Carta Apostólica Mulieris Dignitatem (Parte 5)

Na ordem da Aliança, que
Deus realizou com o homem em
Jesus Cristo, foi introduzida a maternidade da mulher. E cada
vez, todas as vezes que a maternidade da mulher se repete na história humana
sobre a terra, permanece sempre em relação com a Aliança que Deus estabeleceu
com o gênero humano, mediante a maternidade da Mãe de Deus.

Esta realidade não é talvez
demonstrada pela resposta dada por Jesus ao brado da mulher que, no meio da
multidão, o bendizia pela maternidade d’Aquela que o gerou: « Ditoso o seio que
te trouxe e os peitos a que foste amamentado! »? Jesus responde: « Ditosos
antes os que ouvem a palavra de Deus e a guardam » (Lc 11, 27-28). Jesus
confirma o sentido da maternidade relativa ao corpo; ao mesmo tempo, porém,
indica-lhe um sentido ainda mais profundo, ligado à ordem do espírito: a
maternidade é sinal da Aliança com Deus que « é espírito » (Jo 4, 24). Tal é
sobretudo a maternidade da Mãe de Deus. Também a maternidade de toda mulher,
entendida à luz do Evangelho, não é só « da carne e do sangue »: nela se
exprime a profunda « escuta da palavra do Deus vivo » e a disponibilidade para
« guardar » esta Palavra, que é « palavra de vida eterna » (cf. Jo 6, 68). Com
efeito, são os nascidos de mães terrenas, os filhos e as filhas do gênero
humano, que recebem do Filho de Deus o poder de se tornarem « filhos de Deus »
(Jo 1, 12). A dimensão da Nova Aliança no sangue de Cristo penetra no gerar
humano, tornando-o realidade e responsabilidade de « novas criaturas » (2 Cor
5, 17). A maternidade da mulher, do ponto de vista da história de todo homem, é
o primeiro limiar, cuja superação condiciona também « a revelação dos filhos de
Deus » (cf. Rom 8, 19).

« A mulher, quando vai dar à
luz, está em tristeza, por ter chegado a sua hora. Mas depois de ter dado à luz
o menino, já não se lembra da aflição por causa da alegria de ter nascido um
homem no mundo » (Jo 16, 21). As palavras de Cristo referem-se, na sua primeira
parte, às « dores do parto » que pertencem a herança do pecado original; ao
mesmo tempo, porém, indicam a ligação da maternidade da mulher com o mistério
pascal. Neste mistério, de fato, está incluída também a dor da Mãe aos pés da
Cruz – da Mãe que mediante a fé participa no mistério desconcertante do «
despojamento » do próprio Filho. « Isso constitui, talvez, a mais profunda
“kênose” da fé na história da humanidade ». (40)

Contemplando esta Mãe, cujo
coração foi transpassado por uma espada (cf. Lc 2, 35), o pensamento volta-se a
todas as mulheres que sofrem no mundo, que sofrem no sentido tanto físico como
moral. Neste sofrimento, uma parte é devida à sensibilidade própria da mulher;
mesmo que ela, com frequência, saiba resistir ao sofrimento mais do que o
homem. É difícil enumerar estes sofrimentos, é difícil nomeá-los todos: podem
ser recordados o desvelo maternal pelos filhos, especialmente quando estão
doentes ou andam por maus caminhos, a morte das pessoas mais queridas, a
solidão das mães esquecidas pelos filhos adultos ou a das viúvas, os
sofrimentos das mulheres que lutam sozinhas pela sobrevivência e os das
mulheres que sofreram uma injustiça ou são exploradas. Existem, enfim, os
sofrimentos das consciências por causa do pecado, que atingiu a dignidade humana
ou materna da mulher, as feridas das consciências que não cicatrizam
facilmente. Também com estes sofrimentos é preciso pôr-se aos pés da Cruz de
Cristo.

Mas as palavras do Evangelho
sobre a mulher que sofre aflição, por chegar a sua hora de dar à luz o filho,
logo depois exprimem a alegria: « a alegria de ter nascido um homem no mundo ».
Também esta se refere ao mistério pascal, ou seja, àquela alegria que é
comunicada aos apóstolos no dia da ressurreição de Cristo: « Da mesma maneira
também vós estais agora na tristeza » (estas palavras foram pronunciadas no dia
anterior ao da paixão); « mas eu voltarei a ver-vos; então o vosso coração
alegrar-se-á e ninguém arrebatará a vossa alegria » (Jo 16, 22).

