Primeira
sessão na Universidade de Bolonha
BOLONHA,
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – Os ateus, sejam eles conscientes ou não,
também deixam em sua vida um espaço para Deus, segundo se discutiu na primeira
reunião realizada pelo Átrio dos Gentios, um espaço (não físico) para o diálogo
entre crentes e ateus, promovido pelo Conselho Pontifício para a Cultura, por
sugestão de Bento XVI.
Diante as
1.500 pessoas que lotaram o auditório da Universidade de Bolonha, em 12 de
fevereiro, tomaram a palavra pensadores que se consideram ateus ou crentes, em
um diálogo presidido pelo cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho
Pontifício para a Cultura, e por Ivano Dionigi, reitor desta instituição
universitária, a mais antiga do mundo em funcionamento ininterrupto.
“Acho
que falar do homem é equivalente a falar de Deus; e falar de Deus equivale,
sobretudo, a falar do homem”, disse Dionigi em seu discurso.
“Ser
homens de verdade significa levantar questões últimas e interpretar a vida como
um contínuo interrogante e uma busca dessa verdade que nunca é cômoda nem
consoladora”, acrescentou o reitor.
Entre
aqueles que tomaram a palavra, encontrava-se o ex-prefeito de Veneza, Massimo
Cacciari, professor de Estética na universidade daquela cidade, que tratou da
questão do “Ateísmo na cristandade”.
Deus no
ateísmo
O cardeal
Ravasi, em seu discurso, comentou as palavras do filósofo de Veneza para falar
sobre “Deus no ateísmo” ou sobre o que poderia ser definido como a
espiritualidade de um ateu.
E, para
fazer esta reflexão, utilizou o pensamento de Emil Cioran (1911-1995), escritor
e filósofo romeno, que viveu a maior parte de sua vida em Paris: ele se considerava
da “raça dos ateus” e, no entanto, “vivia com o anseio do
seguimento do mistério divino”, constatou o cardeal italiano.
“Eu
sempre dei voltas ao redor de Deus como um delator: ao não ser capaz de
invocá-lo, eu o espiei”, dizia.
Cioran se
declarava ateu e agnóstico e, no entanto, chegou a sugerir aos teólogos um
caminho “estético” particular para provar a existência de Deus. Ele
escreveu: “Quando vocês ouvem Bach, veem o nascimento de Deus… Depois de
um oratório, uma cantata ou uma Paixão, Deus deve existir… E pensar que
tantos teólogos e filósofos desperdiçaram dias e noites à procura de provas da
existência de Deus, esquecendo-se da única!”.
Para o
escritor, “o homem faz você perder toda a fé, é uma espécie de
demonstração da inexistência de Deus”. “Mas, felizmente – e essa é a
grande contradição – existe também, como dissemos antes, Bach…”,
concluiu o cardeal Ravasi.
A Dra. Gaia
Zanini, assistente do Átrio dos Gentios, explicou a ZENIT o espírito desta
iniciativa, observando que “hoje, mais que nunca, a Igreja se sente
chamada a uma dimensão de confronto, de abertura, de contínua revitalização dos
seus fundamentos, precisamente por meio desse recurso inesgotável que é o
diálogo”.
E para que
o diálogo seja frutífero, acrescenta Zanini, não é necessário somente encontrar
a linguagem adequada e a profundidade dos argumentos em si, mas também a
“fidelidade às próprias posturas, a continuidade e a renovação”.
O próximo
encontro do Átrio dos Gentios se realizará nos dias 24 e 25 de março, em Paris,
com discussões na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), na Sorbonne, no Instituto da França e no Colégio dos
Bernardinos. A reunião terminará com uma noitada de festa, aberta a todos,
sobretudo aos jovens, sobre o “Átrio do Desconhecido”, a ser
realizada no átrio da Catedral de Notre Dame de Paris (cf. 26 de
janeiro de 2011).
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Jesús
Colina