As 50 proposições do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia – Final

Proposição
37

As grandes celebrações
Os Padres sinodais reconhecem o alto valor das celebrações, especialmente
aquelas presididas pelo Bispo com seu presbitério, os diáconos e os fiéis.
Pede-se, porém, aos organismos competentes que estudem melhor a prática da
concelebração quando o número dos celebrantes é muito elevado.

Parte terceira

A missão do povo de Deus nutrido pela Eucaristia

Eucaristia e comunidade cristã

Proposição 38

Gratidão pelos sacerdotes, os diáconos e os outros ministros e colaboradores
litúrgicos
A Assembleia Sinodal exprime intensa gratidão, apreço e encorajamento aos
sacerdotes, em particular aos presbíteros «fidei donum», ministros da
Eucaristia, que com competência e generosa dedicação edificam a comunidade com
o anúncio da Palavra de Deus e do Pão da vida.
Recomenda-se vivamente aos sacerdotes a celebração quotidiana da Santa Missa,
ainda que não haja participação dos fiéis.
Igualmente o Sínodo agradece os diáconos permanentes que colaboram com os
presbíteros na obra de evangelização mediante a proclamação da Palavra de Deus
e da distribuição da santa Comunhão. É conveniente promover este ministério,
segundo as indicações conciliares.
Da mesma forma, é importante agradecer aos ministros instituídos, os
consagrados e as consagradas, os ministros extraordinários da santa Comunhão,
os catequistas e outros colaboradores que ajudam a preparar e a celebrar a
Eucaristia e a distribuí-la com dignidade, e especialmente os animadores que
comunicam a Palavra de Deus e dão a Comunhão nas celebrações comunitárias na
ausência do sacerdote.
Os Padres sinodais apreciam muito o testemunho dos fiéis cristãos que
participam freqüentemente da celebração Eucarística nos dias de semana,
sobretudo daqueles que enfrentam notáveis dificuldades devido à idade e à
distância.


Proposição 39

Espiritualidade eucarística e vida quotidiana
Os fiéis cristãos necessitam de uma mais profunda compreensão das relações
entre Eucaristia e a vida quotidiana. A espiritualidade eucarística não é
somente participação na Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento. Ela abraça a
vida inteira.
Encorajamos sobretudo os fiéis leigos a continuar na sua busca de um mais alto
sentido da Eucaristia na sua vida e a sentir fome de Deus. Pedimos aos teólogos
leigos exprimir a sua experiência de viver a existência quotidiana em um
espírito eucarístico. Encorajamos especialmente as famílias a serem inspiradas
e projetar a vida pela Eucaristia. Desta forma, esses participam na
transformação de seu ambiente social através do testemunho de sua vida pessoal
e o exercício de sua vocação batismal que os destina a levar a Boa Nova aos
seus vizinhos.
Neste quadro resplandece o testemunho profético das consagradas e dos
consagrados que encontram na celebração Eucarística e na Adoração a força para
um seguimento radical de Cristo, obediente, casto e pobre. A vida consagrada
tem aqui a fonte da contemplação, a luz para a ação apostólica e missionária, o
sentido último do próprio empenho com os pobres e os marginalizados e a
segurança da realidade do Reino.