A virginidade pelo Reino

20. No ensinamento de
Cristo, a maternidade anda ligada à virgindade, mas é também distinta dela. A
esse respeito, permanece fundamental a frase dita por Jesus aos discípulos e
inserida no colóquio sobre a indissolubilidade do matrimônio. Tendo ouvido a
resposta dada aos fariseus, os discípulos dizem a Cristo: « Se tal é a condição
do homem em relação à sua mulher, não convém casar-se » (Mt 19, 10).
Independentemente do sentido que a expressão « não convém » tinha então na
mente dos discípulos, Cristo parte da opinião errada que eles tinham, para os
instruir sobre o valor do celibato: ele distingue o celibato como efeito de
deficiências naturais, ainda que causadas pelo homem, do « celibato pelo reino
dos céus ». Cristo diz: « E há outros que se fizeram eunucos por amor do reino
dos céus » (Mt 19, 12). Trata-se, pois, de um celibato livre, escolhido por
causa do reino dos céus, em consideração da vocação escatológica do homem à
união com Deus. Depois ele acrescenta: « Quem for capaz de compreender,
compreenda », e estas palavras retomam o que havia dito no início do discurso
sobre o celibato (cf. Mt 19, 11). Portanto, o celibato por amor do Reino dos
céus é fruto não só de uma escolha livre da parte do homem, mas também de uma
graça especial da parte de Deus, que chama determinada pessoa para viver o
celibato. Se este é um sinal especial do Reino de Deus que deve vir, ao mesmo
tempo serve também para dedicar de modo exclusivo todas as energias da alma e
do corpo, durante a vida temporal, ao reino escatológico.

As palavras de Jesus são a
resposta à pergunta dos discípulos. Elas são dirigidas diretamente àqueles que
faziam a pergunta: neste caso eram homens. Contudo, a resposta de Cristo, em si
mesma, tem valor tanto para os homens como para as mulheres. Neste contexto,
ela indica o ideal evangélico da virgindade, ideal que constitui uma clara «
novidade » em relação à tradição do Antigo Testamento. Esta tradição certamente
se ligava também, de algum modo, com a expectativa de Israel, e especialmente
da mulher de Israel, pela vinda do Messias, que devia ser da « estirpe da
mulher ». Efetivamente, o ideal do celibato e da virgindade para uma maior
proximidade a Deus não era de todo alheio a certos ambientes judaicos,
sobretudo nos tempos que precedem imediatamente a vinda de Jesus. Todavia, o
celibato por causa do Reino, ou seja, a virgindade, é uma verdade inegável
conexa com a Encarnação de Deus.

A partir do momento da vinda
de Cristo, a espera do Povo de Deus deve voltar-se para o Reino escatológico
que vem e no qual ele mesmo deve introduzir « o novo Israel ». Para uma tal
reviravolta e mutação de valores é, de fato, indispensável uma nova consciência
da fé. Cristo acentua isso duas vezes: « Quem for capaz de compreender,
compreenda ». Compreendem-no somente « aqueles aos quais foi concedido » (Mt
19, 11). Maria é a primeira pessoa em quem se manifestou esta nova consciência,
pois ela pede ao Anjo: « Como se realizará isso, pois eu não conheço homem? »
(Lc 1, 34). Embora seja « noiva de um homem chamado José » (cf. Lc 1, 27), ela
está firme no propósito da virgindade, e a maternidade que nela se realiza
provém exclusivamente da « potência do Altíssimo », é fruto da vinda do
Espírito Santo sobre ela (cf. Lc 1, 35). Esta maternidade divina, portanto, é a
resposta totalmente imprevisível à expectativa humana da mulher em Israel: ela
vem a Maria como dom do próprio Deus. Este dom tornou-se o início e o protótipo
de uma nova expectativa de todos os homens, à medida da Aliança eterna, à
medida da nova e definitiva promessa de Deus: sinal da esperança escatológica.

