Carta aos Corruptos

“Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Mc 8,36)

O Padre Antonio Vieira dizia que no seu tempo se conjugava o verbo roubar em todos os tempos e modos. Parece que a sede do dinheiro não deixa incólume nenhuma geração. Hoje, mais ainda que antes, assistimos a um desfile repugnante de roubos, corrupções e malversações do dinheiro público, dinheiro do povo. As denúncias são quase diárias e as páginas dos jornais e os noticiários estão repletos deles, sobretudo porque a impunidade deixa os corruptos à vontade para agir, bem como os corruptores para aliciá-los.

Nunca vi tanta corrupção em nosso querido Brasil como nos dias atuais. Antes se dizia, ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba como Brasil; hoje basta trocar a palavra saúva por corrupção. 

Muitos hoje se iludem achando que Deus deixa de existir só porque  eles assim decidiram. Queiram ou não Deus existe; e ninguém jamais poderá provar contrário. Jose de Maistre disse que ninguém nega a existência de Deus sem que antes deseje que Ele não exista.

Deus existe, é Amor, mas é também Justiça. É verdade que nele a misericórdia supera a justiça, mas não a anula. E ele julgará cada um de nós conforme o bem ou o mal que tivermos feito nesta vida. Diz a Carta aos hebreus: “Está determinado que cada um morra uma só vez, e em seguida vem o julgamento’ (Hb 9,27) . E São Paulo disse aos coríntios:

“Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo” (2 Cor 5, ). “Todos temos que comparecer perante o tribunal de Deus.” (Rom 14,10).

Será que as pessoas que aceitam um dinheiro que não lhe é de direito, não pensam que um dia terão de prestar contas diante de Deus de cada centavo de que se apropriou sem mérito e sem direito? Os espertalhões, os vendilhões do povo, os articuladores de fraudes nos gabinetes oficiais, sentar-se-ao diante do grande Juiz para prestar contas d cada real roubado. O que dirão ao Juiz Eterno?

Será que o todo Poderoso poderia deixar passar incólume a corrupção que desvia o dinheiro que deveria pagar o hospital e o remédio do pobre doente? Não. Ele é justo.

Será que Deus ficaria impassível diante do ladrão que fica com o dinheiro que seria para construir as casas e os hospitais para o pobre? Será que ele fecharia os olhos para a corrupção que faz desaparecer o dinheiro que deveria saciar a falta de água, esgotos, educação, segurança… para muitos. Não , é claro que não.

Diante de Deus  o corrupto conhecerá os pobres e doentes que não foram atendidos em suas necessidades porque ele se apossou dele fraudulentamente.

Jesus fez uma pergunta fundamental que atravessou dois mil anos e chegou até nós: “de que vale o homem ganhar o mundo todo se vier a perder a sua alma?”. O demônio quis fazer Jesus adorá-lo no deserto, mostrando-lhe todos os bens deste mundo, oferecendo-os a Ele desde que o adorasse. Jesus disse NÃO!  Adorarás somente o Senhor teu Deus!

Infelizmente Deus está nas sombras, para muitos não passa de uma figura de retórica; se existe não age e não cobra justiça. Ledo engano. A Palavra de Deus é eterna e se cumpre. Jesus condenou severamente a atitude daquele homem rico que usava seus bens sem pensar em Deus e nos outros: “Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão? (São Lucas 12,19s).

Desde o Antigo Testamento Deus condena o roubo e a fraude: “Quem comete fraude, é abominável aos olhos do Senhor, teu Deus. (Dt 25,16). “Um reino passa de um povo a outro, por causa das injustiças, dos ultrajes e de fraudes diversas. (Eclo 10,8).

Temos até o último instante de vida neste mundo para nos arrependermos dos pecados cometidos; depois será tarde… Quão terrível será chegar diante de Deus, imediatamente após a morte, e ser questionado por ter se apoderado de um dinheiro que não era justo!

Que essas poucas palavras possam servir de reflexão e de conversão para aqueles que mergulharam no mundo amplo da corrupção de hoje, instalada institucionalmente em nosso país. Depois da morte ninguém mais pode se arrepender e salvar a própria alma.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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