Proposição 40

Os divorciados novamente casados e a Eucaristia
Em continuidade com os numerosos pronunciamentos do Magistério da Igreja e
partilhando da sofrida preocupação expressa por muitos Padres, o Sínodo dos
Bispos confirma a importância de uma atitude e de uma ação pastoral de atenção
e de acolhimento dos fiéis divorciados e que se casaram novamente.
Segundo a Tradição da Igreja católica, esses não podem ser admitidos à Santa
Comunhão, encontrando-se em condições de objetivo contraste com a Palavra do
Senhor que reportou o matrimônio ao valor originário da indissolubilidade (cf.
CCC 1640), testemunhado por seu dom esponsal sobre a cruz e participado pelos
batizados através da graça do sacramento. Os divorciados recasados todavia
pertencem à Igreja, que os acolhe e acompanha com especial atenção, para que
cultivem um estilo cristão de vida através da participação na Santa Missa,
porém sem receber a Santa Comunhão. A escuta da Palavra de Deus, a Adoração Eucarística,
a oração, a participação na vida comunitária, o diálogo confidente com um
sacerdote ou um mestre de vida espiritual, a dedicação à caridade vivida, as
obras de penitência, o empenho educativo para os filhos. Se depois não vem
reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se dão condições objetivas que
de fato tornem a convivência irreversível, a Igreja os encoraja a empenhar-se a
viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, transformando-a em
uma amizade leal e sólida; assim podendo retornar à mesa eucarística, com as
atenções previstas pela provada prática eclesial, mas se evite de abençoar
estas relações para que entre os fiéis não surjam confusões acerca do valor do
matrimônio.
Ao mesmo tempo, o Sínodo deseja que seja feito todo esforço possível, seja para
assegurar o caráter pastoral, a presença e a correta e solícita atividade dos
tribunais eclesiásticos para as causas de nulidade matrimonial (cf. Dignitas
connubii), seja para aprofundar ulteriormente os elementos essenciais para a
validade do matrimônio, também tendo em conta os problemas emergentes do
contexto de profunda transformação antropológica do nosso tempo, pelo qual os
mesmos fiéis correm o risco de ser condicionados, especialmente na ausência de
uma sólida formação cristã. O Sínodo reforça que, em todo caso, grande atenção
deva ser assegurada à formação dos nubentes e à prévia verificação de sua
efetiva aceitação das convenções e dos empenhos irrenunciáveis para a validade
do sacramento do matrimônio, e pede aos Bispos e aos párocos a coragem de um
sério discernimento para evitar que impulsos emotivos ou razões superficiais
conduzam os nubentes a assumir uma grande responsabilidade para consigo mesmos,
para com a Igreja e para com a sociedade, que não saberão depois honrar.

Proposição 41

Admissão dos fiéis não-católicos à Comunhão
Com base na comunhão de todos os cristãos, que o único Batismo já torna
operante, também se não agora de maneira completa, a separação na mesa do
Senhor é experimentada justamente como dolorosa. Seja dentro da Igreja católica
como por parte de nossos irmãos e irmãs não católicos, está avançando a busca
urgente da possibilidade de Comunhão eucarística entre os cristãos católicos e
os outros. Deve-se esclarecer que a Eucaristia não designa e opera só a nossa
pessoal comunhão com Jesus Cristo, mas sobretudo a plena comunhão com a Igreja.
Por isso, pedimos que os cristãos não-católicos compreendam e respeitem o fato
que para nós, segundo toda a tradição biblicamente fundada, a Comunhão
eucarística e a comunhão eclesial se pertencem intimamente e, portanto, a
Comunhão eucarística com os cristãos não-católicos não é geralmente possível.
Há que excluir uma concelebração ecumênica.
Igualmente deve ser esclarecido que, em vista da salvação pessoal, a admissão
de cristãos não-católicos à Eucaristia, ao sacramento da Penitência e à Unção
dos Enfermos, em determinadas situações individuais bem sob precisas condições
é possível é sempre recomendada (UR 8, 15; Direttorio Ecumênico 129-131; CIC
844 § 3 e 4; CCEO 671 §4; Carta encíclica Ut unum sint 46l Carta encíclica
Ecclesia de Eucaristia 46). O Sínodo insiste para que as condições expressas no
Catecismo da Igreja Católica (1398-1401) e em seu Compêndio (293),
sejam observadas.

A Eucaristia pelo mundo
Proposição 42

Eucaristia e missão

Os fieis são convidados a tomar consciência de que uma Igreja autenticamente
eucarística é uma Igreja missionária. De fato, a Eucaristia é fonte de missão.
Na Eucaristia nos tornamos sempre mais discípulos de Cristo, escutando a
Palavra de Deus, a qual nos leva a um encontro comunitário com o Senhor
mediante a celebração do memorial da sua morte e ressurreição e através da
comunhão sacramental com Ele. Este encontro eucarístico se realiza no Espírito
Santo que nos transforma e santifica. Revela no discípulo a vontade decisiva de
anunciar aos outros, com audácia, quanto se escutou e viveu, para conduzir
também eles ao mesmo encontro com Cristo. Neste moto, o discípulo, enviado pela
Igreja, abre-se a uma missão sem fronteiras.
Enquanto dizemos obrigado a todos os missionários cristãos operantes no mundo,
reforçamos a necessidade de reconhecer Cristo como o único salvador.
Na educação missionária, a centralidade da afirmação da unicidade se fará
emergir de todos os modos. Isto impedirá de reduzir em chave meramente
sociológica a decisiva obra de promoção humana implicada na evangelização.
Os Padres percebem as graves dificuldades que investem a missão daquelas
comunidades cristãs que vivem em condições de minoridade ou realmente em
contexto privadas de liberdade religiosa.