Apoiado no Evangelho
desenvolveu-se e aprofundou-se o sentido da virgindade como vocação também para
a mulher, vocação em que se confirma a sua dignidade à semelhança da Virgem de
Nazaré. O Evangelho propõe o ideal da consagração da pessoa, que significa a
sua dedicação exclusiva a Deus em virtude dos conselhos evangélicos, em
particular os da castidade, pobreza e obediência. A encarnação perfeita dos
mesmos é o próprio Jesus Cristo. Quem deseja segui-lo de modo radical escolhe
pautar a sua vida segundo tais conselhos. Estes distinguem-se dos mandamentos e
indicam ao cristão o caminho da radicalidade evangélica. Desde o início do
cristianismo, tanto homens como mulheres avançam por este caminho, pois o ideal
evangélico é dirigido ao ser humano, sem fazer diferença alguma de ordem
sexual.

Neste contexto mais amplo é
preciso considerar a virgindade como um caminho também para a mulher, um
caminho pelo qual, diversamente do matrimônio, ela realiza a sua personalidade
de mulher. Para compreender este caminho é preciso ainda uma vez recorrer à
idéia fundamental da antropologia cristã. Na virgindade livremente escolhida, a
mulher confirma-se como pessoa, isto é, como criatura que o Criador desde o
início quis por si mesma, (41) e contemporaneamente realiza o valor pessoal da
própria feminilidade, tornando-se « um dom sincero » para Deus que se revelou
em Cristo, um dom para Cristo Redentor do homem e Esposo das almas: um dom «
esponsal ». Não se pode compreender corretamente a virgindade, a consagração da
mulher na virgindade, sem recorrer ao amor esponsal: é, de fato, num amor como
esse que a pessoa se torna um dom para o outro. (42) De resto, de modo análogo
deve ser entendida a consagração do homem no celibato sacerdotal ou no estado
religioso.

A natural disposição
esponsal da personalidade feminina encontra uma resposta na virgindade assim
compreendida. A mulher, chamada desde o « princípio » a amar e a ser amada,
encontra na vocação à virgindade, antes de tudo, Cristo como o Redentor que «
amou até o fim » por um dom total de si mesmo, e ela responde a este dom por um
« dom sincero » de toda a sua vida. Ela doa-se, pois, ao Esposo divino, e esta
sua doação pessoal tende à união, que tem um caráter propriamente espiritual:
mediante a ação do Espírito Santo torna-se « um só espírito » com Cristo-esposo
(cf. 1 Cor 6, 17).

É este o ideal evangélico da
virgindade, no qual se realizam de forma especial tanto a dignidade como a
vocação da mulher. Na virgindade assim entendida exprime-se o assim chamado
radicalismo do Evangelho: deixar tudo e seguir Cristo (cf. Mt 19, 27). Isso não
pode ser comparado ao simples permanecer solteiros ou celibatários, porque a
virgindade não se restringe ao simples « não », mas contém um profundo « sim »
na ordem esponsal: o doar-se por amor de modo total e indiviso.

A maternidade segundo o
espírito

21. A virgindade no sentido evangélico comporta a renúncia
ao matrimônio e, por conseguinte, também à maternidade física. Todavia, a
renúncia a este tipo de maternidade, que pode também comportar um grande
sacrifício para o coração da mulher, abre para a experiência de uma maternidade
de sentido diverso: a maternidade « segundo o espírito » (cf. Rm 8, 4). A
virgindade, de fato, não priva a mulher das suas prerrogativas. A maternidade
espiritual reveste-se de múltiplas formas. Na vida das mulheres consagradas que
vivem, por exemplo, segundo o carisma e as regras dos diversos Institutos de
caráter apostólico, ela poderá exprimir-se como solicitude pelos homens,
especialmente pelos mais necessitados: os doentes, os deficientes físicos, os
abandonados, os órfãos, os idosos, as crianças, a juventude, os encarcerados,
e, em geral, os marginalizados. Uma mulher consagrada reencontra desse modo o
Esposo, diverso e único em todos e em cada um, de acordo com as suas próprias
palavras: « tudo o que fizestes a um destes … a mim o fizestes » (Mt 25,
40).O amor esponsal comporta sempre uma singular disponibilidade para ser
efundido sobre quantos se encontram no raio da sua ação. No matrimônio, esta
disponibilidade, embora aberta a todos, consiste particularmente no amor que os
pais dedicam aos filhos. Na virgindade, tal disponibilidade está aberta a todos
os homens, abraçados pelo amor de Cristo esposo.

