentada frequentemente
como uma aliança matrimonial, que Deus renova sempre com o seu povo escolhido.
Esta aliança, da parte de Deus, é « um compromisso » duradouro; ele permanece
fiel ao seu amor esponsal, embora a esposa se tenha demonstrado muitas vezes
infiel.

Esta imagem do amor esponsal
ligada com a figura do Esposo divino – uma imagem muito clara nos textos
proféticos – encontra a sua confirmação e coroamento na Carta aos Efésios (5,
23-32). Cristo é saudado como esposo por João Batista (cf. Jo 3, 27-29): antes,
o próprio Cristo aplica a si esta comparação tomada dos profetas (cf. Mc 2,
19-20). O apóstolo Paulo, que traz em si todo o patrimônio do Antigo
Testamento, escreve aos Coríntios: « Pois bem, eu sou ciumento de vós, do mesmo
ciúme de Deus, por vos ter desposado com um único esposo, para apresentar-vos a
Cristo como virgem pura » (2 Cor 11, 2). A expressão mais plena, porém, da verdade
sobre o amor de Cristo redentor, segundo a analogia do amor esponsal no
matrimônio, se encontra na Carta aos Efésios: « Cristo amou a Igreja e se
entregou a si mesmo por ela » (5, 25); e nisto se confirma plenamente o fato de
a Igreja ser a esposa de Cristo: « O teu redentor é o Santo de Israel » (Is 54,
5). No texto paulino, a analogia da relação esponsal toma ao mesmo tempo duas
direções, que formam o conjunto do « grande mistério » (« sacramentum magnum
»). A aliança própria dos esposos « explica » o caráter esponsal da união de
Cristo com a Igreja, e esta união, por sua vez, como « grande sacramento »,
decide da sacramentalidade do matrimônio como aliança santa dos esposos, homem
e mulher. Lendo esta passagem, rica e complexa, que, no seu conjunto, é uma
grande analogia, devemos distinguir o que nela exprime a realidade humana das
relações interpessoais daquilo que exprime, com linguagem simbólica, o « grande
mistério » divino.

A « novidade » evangélica

24. O texto dirige-se aos
esposos como homens e mulheres concretos, e recorda-lhes o « ethos » do amor
esponsal que remonta à instituição divina do matrimônio desde o « princípio ».
A verdade desta instituição corresponde a exortação: « Maridos, amai as vossas
mulheres », amai-as em virtude do vínculo especial e único, pelo qual o homem e
a mulher, no matrimônio, se tornam « uma só carne » (Gên 2, 24; Ef 5, 31).
Existe neste amor uma afirmação fundamental da mulher como pessoa, uma
afirmação graças à qual a personalidade feminina pode desenvolver-se plenamente
e enriquecer-se. É precisamente assim que age Cristo como esposo da Igreja,
desejando que ela seja « resplandecente de glória, sem mancha, nem ruga » (Ef
5, 27). Pode-se dizer que aqui esteja plenamente assumido aquilo que constitui
o « estilo » de Cristo no trato da mulher. O marido deveria fazer seus os
elementos deste estilo em relação à sua esposa; e, analogamente, deveria fazer
o homem a respeito da mulher, em todas as situações. Assim, os dois, homem e
mulher, atuam o « dom sincero de si mesmos »!

O autor da Carta aos Efésios
não vê contradição alguma entre uma exortação formulada dessa maneira e a
constatação de que « as mulheres sejam submissas aos maridos como ao Senhor,
porque o marido é a cabeça da mulher » (5, 22-23). O autor sabe queesta
impostação, tão profundamente arraigada nos costumes e na tradição religiosa do
tempo, deve ser entendida e atuada de um modo novo: como uma « submissão
recíproca no temor de Cristo » (cf. Ef 5, 21); tanto mais que o marido é dito «
cabeça » da mulher como Cristo é cabeça da Igreja; e ele o é para se entregar «
a si mesmo por ela » (Ef 5, 25 ) e se entregar a si mesmo por ela é dar até a
própria vida. Mas, enquanto na relação Cristo-Igreja a submissão é só da parte
da Igreja, na relação marido-mulher a « submissão » não é unilateral, mas
recíproca!

