As Testemunhas de Jeová

As testemunhas de Jeová constituem uma seita notória pelas suas prega­ções e publicações, que deixam muitos fieis católicos perplexos. Quando se originou? Que mensagem traz?

Origem

O fundador das testemunhas de Jeová é Charles Taze-Russel (1852-1916), jovem comerciante americano. Nascido de família presbiteriana, não se dava por satisfeito com a sua crença religiosa, de modo que, depois de muito procurar, resolveu fundar uma sociedade de estudiosos da Bíblia dita “Torre de Vigia” (cf. Hab 2,1). Examinando a Bíblia, Russel pesquisou a data da segunda vinda de Cristo após as frustradas tentativas dos grupos adventistas de 1843-1844, e descobriu que, após a morte dos apóstolos, ninguém mais compreendeu a Bíblia, ficando reservado a Russel a missão de proclamar ao mundo o verdadeiro sentido da mesma.

Ora, baseando-se em textos de Daniel e Ezequiel, Russel, em 1874, predizia para 1914 a vinda de Cristo, acompanhado dos patriarcas Abraão, Isaac, Jacó e dos profetas da fé. Era quando se daria, então, a batalha de Harmagedon (cf. Ap 16,16), na qual Deus aniquilaria os maus e daria início ao reino milenar de Cristo sobre a terra, reino de bonança e paz… Tal anúncio despertou a atenção de muita gente, que se filiou à nova seita. Contudo, em 1914 nada do previsto aconteceu; Russel, então, explicou: “O Senhor ainda nos concede um pouco de tempo”, e indicou o ano de 1918 como o do início do apregoado reino milenar. A morte, que o colheu em 1916, poupou-o de novo desengano.

O sucessor de Charles Russel, Joseph Franklin Rutherford (1869-1942), viu-se obrigado a refazer os cálculos, indicando, em conseqüência, o ano de 1925 como o da vinda de Cristo e o da batalha final de Harmagedon. Muitas pessoas, aflitas pela dura situação do mundo após a guerra de 1914-1918, aderiram fervorosamente a tal profecia. Dado que em 1925 também nada do predito ocorreu, Rutherford se pôs a rever todo o calendário das testemunhas, e houve por bem não fazer mais profecias. Em 1968, porém, Nathan Knorr, então presidente da sociedade, afirmou pela revista Desperta que o dia de Harmagedon cairia em 1975, segundo a cronologia bíblica.

Tal cronologia era proposta nos seguintes termos: Adão foi criado outono do ano 4026 a.C., donde se segue que em 1975 se completariam seis mil anos da existência do gênero humano. Esses seis mil anos seriam seguidos do reino milenar de Cristo, paralelo ao descanso sabático, em que o Senhor Deus entrou após os seis dias da criação do mundo. Em 1977 o presidente da Sociedade Torre de Vigia, interrogado pela revista Time (11/7/1977, pág. 39s) a respeito do não cumprimento da profecia em 1975, respon­deu que a contagem deve ser alterada, pois o sétimo dia só começou após a criação de Eva, a qual fui posterior à de Adão. Visto que a duração do intervalo entre o surto de Adão e o de Eva ainda não foi revelada pelo Senhor Deus, não se pode afirmar quando começará o sétimo milênio da humanida­de ou o reino milenar de Cristo!

A Sociedade Torre de Vigia tem sua sede em Brooklyn (Nova Iorque, EUA), de onde espalha pelo mundo numerosos livros e panfletos, assim revistas Sentinela e Despertai!

Doutrina

1) As testemunhas de Jeová são contrárias a todas as formas de religião existentes (inclusive o protestantismo e o catolicismo). Para eles, religião significa idolatria ou apostasia, e é obra diabólica. E por quê? Ensinam a imortalidade da alma. Com isso, tornam-se cúmplices do demônio, que quis contradizer a Palavra de Deus: “No dia em que comeres, morrerás (Gn 2,17). O demônio, embora esteja consciente da condição mortal do gênero huma­no, ensinou-lhe, ao menos, a crer na imortalidade da alma.

2) Existe um Deus único que, para se diferenciar dos outros deuses do mundo pagão, quis revelar a Israel o seu nome próprio: Jeová ou Jeová Deus.

O nome “Jeová”, dizem, passou para plano secundário, principalmente após a morte dos apóstolos. Recentemente, porém, Deus quis despertar os seus fiéis para proclamarem Jeová Deus.

Em Deus não há três pessoas. O mistério da Santíssima Trindade parece absurdo às testemunhas. Com efeito, Deus fez o homem à sua imagem e semelhança; ura, o homem tem uma só cabeça – por conseguinte, Deus não tem três cabeças!