Em relação a Cristo, que é o
Redentor de todos e de cada um, o amor esponsal, cujo potencial materno se
esconde no coração da mulher, esposa virginal, está também disposto a abrir-se
para todos e cada um. Isso se verifica nas Comunidades religiosas de vida
apostólica e diversamente naquelas de vida contemplativa ou de clausura.
Existem, além disso, outras formas de vocação para a virgindade por causa do
Reino, como, par exemplo, os Institutos Seculares, ou as Comunidades de
consagrados que florescem dentro de Movimentos, Grupos e Associações: em todas
estas realidades, a mesma verdade sobre a maternidade espiritual das pessoas
que vivem na virgindade encontra uma multiforme confirmação. Em todo o caso,
trata-se não somente de formas comunitárias, mas também de formas
extra-comunitárias. Em definitivo, a virgindade, como vocação da mulher, é
sempre a vocação de uma pessoa, de uma pessoa concreta e única. Portanto, é
também profundamente pessoal a maternidade espiritual que se faz sentir nesta
vocação.

Baseado nisto se verifica
também uma aproximação específica entre a virgindade da mulher não casada e a
maternidade da mulher casada. Tal aproximação vai não só da maternidade para a
virgindade, como se acentuou acima, mas vai também da virgindade para o
matrimônio, entendido como forma de vocação da mulher, em que esta se torna mãe
dos filhos nascidos do seu ventre. O ponto de partida desta segunda analogia é
o significado das núpcias. Com efeito, a mulher é « casada » quer pelo
sacramento do matrimônio, quer espiritualmente pelas núpcias com Cristo. Num e
outro caso as núpcias indicam o « dom sincero da pessoa » da esposa ao esposo.
Deste modo – pode-se dizer – o perfil do matrimônio encontra-se espiritualmente
na virgindade. E se se tratar de maternidade física, não deverá, porventura,
também ela ser uma maternidade espiritual para responder à verdade global do
homem que é uma unidade de corpo e de espírito? Existem, por conseguinte,
muitas razões para ver nestes dois caminhos diversos – duas vocações diversas
de vida da mulher – uma profunda complementaridade e até uma profunda união no
interior do ser da pessoa.

« Filhinhos meus por quem
sofro novamente as dores do parto »

22. O Evangelho revela e
permite compreender precisamente este modo de ser da pessoa humana. O Evangelho
ajuda toda mulher e todo homem a vivê-lo e assim a realizar-se. Existe, de
fato, uma total igualdade em relação aos dons do Espírito Santo, em relação às
« grandes obras de Deus » (At 2, 11). Não só isso. Precisamente diante das «
grandes obras de Deus », o apóstolo-homem sente necessidade de recorrer àquilo
que é por essência feminino, a fim de exprimir a verdade sobre o próprio
serviço apostólico. Exatamente assim age Paulo de Tarso, quando se dirige aos
Gálatas com as palavras: « Filhinhos meus por quem sofro novamente as dores do
parto » (Gál 4, 19). Na primeira Carta aos Coríntios (7, 38) o apóstolo anuncia
a superioridade da virgindade sobre o matrimônio, doutrina constante da Igreja
no espírito das palavras de Cristo, relatadas no Evangelho de Mateus (19,
10-12), sem ofuscar absolutamente a importância da maternidade física e
espiritual. Para ilustrar a missão fundamental da Igreja, ele não encontra
outra coisa melhor do que se referir à maternidade.

Encontramos um reflexo da
mesma analogia – e da mesma verdade – na Constituição dogmática sobre a Igreja.
Maria é a « figura » da Igreja: (43) «Com efeito, no mistério da Igreja – pois
também a Igreja é com razão chamada mãe e virgem – Maria precedeu,
apresentando-se de modo eminente e singular, como modelo de virgem e de mãe…
Deu à luz o Filho, a quem Deus constituiu primogênito entre muitos irmãos (cf.
Rom 8, 29) isto é, entre os fiéis, para cuja regeneração e formação ela coopera
com amor de mãe ». (44) « Por certo, a Igreja, contemplando-lhe a arcana
santidade, imitando-lhe a caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai,
mediante a palavra de Deus recebida na fé, torna-se também ela mãe, pois pela
pregação e pelo batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos
concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus ». (45) Trata-se aqui da
maternidade «segundo o espírito » a respeito dos filhos e filhas do gênero
humano. Tal maternidade – como foi dito – torna-se a « parte » da mulher também
na virgindade. A Igreja « também é virgem que íntegra e puramente guarda a fé
prometida ao Esposo ». (46) Isto se realiza em Maria da maneira mais perfeita.
A Igreja, pois, « imitando a Mãe do seu Senhor, pela virtude do Espírito Santo,
conserva virginalmente uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma sincera
caridade ». (47)