Em relação ao « antigo »
isto é evidentemente algo « novo »: é a novidade evangélica. Encontramos várias
passagens em que os escritos apostólicos exprimem esta novidade, embora nelas
se faça ouvir também aquilo que é « antigo », aquilo que ainda está arraigado
na tradição religiosa de Israel, no seu modo de compreender e de explicar os
textos sagrados como, por exemplo, a passagem de Gênesis (c. 2). (49)

As Cartas apostólicas são
dirigidas a pessoas que vivem num ambiente que tem o mesmo modo de pensar e de
agir. A « novidade » de Cristo é um fato: ela constitui o conteúdo inequívoco
da mensagem evangélica e é fruto da redenção. Ao mesmo tempo, porém, a
consciência de que no matrimônio existe a recíproca « submissão dos cônjuges no
temor de Cristo », e não só a da mulher ao marido, deve abrir caminho nos
corações e nas consciências, no comportamento e nos costumes. Este é um apelo
que não cessa de urgir, desde então, as gerações que se sucedem, um apelo que
os homens devem acolher sempre de novo. O apóstolo escreveu não só: « Em Cristo Jesus … não
há homem nem mulher », mas também: « não há escravo nem livre ». E, contudo,
quantas gerações tiveram que passar, até que esse princípio se realizasse na
história da humanidade com a abolição do instituto da escravidão! E que dizer
de tantas formas de escravidão, às quais estão sujeitos homens e povos, que
ainda não desapareceram da cena da história?

O desafio, porém, do « ethos
» da redenção é claro e definitivo. Todas as razões a favor da « submissão » da
mulher ao homem no matrimônio devem ser interpretadas no sentido de uma «
submissão recíproca » de ambos « no temor de Cristo ». A medida do verdadeiro
amor esponsal encontra a sua fonte mais profunda em Cristo, que é o Esposo da
Igreja, sua Esposa.

A dimensão simbólica do «
grande mistério »

25. No texto da Carta aos
Efésios encontramos uma segunda dimensão da analogia que, no seu conjunto, deve
servir à revelação do « grande mistério »: a dimensão simbólica. Se o amor de
Deus para com o homem, para com o povo escolhido, Israel, é apresentado pelos
profetas como o amor do esposo pela esposa, tal analogia exprime a qualidade «
esponsal » e o caráter divino e não humano do amor de Deus: « O teu esposo é o
teu Criador … que se chama Deus de toda a terra » (Is 54, 5). O mesmo se diga
também do amor esponsal de Cristo redentor: « Com efeito, Deus amou tanto o
mundo que lhe deu o seu Filho unigênito » (Jo 3, 16). Trata-se, portanto, do
amor de Deus expresso mediante a redenção, operada por Cristo. Segundo a Carta
paulina, este amor é « semelhante » ao amor esponsal dos cônjuges humanos, mas
naturalmente não é « igual ». A analogia, com efeito, implica conjuntamente uma
semelhança e uma margem adequada de não-semelhança.

É fácil observá-lo, se
tomarmos em consideração a figura da « esposa ». Segundo a Carta aos Efésios, a
esposa é a Igreja, tal como para os profetas a esposa era Israel: portanto, é
um sujeito coletivo, e não uma pessoa singular. Este sujeito coletivo é o Povo
de Deus, ou seja, uma comunidade composta de muitas pessoas, tanto homens como
mulheres. « Cristo amou a Igreja » precisamente como comunidade, como Povo de
Deus e, ao mesmo tempo, nesta Igreja, que na mesma passagem é chamada também
seu « corpo » (cf. Ef 5, 23), ele amou cada pessoa singularmente. De fato,
Cristo remiu todos, sem exceção, todos os homens e todas as mulheres. Na
redenção exprime-se justamente este amor de Deus e realiza-se, na história do
homem e do mundo, o caráter esponsal desse amor.

Cristo entrou na história e
permanece nela como o Esposo que « se entregou a si mesmo ». « Entregar-se »
significa « tornar-se um dom sincero », da maneira mais completa e radical: «
Ninguém tem maior amor do que este » (Jo 15, 13). Nesta concepção, por meio da
Igreja, todos os seres humanos – tanto homens como mulheres – são chamados a
ser a « Esposa » de Cristo, redentor do mundo. Assim, « ser esposa », portanto
o « feminino », torna-se símbolo de todo o « humano », segundo as palavras de
Paulo: « não há homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo Jesus » (Gál
3, 28).

