As 50 proposições do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia – Parte 2

Proposição 11



Escassez de sacerdotes
A centralidade da Eucaristia para a vida da Igreja faz sentir com aguda dor o
problema da grave carência de clero em algumas partes do mundo. Muitos fiéis
são assim privados do Pão da vida. Para sair ao encontro da fome eucarística do
povo de Deus, que freqüentemente e em períodos longos tem de prescindir da
celebração eucarística, é necessário recorrer a iniciativas pastorais eficazes.
Neste contexto, os Padres Sinodais afirmaram a importância do dom inestimável
do celibato eclesiástico na prática da Igreja latina. Em relação ao Magistério,
em particular ao Concílio Vaticano II e dos últimos Pontífices, os Padres
pediram para ilustrar adequadamente aos fiéis as razões da conexão entre o
celibato e a ordenação sacerdotal, em pleno respeito da tradição da Igreja
oriental. Alguns se referiram aos ¨viri probati¨, mas esta hipótese foi
avaliada como uma estrada a não percorrer.
Por outro lado, deve-se ter em conta que, para oferecer o dom eucarístico a
todos os fiéis, tem um peso decisivo a qualidade cristã da comunidade e a sua
força de atração. Trata-se particularmente de:

– solicitar dos pastores que promovam as vocações sacerdotais; a descobrir-se e
a transformar-se em anunciadores, já a começar pelos jovens, e cuidando dos
acólitos;

– não ter medo de propor aos jovens a radicalidade do seguimento de Cristo;

– sensibilizar as famílias, que em alguns casos são indiferentes quando não
totalmente contrárias;

– cultivar a oração pelas vocações em todas as comunidades e em todo ambiente
eclesial;

– cuidar, da parte dos Bispos, envolvendo também as famílias religiosas,
respeitando o carisma próprio, uma muito equilibrada distribuição do clero e
solicitar do próprio clero uma grande disponibilidade para servir a Igreja lá
onde é mais necessário, ainda que à custa de sacrifício.

Proposição 12

Pastoral vocacional
Como resposta ao dever urgente da Igreja de oferecer o dom da Eucaristia de
modo habitual a todos os fieis, e dada a escassez de sacerdotes em vários
lugares, voltamos os olhos ao Senhor e Lhe pedimos insistentemente para enviar
operários para Sua messe.
De nossa parte, propomos reforçar a pastoral vocacional e a dimensão vocacional
de toda a pastoral, especialmente da juvenil e familiar. Propomos, por isso
para:

– constituir grupos de coroinhas e procurar seu acompanhamento espiritual;

– difundir a adoração eucarística pelas vocações, nas paróquias, nos colégios e
nos movimentos eclesiais;

– estimular as paróquias e todos os sacerdotes ao acompanhamento espiritual e à
formação dos jovens, convidando-os a seguir a Cristo no sacerdócio com o
próprio testemunho;

– organizar, segundo as possibilidades, um centro vocacional ou um Seminário
menor nas Igrejas particulares.

Bispos e sacerdotes queremos nos empenhar pessoalmente neste gênero de
pastoral, dando exemplo de entusiasmo e de piedade.

Catequese e mistagogia

Proposição 13

A seqüência dos sacramentos da iniciação cristã
O estreito vínculo entre Batismo, Confirmação e Eucaristia não é
suficientemente percebido. É oportuno, portanto, explicar que somos batizados e
crismados em relação à Eucaristia. Favoreça-se então uma melhor celebração de
qualquer um destes sacramentos, qualquer que seja a ordem cronológica ou a
idade da celebração da Confirmação ou da Primeira Comunhão. Um aprofundamento
teológico e pastoral da Confirmação neste sentido pode ser de grande valor.
Tudo isto tem, por outro lado, um valor positivo no diálogo ecumênico.
A idade certa para a Confirmação pode ser repensada. Será também considerada se
na Igreja latina a seqüência Batismo, Confirmação, Primeira Comunhão deva ser
observada somente para os adultos ou não também para as crianças. A tradição
latina, que se diferencia da tradição oriental para a separação da celebração
da Confirmação daquela do Batismo, tem um direito próprio e um próprio peso.
Por outro lado as diferenças entre as duas tradições não são de natureza
dogmática. Ambas tradições, de fato, dão uma diversa resposta prática à
idêntica situação de grande numero de batismos de crianças.

