Apelo à consciência

“Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19).

São Francisco de Sales dizia que “o homem é a perfeição do universo; a alma, a perfeição do homem; o amor; a perfeição da alma…” Nessa perfeição da alma, criada pelo amor de Deus, está a consciência, a voz cândida de Deus em nosso interior. Ghandi dizia que o único tirano a quem ele se curvava incontinente era aquela vozinha suave que lhe falava ao coração…

Nada existe de mais precioso na vida do homem e da mulher do que a própria consciência. Todo aquele que lhe obedecer será grande e todo aquele que a destruir se autodestruirá. Dói no coração ver por quão pouco se vende em nossos dias a própria consciência! Como dizia o Padre Antônio Vieira: Conjuga-se o verbo roubar em todos os tempos e modos… É a miséria da criatura humana que vende a própria consciência, como Cristo foi vendido pelas trinta moedas de prata. Se o homem soubesse que a sua consciência e impagável, jamais faria negócio com ela. Se ele pensasse que a única paz verdadeira, autêntica e sustentada reside na tranqüilidade de uma consciência pura, ele não a pisaria pelo brilho do metal, pelos prazeres do mundo nem pela satisfação do próprio orgulho. A cada instante, faz-se calar brutalmente a voz interior de Deus, pelo canto estridente das sereias do mundo: dinheiro, fama, “status”, esnobação, sexo, comida, bebida, prazeres e mais prazeres… E a pressão é forte a tal ponto que a consciência acaba por calar-­se totalmente, levando seu antigo proprietário àquele estado de embriaguez do espírito caracterizado pelas afirmações que hoje ouvimos: Não existe pecado! Tudo é lícito! Tudo é normal! E proibido proibir! E assim por diante.

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O Papa Paulo VI dizia que esse era o pior pecado do nosso tempo.

Quando a criatura não respeita mais sua consciência, então ela não respeita mais a Deus e a ninguém; é aí, então, que todos correm perigo, porque o homem transforma-se no mais perigoso animal irracional, abandonado aos impulsos compulsivos dos seus sofisticados instintos. A partir daí, todas as suas potências – a inteligência, a vontade, a memória, etc. – são colocadas a serviço da satisfação dos seus instintos liberados…

É ao que hoje assistimos! Todas as barbáries que presenciamos todos os dias e que parecem renovar-se cada vez mais, são os frutos amargos dessa triste e sombria realidade do homem que massacrou a própria consciência e que já não tem mais temor sequer do próprio Deus.

A Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, quando fala da “Dignidade da consciência moral, diz: Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecei; Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe soa nos ouvidos do coração: ‘Faze isto! Evita aquilo!’ De fato o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração. Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com esta lei. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz (…). Quanto mais, pois, prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas se afastam de um arbítrio cego e se esforçam por se conformar às normas objetivas da moralidade. Acontece não raro, contudo, que a consciência erra, por ignorância invencível, sem perder no entanto sua dignidade. Isso porém não se pode dizer quando o homem já não se preocupa suficientemente com a investigação da verdade e do bem, e a consciência pouco a pouco pelo hábito do pecado se torna quase obcecada”.

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Essas palavras da Igreja, pronunciadas há trinta anos, sob a luz do Espírito Santo, precisam ser profundamente meditadas e acolhidas. Por si mesmas elas nos explicam toda a tragédia moral do nosso tempo: corrupções, crimes hediondos, violências, depravações, etc. Sem o retorno ao respeito à consciência não haverá salvação, pois o homem que não respeita a si mesmo e a Deus, não respeita a nada e a ninguém. Só a lei da consciência pode gerar unia nova sociedade, fraterna, limpa, justa e pacífica. Ao invés de apelarmos para que se aumente o número de policiais, para se instaurarem CPI’s, para que se institua a pena de morte, enfim ao invés de buscarmos tantos outros paliativos, é melhor apelarmos para que cada um respeite à voz sagrada da consciência. Sem isso é utopia querer construir um homem novo e uma nova sociedade.

“Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19). Não é isso que temos visto a todo o instante? Urge curar o coração do homem e resgatar a sua consciência para se poder curar o mundo.

Retirado do livro: “Em Busca da Perfeição”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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