Do ponto de vista
linguístico, pode-se dizer que a analogia do amor esponsal segundo a Carta aos
Efésios reporta o que é « masculino » ao que é « feminino », dado que, como
membros da Igreja, também os homens estão compreendidos no conceito de « Esposa
». E isto não pode causar admiração, pois o apóstolo, para exprimir a sua
missão em Cristo e na Igreja, fala de « filhinhos por quem eu sofro as dores de
parto » (cf. Gál 4, 19). No âmbito daquilo que é « humano », daquilo que é
humanamente pessoal, a « masculinidade » e a « feminilidade » se distinguem e,
ao mesmo tempo, se completam e se explicam mutuamente. Isso está presente
também na grande analogia da « Esposa » na Carta aos Efésios. Na Igreja, todo
ser humano – homem e mulher – é a « Esposa », enquanto acolhe como dom o amor
de Cristo redentor, e enquanto procura corresponder-lhe com o dom da própria
pessoa.

Cristo é o Esposo. Nisto se
exprime a verdade sobre o amor de Deus que « foi o primeiro a nos amar » (1 Jo
4, 19) e que com o dom gerado por este amor esponsal pelo homem superou todas
as expectativas humanas: « amou até o fim » (Jo 13, 1). O Esposo – o Filho
consubstancial ao Pai enquanto Deus – tornou-se filho de Maria, « filho do homem
», verdadeiro homem, do sexo masculino. O símbolo do Esposo é de gênero
masculino. Neste símbolo masculino é representado o caráter humano do amor pelo
qual Deus expressou o seu amor divino por Israel, pela Igreja, por todos os
homens. Meditando no que os Evangelhos dizem sobre o comportamento de Cristo
com as mulheres, podemos concluir que como homem, filho de Israel, ele revelou
a dignidade das « filhas de Abraão » (cf. Lc 13, 16), a dignidade possuída pela
mulher desde o « princípio » em igualdade com o homem. E, ao mesmo tempo,
Cristo colocou em evidência toda a originalidade que distingue a mulher do
homem, toda a riqueza a ela conferida no mistério da criação. No comportamento
de Cristo em relação à mulher realiza-se de maneira exemplar aquilo que o texto
da Carta aos Efésios exprime com o conceito de « esposo ». Precisamente porque
o amor divino de Cristo é amor de Esposo, esse amor é o paradigma e o exemplar
de todo amor humano, particularmente do amor dos homens-varões.

A Eucaristia

26. Sobre o amplo horizonte
do « grande mistério », que se exprime na relação esponsal entre Cristo e a
Igreja, é possível também compreender de modo adequado o fato do chamamento dos
« Doze ». Chamando só homens como seus apóstolos, Cristo agiu de maneira
totalmente livre e soberana. Fez isto com a mesma liberdade com que, em todo o
seu comportamento, pôs em destaque a dignidade e a vocação da mulher, sem se
conformar ao costume dominante e à tradição sancionada também pela legislação
do tempo. Por conseguinte, a hipótese segundo a qual ele teria chamado homens
como apóstolos, seguindo a mentalidade difusa no seu tempo, não corresponde em
absoluto ao modo de agir de Cristo. « Mestre, sabemos que és verdadeiro e que
ensinas o caminho de Deus com verdade … pois não fazes acepção de pessoas »
(Mt 22, 16). Estas palavras caracterizam plenamente o comportamento de Jesus de
Nazaré. Nisto se pode encontrar também uma explicação para o chamamento dos «
Doze ». Eles estão com Cristo durante a última Ceia; só eles recebem o mandato
sacramental: « fazei isto em minha memória » (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24), ligado
à instituição da Eucaristia. Eles, na tarde do dia da Ressurreição, recebem o
Espírito Santo para perdoar os pecados: « àqueles a quem perdoardes os pecados,
ficar-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficar-lhes-ão retidos »
(Jo 20, 23).