Proposição 43

Espiritualidade Eucarística e santificação do mundo
A Eucaristia está na origem de toda forma de santidade. Para desenvolver uma
espiritualidade eucarística profunda é necessário que o povo cristão, que dá
graças por meio da Eucaristia, tenha consciência de fazê-lo em nome de toda
criação aspirando à santificação do mundo e trabalhando por ela. A vida cristã
encontra na celebração eucarística o próprio caminho: a oferta de si, a
comunhão e a solidariedade são aspectos da “logiké latreia” (cf. Rm 12, 1).
A promoção da participação diária na celebração da Santa Missa demonstra-se,
nos ritos latinos, um meio eficaz de desenvolvimento desta espiritualidade no
coração da vida familiar, profissional, social e política.
A oferta diária (ensinada por exemplo pelo Apostolado da Oração praticado por
milhões de católicos do mundo inteiro) pode ajudar a todos a se tornarem uma
“figura eucarística” sob o exemplo de Maria, unindo a própria vida à de Cristo
que se oferece pela humanidade.

Proposição 44

Eucaristia e enfermos
Consideramos de prima importância favorecer a celebração eucarística pelos
enfermos, mediante uma catequese adequada sobre a ativa participação na paixão,
morte e ressurreição de Cristo. Um especial significado da Eucaristia, enquanto
ápice da vida cristã, está ligado na Sua recepção como Santo Viático. Assim
como se permite ao enfermo a plenitude pascal se recomenda intensificar a
prática.
Em particular se pede que se assegure a comunhão eucarística aos deficientes
mentais, batizados e crismados: esses recebem a comunhão na fé da família ou da
comunidade que os acompanha. A impossibilidade de conhecer qual é a
sensibilidade efetiva própria de certa tipologia dos enfermos não é uma razão suficiente
para não dá-los todos os suportes sacramentais dos quais a Igreja dispõe.
É importante que aqueles que sofrem de deficiência possam ser reconhecidos como
membros da Igreja e tenham nela seu justo lugar. É desejável, por outro lado,
que a funcionalidade arquitetônica das igrejas facilitem-nos a participação nas
celebrações.

Proposição 45

Eucaristia e Migrantes
O Sínodo, agradecendo quantos estão empenhados neste campo, convida todos os
Bispos a exercitarem a seu cuidado pastoral com os migrantes. Estes fiéis devem
ser acolhidos como membros do mesmo Corpo de Cristo, a prescindir de sua raça,
status ou condições, especialmente na celebração eucarística. A caridade de
Cristo urge a que as outras Igrejas locais e os institutos de vida consagrada ajudem
generosamente as dioceses que acolham um grande número de migrantes.
Por outro lado, seja concedido aos migrantes de rito oriental, enquanto
possível, serem assistidos pelos seus sacerdotes. A fim de que as liturgias
orientais sejam mais bem conhecidas se estabeleça no seminário o “Dies
orientalis”.


Proposição 46

Coerência eucarística dos políticos e legisladores católicos
Os políticos e legisladores católicos devem sentir-se particularmente
interpelados em sua consciência, retamente formada, sobre a grave
responsabilidade social de apresentar e sustentar leis iníquas. Não existe
coerência eucarística quando se promovem leis que vão contra o bem integral do
homem, contra a justiça e o direito natural. Não se pode separar a opção
privada e aquela pública, colocando-se em contraste com a lei de Deus e o
ensinamento da Igreja, e isto deve ser considerado também diante da realidade
eucarística (cf. 1Cor 11, 27-29).
No aplicar esta orientação os Bispos exercitem a virtude da fortaleza e da
prudência, tendo em conta as situações locais concretas.

