Aquele que se humilha será exaltado

humildade (1)Jesus exigiu radicalmente dos Seus seguidores uma vida de extrema humildade. “Todo aquele que se exaltar; será humilha­do; e todo aquele que se humilhar; será exaltado” (Lc 4,11). E, para explicar bem este “humilhar-se”, contou a parábola do fariseu cheio de si e do publicano contrito. Assegurou-nos que o publicano saiu do templo justificado mais que o fariseu (Cf. Lc 18,9-14). E o Senhor fez questão de dizer que no Seu reino é diferente: “O maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23,11). Quando os discípulos Lhe perguntaram qual deles seria o maior, Ele tomou uma criança, colocou-a a Seu lado e disse-lhes:

“Quem dentre vós for o menor, esse será grande” (Lc 9, 18c). E com­pletou: “Eu estou no meio de vós, como aquele que serve ” (Lc 22,27c).

O pecado original, acima de tudo, foi um pecado de so­berba e de desobediência a Deus, de insubmissão da criatura ao Criador. Ela quis construir a vida sem Deus, preferindo ado­rar e servir a si mesma do que adorar e servir ao Criador. No seu orgulho e autossuficiência, achou que poderia ser feliz sem Deus. Daí lhe veio toda a desgraça, miséria e corrupção. Foi “ferida de morte” porque rejeitou aquele que é a vida. Por isso a natureza humana é decaída, como disse São Paulo, “vendido ao pecado” (Rm 7,14c). E o apóstolo confessava:

“Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita” (Rm 7,19-20).

Foram o peso e a realidade do pecado original que instauraram em nossos membros a corrupção da concu­piscência, isto é, a tendência ao mal, e isso só se fez possível porque o homem quis ser o centro de sua vida, no lugar do seu Deus. Consequentemente, abandonado à própria sorte, tornou-­se escravo de si próprio. Sim, nosso eu é o maior tirano que há em cada um de nós. Sob suas exigências enormes gememos como escravos acorrentados. Para nos libertar dessa “situação de morte” é que Cristo veio a nós: “Porque o salário do pecado é a morte; enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6,23).

A salvação e a felicidade de cada um de nós, não só na eternidade, mas também aqui nesta vida, consistem em retirarmos o nosso “eu” escravizante do trono do nosso cora­ção, para deixarmos que aí se sente o nosso Criador que, por direito, deve aí reinar. Quando o ego comanda nossa vida, so­mos escravos do pecado, principalmente daqueles que a Igreja chama de capitais: soberba, ganância, luxúria, gula, ira, inveja e preguiça. E tudo aquilo que buscamos, pensando ilusoria­mente que podemos ser felizes. Quanto mais cedemos às exi­gências do ego, mais nos tornamos seus escravos e mais somos infelizes. O homem mais feliz e mais livre é o santo, isto é, aquele que soube, pela luta e pela graça, desprezar a si mesmo perfeitamente, colocando Deus como o centro da vida. A ressurreição só vem após a morte!

E toda essa caminhada começa pela humildade, isto é, pelo despojamento de si mesmo. Em três lugares a Palavra de Deu afirma: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes (1 Pd 5,5; Pr 3,34; Tg 4,6). A humildade e obediência ao Pai foram o caminho que Cristo percorreu para desatar o nó d soberba e da desobediência de Adão a Deus. Por isso, Ele é “novo Adão”. Disse São Paulo que Ele, sendo Deus, “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente” (Fl 2,7-9a).

Se o Senhor passou por isso para nos livrar do jugo do pecado e da morte, também temos de fazer o mesmo a fim de também sermos exaltados.

O caminho da humildade é o caminho da renúncia, do último lugar, do silêncio, do menosprezo, do abandono nas mãos de Deus, da fraqueza, da pobreza espiritual – a morte do próprio eu. E o Senhor quem nos guia: “Se alguém me quer seguir; renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34b). É na cruz de Cristo e na cruz da nossa vida que temos de cruci­ficar o “eu” a cada dia. O orgulho e a vaidade são sutis, solertes, aninham-se secretamente no coração. Muitos que se julgam humildes ainda estão longe da humildade. Basta que o seu amor-próprio seja ferido para reagirem furiosos…

É humilde aquele que se acha ainda longe da humildade; aquele que é capaz de manter-se tranquilo em Deus, perante uma grave humilhação; aquele que destruiu o amor-próprio, a autopiedade, a autossuficiência… e sabe que nada é, e que só Deus é tudo. O humilde é o santo: aquele que cumpre a vonta­de de Deus e não a sua. São Pedro mandou: “Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno” (1Pd 5,6).

Que não nos falte a graça de Deus, pois só por meio dela poderemos trilhar esse caminho da verdadeira felicidade que nasce da morte do velho homem.

Prof. Felipe Aquino

Trecho retirado do livro: “Em busca da perfeição”

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Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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