Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 257 – Ano 1981 – p. 225
Ainda que tardiamente, não poderíamos deixar de tecer breve comentário sobre o atentado a S. Santidade o Papa João Paulo II em 13/05/81.
Através da profunda dor que atingiu todos os homens de boa vontade, o observador descobre motivos de reconforto: o Papa tombou em pleno exercício de sua missão, dando um testemunho grandioso de coragem e coerência. Os homens generosos de antemão podem contar com tal sorte: serão vítimas da fidelidade à sua tarefa; dizia o próprio Senhor Jesus: “O discípulo não é maior do que o mestre, nem o servo maior do que o seu senhor. Basta que o discípulo se torne como o mestre, e o servo como o seu senhor… Se eles perseguiram a Mim, também a vós perseguirão” (Mt 10,24s; Jo 13,16; 15,20).
Precisamente um dos predicados que mais faltam ao mundo contemporâneo, é a coerência; não são muitos os que têm a coragem de ir até as últimas conseqüências das suas premissas; numerosos são aqueles que procuram adaptar-se e acomodar-se, desde que a caminhada encetada se torne exigente. Ora João Paulo II é a figura que no mundo de hoje proclama uma mensagem extremamente coerente com o Evangelho e, por isso, desagrada a certos tipos de ouvintes; mas também é a pessoa que, por seu destemor incondicionalmente posto a serviço de Cristo, se impõe ao respeito e à estima de todos os homens de bem.
Entre os ecos dos acontecimentos de 13/05 pp. na praça São Pedro, há, sim, algo que suscita outro tipo de dor, a saber: a evocação de “profecias”, como se tais eventos houvessem sido preditos por Nostradamus e São Malaquias. (…) Quem lê os noticiários referentes ao cumprimento de tais “profecias”, concebe espontaneamente algumas perguntas: entre os cronistas que redigiram essas notícias, quantos tomaram contato direto com os textos de Nostradamus e “São Malaquias?” Conhecem tais textos? E, caso os conheçam, cuidaram de investigar a origem de tais “profecias” e o grau de autoridade que lhes toca? Não estariam, antes, cedendo à onda de sensacionalismo que a imprensa muitas vezes alimenta, porque é isto que lhe garante penetração no grande público?
Tais noticiários, sensacionalistas e infundados como são, levarão os fiéis católicos a mais aprofundado estudo da sua fé para que possam discernir o que esta realmente ensina e o que falsamente se lhe atribui.