Árvore da Vida

Entre as mais recentes denominações protestantes, está a chamada “Árvore da Vida”, que se faz presente na sociedade mediante suas pregações e publicações, entre as quais um jornal homônimo. Examinemos a sua mensagem.

1. “O Que Cremos”

As publicações da Editora Árvore da Vida evidenciam a origem estrangeira (norte-americana) dessa corrente. O Jornal Arvore da Vida, ano 3″, n°28, pág. 8 traz um artigo intitulado “O Que Cremos”, que vai abaixo transcrito:

“Temos sido perguntados por muitos leitores a respeito da nossa posição em relação às questões básicas da fé cristã, como Deus, Jesus Cristo e a Bíblia. Em atendimento a estes, passamos a publicar, de maneira sucinta, aquilo em que cremos:

1) Cremos que a Bíblia Sagrada é a completa revelação divina, verbalmente inspirada pelo Espírito Santo;

2) Cremos que o nosso Deus é único e trino – o Pai, o Filho e o Espírito -, coexistindo em igualdade de eternidade a eternidade.

3) Cremos que o Filho de Deus, sendo o próprio Deus, encarnou-se para ser um homem, de nome Jesus, nascido da Virgem Maria, para que pudesse ser o nosso Redentor e Salvador

4) Cremos que Jesus, um homem genuíno, viveu nesta terra por 33 anos e meio para tornar Deus Pai conhecido aos homens.

5) Cremos que Jesus, o Cristo ungido por Deus com o seu Espírito Santo, morreu na cruz pelos nossos pecados e derramou seu sangue para o cumprimento da nossa redenção.

6) Cremos que Jesus Cristo, depois de sepultado por três dias, ressuscitou dos mortos, física e espiritualmente, e que, em ressurreição, tornou-se o Espírito que dá vida para transmitir a si mesmo para dentro de nós como nossa vida e nosso tudo.

7) Cremos (lhe, após a sua ressurreição, Cristo ascendeu aos céus, e que Deus o fez Senhor de tudo.

8) Cremos que, após a sua ascensão, Cristo derramou o Espírito de Deus, que é também o Espírito de Cristo; está se movendo nesta terra, hoje, para convencer pecadores, regenerar o povo escolhido de Deus, habitar nos membros de Cristo para o seu crescimento em vida e para edificar o Corpo de Cristo com vistas à sua plena expressão.

9) Cremos que, no fim desta era, Cristo voltará para arrebatar os cristãos vencedores, julgar o mundo, tomar posse da terra e estabelecer o seu Reino Eterno.

10) Cremos que os santos vencedores reinarão com Cristo no milênio, e que todos os crentes em Cristo participarão das bênçãos divinas da Nova Jerusalém, no novo céu e nova terra, para a eternidade”.

Passemos a breve comentário dessa profissão de fé.

2. Que dizer?

Verifica-se que a profissão de fé da Árvore da Vida segue, quase integralmente, os artigos do Símbolos dos Apóstolos, que é o credo habitual dos cristãos. Quem lê essa confissão da Árvore da Vida, encontra aí muitas ex­pressões bíblicas e freqüentes nos documentos do catolicismo, de modo a julgar que se trata de uma profissão de fé católica. Há, porém, três pontos que nos chamam a atenção:

1) A Bíblia é tida como “a completa revelação divina”. Nós, católicos, dizemos que a Palavra de Deus é a fonte da revelação divina, e que ela nos vem por dois canais: a tradição oral, que é anterior, e a tradição escrita (ou a Bíblia, que é posterior, ou seja, eco escrito da tradição oral). A própria Bíblia, aliás, nos diz que, fora do seu âmbito, ficaram muitos dizeres e feitos de Jesus não consignados no Livro Sagrado (cf. Jo 20,30s; 1,25 – Quem não leva em conta a tradição oral, vê-se em dificuldades para interpretar o texto bíblico, visto que este não se explica por si mesmo, mas nos manda auscultar a Palavra viva que continua ressoando na Igreja; 2Ts 2,15; 1Cor 11,2; 2Tm 1,12-14; 2,2; Hb 2,3; 1Tm 6,20…).