Proposição 14

Eucaristia, catequese e formação
A Eucaristia, mysterium fidei, inscrita na aliança de Deus com Seu povo, é a
fonte de inspiração de toda proposta de formação pastoral. Esta deve manifestar
a Eucaristia na sua relação íntima com todos os outros sacramentos, guiando o
homem e a mulher do nosso tempo para uma vida nova em Cristo.
Com este fim devem-se desenvolver itinerários catecumenais bem inculturados nos
quais se encontrem a apresentação do conteúdo doutrinal, a introdução à vida
espiritual e moral e ao empenho social.
Todo o povo de Deus – Bispos e párocos segundo sua específica responsabilidade
– deve se comprometer nesta formação permanente promovida em toda Igreja
particular, especialmente os fiéis que atuam nas paróquias e nas comunidades,
como os catequistas e os evangelizadores.
De modo particular será dada aos seminaristas uma sólida formação sobre os
fundamentos teológicos, litúrgicos, pastorais de uma autêntica espiritualidade
eucarística.
Esses devem compreender melhor o sentido de toda norma litúrgica. As paróquias
e as pequenas comunidades que dela fazem parte devem ser das escolas de
mistagogia eucarística. Neste contexto, buscar-se-á a cooperação das
comunidades de vida consagrada, dos movimentos e das associações que valorizam,
segundo os seus próprios carismas, a formação cristã.
No quadro da nova evangelização reconhecemos a necessidade de desenvolver novas
formas de catequese adaptadas às diversas situações e culturas. Neste contexto,
o Catecismo da Igreja Católica e os recentes ensinamentos do Magistério devem
ser de referências privilegiadas.

Proposição 15

Família e iniciação sacramental
Necessita-se associar a família cristã à iniciação sacramental das crianças.
Não se deve restringir sem razão o acesso das crianças à mesa eucarística. A
Primeira Comunhão, sobretudo, é um passo de grande importância para uma vida
empenhada sobre a via da santidade, plena de caridade, de alegria e de paz.
Toda família, sustentada pela paróquia, pelos sacerdotes, pelas pessoas
consagradas, pelos colaboradores leigos e, de modo especial, pela escola
católica, deve favorecer um processo educativo para a Eucaristia.
A Igreja, família de Deus, cresce e se nutre na mesa da Palavra de Deus e do
Corpo de do Sangue de Cristo. A celebração da Eucaristia deve promover sempre
mais em todos níveis a conquista de consciência e a realização de uma “Igreja
família” caminho da solidariedade, a relação familiar e a comunhão entre todos
os membros da comunidade.

Proposição 16

Catequese Mistagógica
A tradição mais antiga da Igreja recorda que o caminho cristão, sem percorrer a
inteligência sistemática dos conteúdos da fé, é experiência que nasce do anúncio,
aprofunda-se na catequese e encontra a sua fonte e seu cume na celebração
litúrgica.
Fé e sacramentos são dois aspectos complementares da atividade santificadora da
Igreja. Suscitada pelo anúncio da Palavra de Deus, a fé é nutrida e cresce no
encontro de graça com o Senhor ressuscitado nos sacramentos. A fé se exprime no
rito e o rito reforça e fortifica a fé.
Daqui a exigência de um itinerário mistagógico para viver na comunidade e com a
sua ajuda e que se funda sobre três elementos essenciais: a interpretação dos
ritos à luz dos eventos bíblicos em conformidade à tradição da Igreja; a
valorização dos sinais sacramentais; o significado dos ritos em vista do
empenho cristão na vida. É desejável desenvolver o método mistagógico sobretudo
com os jovens da Primeira Comunhão e com os crismandos.

Proposição 17

Compêndio sobre a Eucaristia
Os ofícios competentes da Santa Sé e/ou as Conferências Episcopais devem
considerar o projeto de um Compêndio eucarístico ou um instrumento de ajuda
pastoral que recolha ao mesmo tempo elementos litúrgicos, doutrinais, de
catequese e devocionais sobre a Eucaristia, para ajudar a desenvolver a fé e a
piedade eucarística. Tal Compêndio pode trazer o melhor do ensinamento
patrístico, a experiência da Igreja latina e das Igrejas orientais e orações
devocionais. Deve incluir uma catequese apropriada sobre a natureza e sobre a
estrutura das Orações eucarísticas.

