A melhor escolha

Em entrevista na TV, Hitchens, já falecido, proclamou com intenso ardor, filtrado pela frieza de uma razão “iluminada”, sua fé nos valores do iluminismo filosófico, reforçado por posturas “científicas” que desprezam as questões meta-empíricas. Ele não era propriamente um cientista, mas valeu-se de posições ateísticas, como as de Dawkins, por ex, – este escreveu “Deus , um Delírio” -, para fundamentar seu ateismo militante. Dawkins defende que a fé religiosa não é apenas uma ilusão inofensiva, mas um delírio nocivo do qual a sociedade precisa ser curada. Hitchens afirma que a livre expressão e a investigação científica devem substituir a religião como um caminho seguro para uma ética racional e para promover a civilização humana. A humanidade ainda se vale muito pouco das luzes da razão. Hitchens procura desqualificar o trabalho da bem-aventurada Tereza de Calcutá como também de outros líderes religiosos, como Martin Luther King, por ex…

Já Paul Davies, doutor em física, professor de renome nas universidades de Cambridge, de Londres e de Adelaide na Austrália, autor de muitos livros sobre física,tem uma posição diametralmente oposta. Em seu livro “Deus e a nova física”, publicado em inglês em 1983, afirma: “A ciência só é possível porque vivemos num universo ordenado, que se conforma com leis matemáticas simples. A tarefa dos cientistas é estudar, catalogar e relatar a ordenação da natureza, não indagar a sua origem. Mas os teólogos têm argumentado, desde há muito, que a ordem do mundo físico é uma prova da existência de Deus. Se isso assim for, então a ciência e a religião adquirem um objetivo comum que é revelar a obra de Deus. É dele a afirmação: “pode parecer estranho, porém, em minha opinião, a ciência oferece um caminho mais seguro para Deus que a religião.” E ainda: “Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega”. Prezado(a) leitor(a), há cientistas que afirmam ser a ciência um caminho para Deus e há cientistas que consideram a afirmação da existência de Deus uma abdicação da razão diante do desafio de progredir na explicação do universo e na solução dos problemas que afetam a humanidade. Há aqueles que, com Hitchens, julgam que a religião não passa de um ideologia que acaba por justificar a injustiça e a violência. Surge então a pergunta: afinal crer ou negar Deus é uma conclusão da razão, filosófica ou científica? Ou será uma experiência anterior ao esforço filosófico ou científico, que só depois se tenta justificar racionalmente. Somos da convicção de que as raízes-fonte da crença ou da descrença são anteriores ao processo da razão pensante, assim como a existência – a experiência vivida -, precedem a consciência . Pode se colocar pergunta semelhante sobre o fenômeno universal da experiência amorosa. O amor não é uma decisão conseqüente a um esforço racional de pensar a natureza humana e descobrí-la orientada para o outro. O amor emerge como uma dimensão profunda do ser humano. Depois ele pode e deve ser pensado, inclusive para determinar-lhe a natureza e desmascarar suas formas doentias. Assim também a crença em Deus: ela emerge das profundezas do ser humano como manifestação do desejo de uma Verdade definitiva, fundamento do próprio existir. Por isso um ateísmo militante será sempre uma luta contra uma “doença” / “delírio”, – a mais profunda aspiração do ser humano – incurável da natureza humana. Naturalmente muitas razões se poderá oferecer às pessoas para que se oponham à fé em Deus. Assim como o amor, a mais bela expressão da natureza humana, ao se corromper produz loucuras tais como ciúmes seguidos de crimes, separações dolorosa de casais, abandono de filhos, etc…, assim Deus pode ser invocado para apadrinhar intolerância, fanatismo e guerras. Mas não é o amor que é ruim, péssima é sua corrupção.

Pois bem, quem é Deus e em que consiste o amor é o coração do Novo Testamento. Deus é amor e o amor se manifestou: Deus se fez um de nós para salvar-nos da corrupção de nossa dignidade, fazendo-nos filhos seus. Nossa vida tem sentido: supera a morte. Amar como Cristo amou é o caminho de salvação da humanidade para esta vida e para a eternidade. Letrado ou iletrado, todo ser humano deseja a plenitude da vida. Na Epístola aos Hebreus existe um versículo que diz que Jesus veio para nos libertar da angústia da morte: “libertar os que passaram a vida em estado de servidão, pelo temor da morte”(Hb 2,15). Prezado(a)  leitor(a), não lute contra seu desejo de Deus. Escute um dos homens mais inteligentes da história do pensamento: Ó Deus, “fizeste-nos para vós e nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”(Agostinho). Não tenha medo de Deus, Ele é apenas uma criança pobre, que, de longe, sábios vieram adorar.

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Dom Eduardo Benes

Arcebispo de Sorocaba (SP)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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