Encontramo-nos no próprio
centro do Mistério pascal, que revela até o fundo o amor esponsal de Deus.
Cristo é o Esposo porque « se entregou a si mesmo »: o seu corpo foi « dado »,
o seu sangue foi « derramado » (cf. Lc 22, 19-20). Deste modo « amou até o fim
» (Jo 13, 1). O « dom sincero » atuado no sacrifício da Cruz ressalta de modo
definitivo o sentido esponsal do amor de Deus. Cristo é o Esposo da Igreja,
como redentor do mundo. A Eucaristia é o sacramento da nossa redenção. É o
sacramento do Esposo, da Esposa. A Eucaristia torna presente e de modo
sacramental realiza novamente o ato redentor de Cristo, que « cria » a Igreja,
seu corpo. Com este « corpo » Cristo está unido como o esposo com a esposa.
Tudo isto está presente na Carta aos Efésios. No « grande mistério » de Cristo
e da Igreja é introduzida a perene « unidade dos dois », constituída desde o «
princípio » entre o homem e a mulher.

Se Cristo, instituindo a
Eucaristia, a ligou de modo tão explícito ao serviço sacerdotal dos apóstolos,
é lícito pensar que dessa maneira ele queria exprimir a relação entre homem e
mulher, entre o que é « feminino » e o que é « masculino », querida por Deus,
tanto no mistério da criação como no da redenção. É na Eucaristia que, em
primeiro lugar, se exprime de modo sacramental o ato redentor de Cristo Esposo
em relação à Igreja Esposa. Isto se torna transparente e unívoco, quando o
serviço sacramental da Eucaristia, no qual o sacerdote age « in persona Christi
», é realizado pelo homem. É uma explicação que confirma o ensinamento da
Declaração Inter insigniores, publicada por incumbência do Papa Paulo VI para
responder à interrogação sobre a questão da admissão das mulheres ao sacerdócio
ministerial. (50)

O dom da Esposa

27. O Concílio Vaticano II
renovou na Igreja a consciência da universalidade do sacerdócio. Na Nova
Aliança há um só sacrifício e um só sacerdote: Cristo. Deste único sacerdócio
participam todos os batizados, tanto homens como mulheres, enquanto devem «
oferecer a si mesmos como vítima viva, santa, agradável a Deus » (cf. Rom 12,
1), dar em toda parte testemunho de Cristo e, a quem pergunte, dar uma resposta
acerca da esperança da vida eterna (cf. 1 Pdr 3, 15 ). (51) A participação
universal no sacrifício de Cristo, no qual o Redentor ofereceu ao Pai o mundo
inteiro e, particularmente, a humanidade, faz com que todos, na Igreja, sejam «
um reino de sacerdotes » (Apoc 5, 10; cf. 1 Pdr 2, 9), isto é, participem não
só na missão sacerdotal, mas também na profética e real de Cristo Messias. Esta
participação determina, outrossim, a união orgânica da Igreja, como Povo de
Deus, com Cristo. Nela se exprime ao mesmo tempo o « grande mistério » da Carta
aos Efésios: a Esposa unida ao seu Esposo, unida porque vive a sua vida; unida
porque participa na sua tríplice missão (tria munera Christi); unida de maneira
a responder com um « dom sincero de si mesma » ao dom inefável do amor do
Esposo, redentor do mundo. Isto diz respeito a todos na Igreja, tanto a
mulheres como a homens, e diz respeito obviamente também àqueles que são
participantes no « sacerdócio ministerial », (52) que possui o caráter de
serviço. No âmbito do « grande mistério » de Cristo e da Igreja, todos são
chamados a responder – como uma esposa – com o dom da sua vida ao dom inefável
do amor de Cristo, o qual, como Redentor do mundo, é o único Esposo da Igreja.
No « sacerdócio real », que é universal, exprime-se contemporaneamente o dom da
Esposa.

Isso é de fundamental importância
para compreender a Igreja na sua própria essência, fazendo com que se evite
transferir à Igreja – também na sua qualidade de « instituição » composta de
seres humanos e inserida na história – critérios de compreensão e de julgamento
que não dizem respeito à sua natureza. Mesmo que a Igreja possua uma estrutura
« hierárquica », (53) esta, todavia, se ordena integralmente à santidade dos
membros corpo místico de Cristo. E a santidade é medida segundo o « grande
mistério », em que a Esposa responde com o dom do amor ao dom do Esposo, e o
faz « no Espírito Santo », pois « o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado » (cf. Rom 5, 5). O Concílio
Vaticano II, confirmando o ensinamento de toda a tradição, recordou que, na
hierarquia da santidade, precisamente a « mulher », Maria de Nazaré, é « figura
» da Igreja. Ela « precede » todos no caminho rumo à santidade; na sua pessoa «
a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe sem mácula e sem ruga » (cf.
Ef 5, 27). (54) Neste sentido, pode-se dizer que a Igreja é conjuntamente «
mariana » e « apostólico-petrina ». (55)