Segunda Parte

A participação do Povo de Deus na celebração eucarística

A estrutura da celebração eucarística

Proposição 18

A Palavra de Deus na Celebração Eucarística
Das duas mesas, da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo, a Igreja recebe e
oferece aos fieis o Pão da vida, particularmente na santa liturgia. A Palavra
de Deus, como todo o mistério eucarístico, não é acessível se não na fé.
Convém, por isso, que as Leituras sejam proclamadas com cuidado, se possível
por leitores instituídos.
Deve ser dado o justo peso à Liturgia da Palavra na celebração eucarística.
Existe um vínculo intrínseco entre a Palavra de Deus e a Eucaristia.
Na Eucaristia, o Verbo feito carne se dá a nós como alimento espiritual.
Escutando a Palavra de Deus nasce a fé (cf. Rm 10, 17).
Para apreciar, celebrar e viver melhor a Eucaristia é necessário um
conhecimento profundo das Sagradas Escrituras proclamadas. “A ignorância da
Escritura é ignorância de Cristo” (cf. DV 25). O fiel deve ser ajudado a
apreciar os tesouros da Escritura no Lecionário, através do desenvolvimento do
apostolado bíblico, o encorajamento dos grupos paroquiais que preparam a Missa
dominical mediante o estudo orante das próprias leituras e praticas litúrgicas
como o silêncio ou eventuais poucas palavras de introdução que ajudem uma
melhor compreensão. Por outro lado, o povo de Deus deve ser educado através de
uma catequese fundada sobre a Palavra de Deus. Amar, ler, estudar, meditar e
pregar a Palavra de Deus é um fruto precioso da pratica da lectio divina, dos
grupos de estudo e de oração bíblicos em família e nas pequenas comunidades
eclesiais.
Próprio pelo intrínseco nexo entre a liturgia da Palavra e a eucarística a
Palavra de Deus seja venerada e honrada (cf. DV 21), em particular os
Evangelhos, como sinal da presença do Verbo encarnado na assembléia dos fiéis
(cf. IL 46).
A oração dos fiéis ache uma expressão que melhor a relacione à Palavra de Deus,
às necessidades da assembléia e, mais ainda, àqueles de toda a humanidade.

Proposição 19

A homilia
A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada. Por
isso, pede-se aos ministros ordenados que considerem a celebração como seu
principal dever. Em particular devem preparar cuidadosamente a homilia,
baseando-se sobre um conhecimento adequado da Sagrada Escritura.

Que a homilia ponha a Palavra de Deus proclamada na celebração em estreita relação
com a celebração sacramental (cf. SC 52) e com a vida da comunidade, de tal
modo que a Palavra de Deus seja realmente sustento e vida da Igreja (DV 21) e
se transforme em alimento para a oração e para a existência cotidiana.
A homilia em conformidade aos ensinamentos dos Padres da Igreja é uma
verdadeira mistagogia, ou seja, uma verdadeira iniciação aos mistérios
celebrados e vividos. Foi também sugerida a possibilidade de se recorrer,
partindo do lecionário trienal, na homilia ‘temática’ que, durante o ano
litúrgico, possa tratar os grandes temas da fé cristã: O Credo, O Pai nosso, as
partes da Missa, os Dez Mandamentos e outros argumentos. Estas homilias
temáticas corresponderão a isto que foi proposto pelo Magistério da Igreja nos
quatro ‘pilares’ do Catecismo da Igreja Católica e no recente Compêndio. Por
este motivo, também se propõe elaborar um subsídio pastoral, baseado no
lecionário trienal, que ligue a proclamação das Escrituras à doutrina da fé que
brota dessas.


Proposição 20

A oferta do trabalho humano
O pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho do homem, que colocamos sobre o
altar como expressão da oferta da vida da família humana, significam que toda a
criação é assumida por Cristo Redentor para ser transformada em seu amor
recapitulador, e ser apresentada ao Pai.
Coloque-se sempre mais em evidência como a dignidade do trabalho dos homens e
das mulheres de todo o mundo, através da celebração eucarística está
intimamente unida ao sacrifício redentor de Cristo Senhor. ZP05102530

Proposição 21

Aclamações na Oração Eucarística
As orações eucarísticas podem ser enriquecidas com aclamações, não somente
depois da consagração, mas também em outros momentos, como é previsto nas
orações eucarísticas para as celebrações com as crianças, e como se faz em
diversos países.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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