Proposição 47

Eucaristia e ecologia
Os cristãos, reforçados pelo sacramento da Eucaristia, empenhem-se mais
decididamente em testemunhar a presença de Deus no mundo. A Igreja promova uma
mudança de mentalidade e de coração, que facilite uma relação harmônica e
responsável do ser humano com o criado.
A contemplação e a gratidão pelo dom do amor de Deus constituído pela criação
possam representar um meio de evangelização pelos povos de hoje, cujas
preocupações ecológicas possam receber um novo significado religioso mediante o
reconhecimento do chamado de Deus à humanidade a exercitar um serviço
responsável com Sua obra de Criador, conforme a esperança cristã.
Esta reflexão pode, por outro lado, ajudar os cristãos a ligar a doutrina sobre
a criação àquela sua “nova criação”, inaugurada na ressurreição de Cristo, novo
Adão, que deu à Igreja o mandamento de preparar a transformação do criado nos
“novos céus e nova terra”.

Proposição 48

Dimensão social da Eucaristia
O sacrifício de Cristo é mistério de libertação que nos interpela. É no empenho
para transformar as estruturas injustas para restabelecer a dignidade do homem,
criado à imagem e semelhança de Deus, que a Eucaristia se torna na vida isto
que essa significa na celebração. Este movimento dinâmico se abre às dimensões
do mundo: põe em questão o processo de globalização que não raramente faz
crescer o descaso entre países ricos e países pobres; denuncia aquelas
potências políticas e econômicas que dilapidam as riquezas da terra; reclama as
graves exigências da justiça distributiva diante das desigualdades que gritam
ao céu; encoraja os cristãos a empenharem-se e a operarem na vida política e na
ação social.
Âmbitos de particular preocupação são a pandemia de HIV/AIDS, a droga e o
alcoolismo.
Um singular cuidado pastoral merecem os encarcerados para que possam participar
da Eucaristia e receber a Santa Comunhão.
Quem participa da Eucaristia deve-se empenhar a construir a paz no nosso mundo
assinalado por muitas violências e guerras, e hoje de modo particular, pelo
terrorismo, pela corrupção econômica e pela exploração sexual.
Condições para construir uma verdadeira paz são a restauração da justiça, a
reconciliação e o perdão.
Para educar-se na caridade e na justiça, os fiéis se sirvam do Magistério
social, recentemente recolocado no Compêndio da doutrina social da Igreja.

Proposição 49

Eucaristia e reconciliação dos povos em conflito
A Eucaristia é sacramento de comunhão entre os fiéis que
aceitam se reconciliar em Cristo, no qual fez dos hebreus e gregos um povo só,
derrubando o muro de ódio que os separava (cf. Ef 2, 14). No curso deste
Sínodo, vários testemunhos foram referidos que, graças às celebrações
eucarísticas, povos em conflito puderam reunir-se em torno da Palavra de Deus,
escutar seu anúncio profético da reconciliação através do perdão gratuito,
receber a graça da conversão que permite a comunhão no mesmo pão e no mesmo
cálice. Jesus Cristo, que se oferece na Eucaristia, ressalta a comunhão entre
os irmãos e, em particular, urge aqueles que estão em conflitos a acelerar sua
reconciliação através do diálogo e da justiça. Isto consente de comunicar
dignamente o Corpo e o Sangue de Cristo (cf. Mt 5, 23-24).

Conclusão

Proposição 50

Verum Corpus natum de Maria Virgine

A Igreja vê em Maria, “Mulher Eucarística”, sobretudo aos pés da cruz, a
própria figura e a contempla como modelo insubstituível de vida eucarística;
sobre o altar, na presença do “verum Corpus natum de Maria Virgine”, a Igreja
venera com especial gratidão, pela boca do sacerdote, a Santíssima Virgem.
Os cristãos dedicam a Maria, Mãe da Igreja, sua existência e seu trabalho.
Esforçando-se para ter os mesmo sentimentos de Maria, ajudam toda a comunidade
a viver em oferta viva, agradável ao Pai.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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