3) Jesus Cristo é a primeira criatura de Jeová, usado como instrumento para a criação de tudo mais. Russel diz que Jesus era Miguel Arcanjo! Quan­do, milênios após a criação, essa criatura se fez homem, a sua natureza foi completamente transformada de
angélica em humana. Quando Cristo morreu na cruz, era meramente homem; a morte foi o seu fim total. Mas um ente­-espírito emergiu do túmulo, criado por Deus, para viver urna vida meramente espiritual. Assim se entende a “ressurreição de Cristo”, conforme as testemunhas.

4) O homem foi criado em condições de bonança paradisíaca; não possui alma imortal. Em conseqüência, a morte vem a ser, para ele, aniquilamento total. Foi satã quem incutiu nos homens a concepção de que a alma é imortal. As testemunhas falam de ressurreição dos mortos. Esta não se dá por reunião da alma e do corpo, mas é entendida como criação de um novo ser.

O homem pecou no paraíso. Desde então, Deus luta contra Satanás; este suscita seus adeptos, ao passo que Deus (Jeová) tem suas fiéis testemunhas.

5) A História é marcada por tal luta. A batalha final de Harmagedon será travada entre Cristo e seus inimigos. Os que vencerem, dentre os homens, serão divididos em duas categorias. A primeira, chamada “Classe Consagrada” ou “Classe Vitoriosa”, será um pequeno rebanho, limitado a 144 mil eleitos. Estes irão para o ar superior, a fim de reinar com Cristo; não precisarão de alimento, e serão recrutados entre as testemunhas de Jeová! Já, porém, que a seita atinge atualmente mais de um milhão de adeptos, cada testemunha tem motivos de ansiedade por não saber quem fará parte deste número seleto de 144 mil. A segunda categoria constará do resto dos homens salvos, ditos “Jonadabs”; serão deixados na carne e no sangue. Esta terra será a sua eterna morada; farão com que ela seja habitada por homens e mulheres, justos e mansos, em ambiente de paz, livres de opressão, doença e morte. Eles se multiplicarão sobre a terra, donde a pergunta: que resultará de uma constante multiplicação de seres humanos neste mundo, isentos de morte para tudo o sempre?

Quanto àqueles que não conseguirem  superar a prova final, serão aniquilados, juntamente com o diabo e todos os seus anjos.

Na vida concreta, as testemunhas são contrárias a várias instituições da sociedade, como a celebração do Natal e a oferta de presentes. São reservados frente à caça e à pesca (em Gn 10,8s, Nemrod, tido como grande caçador, é condenado). Não aceitam transfusão de sangue, pois a vida  reside  no sangue e pertence a Deus só! Tendem a ver as instituições políticas como ampla organização satânica.

Breve avaliação

Toda a doutrina das testemunhas está baseada numa interpretação arbitrária das Escrituras Sagradas. O fundador julgou ter descoberto a mensagem bíblica e desejou recomeçar a vivência da mesma a partir da estaca zero, como se ninguém tivesse entendido o Evangelho até a sua época. Quis dar mais ênfase ao Antigo Testamento do que ao Novo, negando a Santíssima Trindade e a divindade de Jesus Cristo, por isso, as testemunhas já não podem ser consideradas como cristãs.

Não podemos, em breve espaço, refutar todas as informações falsas da seita. Mas daremos um exemplo que mostra bem como as bases da sua interpretação bíblica não se sustentam. Charles Russel era um comerciante que pretendia sondar as Escrituras em tradução inglesa, pois não conhecia o grego e o hebraico. Eis umas das conseqüências desse fato: Russel lia em inglês o texto de Lv 28,16, que, segundo o original hebraico, diz: “Se, apesar disso, não me ouvirdes, punir-vos-eis sete vezes mais pelos vossos pecados”.

Ora, usando somente o texto inglês, Russel interpretava “seven times (more)” como sete tempos ou períodos, em vez de sete vezes.

Para Russel, um tempo equivalia a um ano simbólico, ou seja, a 360 anos ( em vez de 360 dias); sete tempos seriam, pois, 7 x 360 = 2520 anos. Dado que este período de 2520 anos tenha principiado em 606 a. C. ( quando Nabucodonosor começou a ameaçar Jerusalém, dando início à chamada  “era dos gentios”), 606 anos haviam decorridos no início da era cristã, e restavam 1914 anos após o nascimento de Cristo para se ter o fim da “era dos gentios” e a segunda vinda de Cristo (2520 – 606 = 1914). Era como base nesses cálculos que Russel predizia o fim dos tempos para 1914.

Julgue o próprio leitor a validade dessa interpretação, desmentida pela própria história, e de tantas outras interpretações simplórias e fantasistas da Bíblia, sobre as quais se fundamenta a doutrina das testemunhas (…).

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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