A Sagrada Escritura

“Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!” (Lc 11,28)

A Carta aos Hebreus, mostra-nos todo o poder da Palavra de Deus, as Sagradas Escrituras:

“Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do corpo, e das juntas e medulas e discerne os sentimentos e pensamentos do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem haveremos de prestar conta” (Hb 4,12-13).

Aí está o poder da Palavra de Deus.

Ela tem tão grande poder porque é Palavra de Deus e não humana. Isto nos garante o Apóstolo:

“Por isso também damos graças sem cessar a Deus porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes. Vós a recebestes não como palavra de homens, mas como realmente é: Palavra de Deus, que age eficazmente em vós que crestes” (1 Tess 2,13).

Gostaria de destacar isso: “que age eficazmente em vós que crestes”. A santa Palavra de Deus opera (realiza o que significa) naquele que crê, naquele que a recebe e acolhe como Palavra de Deus. Ali ela dá muitos frutos. O Espírito Santo nos ensina essa verdade, pelo profeta Isaías; cuja boca tornou “semelhante a uma espada afiada” (Is 49,2):

“Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltam sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a minha vontade e cumprido a sua missão” (Is 55,10).

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A palavra de Deus é transformadora, santificante. São Paulo explica isso a seu jovem discípulo Timóteo, com toda convicção:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus, é útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16).

Ela é portanto um instrumento indispensável para a nossa santificação. Não conseguiremos ter “os mesmos sentimentos de Cristo” (Fil 2,5) sem ouvir, ler, meditar, estudar e conhecer a sua santa Palavra. São Jerônimo, que traduziu a Bíblia do grego e do hebraico para o latim (Vulgata), dizia que “quem não conhece o Evangelho não conhece Jesus Cristo”.

Jesus nos ensina que “a Escritura não pode ser desprezada” (Jo 10,34). Ele teve profundo respeito e veneração por ela e a empregou muitas vezes. Ao ser tentado no deserto, foi exatamente com o auxílio das Escrituras que Ele se defendeu, lançando de cada vez, no rosto de Satanás, a palavra de Deus.

O tentador fazia de tudo para afastá-lo de sua missão de Salvador dos homens, na forma do “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29-36), na forma do “Servo de Javé”, que deveria morrer na cruz. O inimigo queria desviá-lo da missão sagrada que o Pai lhe tinha confiado e, para isso, quer arrastá-lo a um messianismo terreno, glorioso, temporal, cheio de fama e de sucesso.

Quando ele sugeriu a Jesus, transformar as pedras em pães, ouve do Senhor esta sentença: “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus” (Deut 8,3), (Mt 4,4).

Na segunda investida o salteador maldito quer levar Jesus a jogar-se do alto do templo para ser sustentado pelos anjos, de maneira exibicionista, (Sl 90,11-12); e o Senhor lhe diz: “Está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Deut. 6,16).

Por fim, ele quer fazer Jesus adorá-lo em troca de todos os reinos do mundo; então o Senhor é enfático: “Para trás Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (Deut 6,13).

É impressionante notar que Jesus repetiu por três vezes esta sentença: “Está escrito” [nas Escrituras], e Satanás recua incontinente, pois se trata da eficaz e poderosa palavra de Deus, que ele não tem força e nem capacidade de contestar e reagir contra ela. E a narração termina dizendo que: “O demônio o deixou” (Mt 4,11).

Que poder tem a palavra de Deus! Se Jesus a utilizou assim como uma arma espiritual na luta contra o tentador, quanto mais nós precisamos dela! Assim, é importantíssimo o estudo da Bíblia, de maneira sistemática e organizada, através de um curso bíblico. É preciso trazer a Palavra de Deus no coração, para poder sacá-la, na hora da tentação, como Jesus fez, para nos dar o exemplo.

Só a Igreja católica recebeu de Jesus o encargo de guardar e ensinar as Escrituras. Como disse São Pedro, há “passagens difíceis” (2Pe 3,16) nas Escrituras, cuja interpretação só o Magistério da Igreja, formado pelo Papa e os bispos, pode dar.

A Constituição dogmática do Concílio Vaticano II, “Dei Verbum” (Palavra de Deus), diz:

“A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura, constituem um só depósito da palavra de Deus confiado à Igreja”.

“O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo” (n. 10).

No entanto, mesmo sem conhecimento profundo de exegese bíblica, ela é sempre para nós a luz de nossa caminhada na terra.

São Paulo nos garante que: “tudo o que se escreveu, foi escrito para a nossa instrução, a fim de que pela paciência e consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança” (Rom 15,4). O mesmo diz o livro de Macabeus, para quem a “consolação está nos livros santos, que estão em nossas mãos” (1Mac 12,9), e que encorajavam o povo “lendo a lei e os profetas” (2 Mac 15,9).

Jesus disse que “a Escritura não pode ser desprezada” (Jo 10,35), e por isso, São Paulo recomendava a Timóteo que se aplicasse à sua leitura (1Tm 4,13).

Jesus é a própria Palavra de Deus, o Verbo de Deus que se fez carne (Jo 1,1s). No livro do Apocalipse, São João viu o Filho do homem… “e de sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes” (Ap 1,16). É o símbolo tradicional da irresistível penetração da palavra de Deus.

Penso que São Paulo resume todo o poder da palavra de Deus quando escreve a Timóteo:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16).

Essa palavra nos questiona, interroga, ilumina, guia, consola, enfim santifica. São Pedro diz que renascemos pela força dessa Palavra.

“Pois haveis renascidos, não duma semente corruptível, mas pela palavra de Deus, semente incorruptível, viva e eterna”, (1 Pe 1,23) e, como disse o profeta Isaías: “a palavra do Senhor permanece eternamente” (Is 11,6-8).

Quando avisaram a Jesus que a Sua mãe e os Seus irmãos queriam vê-lo, o Senhor disse:

“Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 8,21).

Jesus faz questão de dar relevância à necessidade de “ouvir a palavra e a observar”; a esses ele os ama como ama a sua mãe e os seus irmãos.

Quando aquela mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!”, o Senhor respondeu:

“Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!” (Lc 11,28).

Quando alguém é renovado pelo Espírito Santo sente a necessidade da Palavra de Deus, para guiá-lo e santificá-lo.

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Pela boca do profeta Amós, o Espírito Santo disse:

“Eis que vem os dias… em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de água, mas fome e sede de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11).

Graças a Deus esses dias chegaram!

Quando Jesus explicava as Escrituras para os discípulos de Emaús, eles sentiam “que se lhes abrasava os corações” (Lc 24,32). Assim também continua a ser hoje para todo aquele que medita a palavra de Deus. Ela nos purifica no fogo do Espírito Santo. Todos os santos, sem exceção, mergulharam fundo as suas vidas nas Sagradas Escrituras e deixaram-se guiar pelos ensinamentos da Igreja.

Pela meditação diária da Bíblia, o Espírito Santo vai nos santificando, isto é, fazendo com que, passo a passo, tenhamos, como disse São Paulo, “os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fil 2,5).

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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