2) O artigo 10 do credo da Árvore da Vida parece professar o milenarismo ou o reinado de Cristo por mil anos sobre a terra, estando ressuscitados apenas os justos; seria um tempo de bonança espiritual e material. Essa idéia esta em voga em algumas denominações protestantes contemporâneas, após haver sido rejeitada explicitamente pela tradição cristã a partir do século IV. Ela carece de fundamento sólido na Escritura, pois o texto de Ap 20,1-6 há de ser entendido à luz de Jo 5,25-29 (texto em que o mesmo São João fala da ressurreição primeira, que é agora e sacramental, e da ressurreição segunda, que é futura ou própria do fim dos tempos).

3) Muito importante também é o fato de que o credo que comentamos não faz a referência à Igreja que se encontra no Símbolo dos Apóstolos:

“Creio na Santa Igreja Católica” Admite, sim, a ação do Espírito Santo no coração dos crentes, a “regeneração do povo escolhido de Deus”, “a edificação do Corpo de Cristo”, mas omite a palavra que Jesus utilizou para exprimir a continuação da sua obra: “A minha Igreja” ou “a Igreja” (Mt 16,18), Igreja que o próprio Cristo quis confiar a Pedro (cf, Mt 16,18).

Qual a importância dessa observação? É que a palavra “Igreja” lembra um cristianismo dotado de notas objetivas, estruturais, pairando acima das tendências subjetivas e, muitas vezes, transviadas de seus mentores humanos e seguidores. A autoridade de Pedro e de seus sucessores, a quem Jesus assegurou a sua assistência infalível (cf. Mt 16,16-19; Lc 22, 31s;Jo 21,15-17; Jo 14,26;16,13-15) é garantia de objetividade e de fidelidade aos princípios do Evangelho. Assim se evitam as arbitrariedades na interpretação da Bíblia, devidas ao senso religioso subjetivo de quem crê.

É, sem dúvida, válido afirmar que o Espírito Santo acompanha o povo de Deus; sabemos, porém, que a título de inspiração do Espírito Santo, muitas aberrações são cometidas. Não basta alguém dizer que é movido pelo Espírito Santo para se dar crédito a tal alegação. Consciente disto, o Senhor Jesus instituiu sua Igreja, dotando-a da missão de guarda fiel e transmissora da Verdade sob a assistência contínua do próprio Cristo e do seu Espírito (cf. Mt 28,18-20).

Precisamente, o subjetivismo é o “calcanhar de Aquiles” do protestantismo. Lutero, no século XVI, fundou o protestantismo sobre o princípio do “livre exame da Bíblia”: cada crente poderia ler o interpretar a Escritura Sagrada segundo lhe parecesse, julgando se inspirado para tanto pelo Espírito Santo em seu coração. A conseqüência desse princípio foi que muitos discípulos de Lutero se imaginaram impelidos pelo Espírito Santo para deduzir da Bíblia conclusões contraditórias: batismo de crianças ou de adultos? Observância do domingo ou do sábado? Episcopalismo (hierarquia de bispos), presbiterianismo (presbíteros sem bispos) ou congregacionalismo (a congregação a si mesma se governa)?

Dessas múltiplas interpretações da Bíblia resultam centenas de denominações protestantes independentes umas das outras, que vão deteriorando cada vez mais o cristianismo – entre tais correntes está a Árvore da Vida. Se o protestantismo se expande hoje, isto se deve não à fidelidade de seus princípios a Cristo (pois as suas comunidades foram fundadas por homens e não por Cristo), mas ao caráter extremamente vivencial de suas pregações e manifestações. Isso fala ao homem de hoje, que em matéria religiosa é, em geral, intelectualmente muito frágil, ou seja, deixa-se impressionar mais pelo calor das palavras do que pela lógica do discurso.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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