Na história da Igreja, desde
os primeiros tempos existiam – ao lado dos homens – numerosas mulheres, para as
quais a resposta da Esposa ao amor redentor do Esposo adquiria plena força
expressiva. Como primeiras, vemos aquelas mulheres que pessoalmente tinham
encontrado Cristo, tinham-no seguido e, depois da sua partida, juntamente com
os apóstolos, « eram assíduas na oração » no cenáculo de Jerusalém até ao dia
do Pentecostes. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de « filhos e
filhas » do Povo de Deus, cumprindo o anúncio do profeta Joel (cf. At 2, 17).
Aquelas mulheres, e a seguir outras mais, tiveram parte ativa e importante na
vida da Igreja primitiva, na edificação desde os fundamentos da primeira
comunidade cristã – e das comunidades que se seguiram – mediante os próprios
carismas e o seu multiforme serviço. Os escritos apostólicos anotam os seus
nomes, como Febe, « diaconisa da Igreja de Cêncreas » (cf. Rom 16, 1), Prisca
com o marido Áquila (cf. 2 Tim 4, 19), Evódia e Síntique (Flp 4, 2), Maria,
Trifena, Perside, Trifosa (Rom 16, 6. 12). O apóstolo fala de suas « fadigas »
por Cristo, e estas indicam os vários campos de serviço apostólico da Igreja, a
começar pela « igreja doméstica ». Nesta, de fato, a « fé sincera » passa da
mãe aos filhos e netos, como realmente se verificou na casa de Timóteo (cf. 2
Tim 1, 5).

O mesmo se repete no
decorrer dos séculos, de geração em geração, como demonstra a história da
Igreja. A Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação,
expressou honra e gratidão por aquelas que – fiéis ao Evangelho – em todo o
tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus. Trata-se de
santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram
testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho,
transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja.

Em cada época e em cada país
encontramos numerosas mulheres « perfeitas » (cf. Prov 31, 10), que – não
obstante perseguições, dificuldades e discriminações – participaram na missão
da Igreja. Basta mencionar aqui Mônica, mãe de Agostinho, Macrina, Olga de
Kiev, Matilde de Toscana, Edviges da Silésia e Edviges de Cracóvia, Elisabeth
de Turíngia, Brígida da Suécia, Joana d’Arc, Rosa de Lima, Elisabeth Seaton e
Mary Ward.

O testemunho e as obras de
mulheres cristãs tiveram um influxo significativo na vida da Igreja, como
também na da sociedade. Mesmo diante de graves discriminações sociais, as
mulheres santas agiram de « modo livre », fortalecidas pela sua união com
Cristo. Semelhante união e liberdade enraizadas em Deus explicam, por exemplo,
a grande obra de Santa Catarina de Sena na vida da Igreja e de Santa Teresa de
Jesus na vida monástica.

Também em nossos dias a
Igreja não cessa de enriquecer-se com o testemunho das numerosas mulheres que
realizam a sua vocação à santidade. As mulheres santas são uma personificação
do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo
de « sequela Christi », um exemplo de como a Esposa deve responder com amor ao
amor do Esposo.

VIII. MAIOR É A CARIDADE

Diante das transformações

28. « A Igreja acredita que
Cristo, morto e ressuscitado para todos, pode oferecer ao homem, por seu
Espírito, a luz e as forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação
suprema ». (56) Podemos aplicar estas palavras da Constituição conciliar
Gaudium et Spes ao tema das presentes reflexões. O apelo particular à dignidade
da mulher e à sua vocação, próprio do tempo em que vivemos, pode e deve ser
acolhido na « luz e na força » que o Espírito prodigaliza ao homem: também ao
homem da nossa época, rica de múltiplas transformações. A Igreja « acredita que
a chave, o centro e o fim » do homem, como também « de toda a história humana
se encontram no seu Senhor e Mestre » e « afirma que sob todas as
transformações permanecem muitas coisas imutáveis, que tem seu fundamento
último em Cristo; o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade ». (57)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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