O Concílio confirmou que se
não se recorre à Mãe de Deus, não é possível compreender o mistério da Igreja,
a sua realidade, a sua vitalidade essencial. Indiretamente encontramos aqui a
referência ao paradigma bíblico da « mulher », delineado claramente já na
descrição do « princípio » (cf. Gên 3, 15), e ao longo do percurso que vai da
criação, passando pelo pecado, até chegar à redenção. Deste modo se confirma a
união profunda entre o que é humano e o que constitui a economia divina da
salvação na história do homem. A Bíblia convence-nos do fato de que não se pode
ter uma adequada hermenêutica do homem, ou seja, daquilo que é « humano », sem
um recurso adequado àquilo que é « feminino ». Analogamente acontece na
economia salvífica de Deus: se queremos compreendê-la plenamente em relação a
toda a história do homem, não podemos deixar de lado, na ótica de nossa fé, o
mistério da « mulher »: virgem-mãe-esposa.

VII. A IGREJA – ESPOSA DE CRISTO

O « grande mistério »

Uma importância fundamental
a este respeito têm as palavras da Carta aos Efésios: « Maridos, amai as vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela, a fim de
santificá-la, purificando-a com o lavacro de água juntamente com a palavra,
para apresentar a si próprio essa Igreja resplandecente de glória, sem mancha,
nem ruga, nem coisa alguma semelhante, para que seja santa e irrepreensível.
Desse modo devem também os maridos amar as mulheres, como o seu próprio corpo.
Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria
carne, antes, cada qual a nutre e dela toma cuidados, como Cristo faz também
com a Igreja, pois nós somos membros do seu corpo. Por isso, o homem deixará
pai e mãe, unir-se-á à sua mulher e passarão os dois a formar uma só carne.
Grande mistério é este: mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja » (5,
25-32).

Nesta Carta o autor exprime
a verdade sobre a Igreja como esposa de Cristo, indicando igualmente como esta
verdade se radica na realidade bíblica da criação do homem como varão e mulher.
Criados à imagem e semelhança de Deus como « unidade dos dois », ambos foram
chamados a um amor de caráter esponsal. Pode-se dizer também que, seguindo a
descrição da criação no Livro do Gênesis (2, 18-25), este chamamento
fundamental se manifesta juntamente com a criação da mulher e é inscrito pelo
Criador na instituição do matrimônio, que, segundo o Gênesis 2, 24, desde o
início possui o caráter de união das pessoas (« communio personarum »). Embora
não diretamente, a mesma descrição do « princípio » (cf. Gên 1, 27 e Gên 2, 24)
indica que todo o « ethos » das relações recíprocas entre o homem e a mulher
deve corresponder à verdade pessoal do seu ser.

Tudo isto já foi considerado
precedentemente. O texto da Carta aos Efésios confirma ainda uma vez a verdade
acima apresentada e, ao mesmo tempo, compara o caráter esponsal do amor entre o
homem e a mulher com o mistério de Cristo e da Igreja. Cristo é o Esposo da
Igreja, a Igreja é a Esposa de Cristo. Esta analogia não deixa de ter
precedentes: ela transfere para o Novo Testamento o que já estava presente no
Antigo Testamento, particularmente nos profetas Oséias, Jeremias, Ezequiel e
Isaías. (48) As respectivas passagens merecem uma análise à parte. Citemos pelo
menos um texto. Eis como Deus fala ao seu povo eleito através do profeta: « Não
temas, porque não terás que te envergonhar; não te confundas, porque não terás
do que te enrubescer; antes, esquecerás a vergonha da tua juventude, e não te
lembrarás mais da afronta da tua viuvez; porque o teu esposo é o teu Criador,
cujo nome é Senhor dos exércitos; o teu redentor é o Santo de Israel, que se
chama Deus de toda terra … Será, por acaso, repudiada a mulher desposada na
juventude? Diz o teu Deus. Por um breve instante eu te abandonei, e com grande
afeto, voltarei a acolher-te. Num rapto de ira, ocultei-te o meu rosto por um
momento; mas com perene clemência compadeci-me de ti, diz o teu redentor, o
Senhor (…) Abalar-se-ão os montes e os outeiros vacilarão, mas a minha
clemência de ti não se apartará, e o meu pacto de paz não vacilará » (Is 54,
4-8.10).

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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