Extraímos do semanário francês BIP-SNOP-SOP “Bulletin Oecumênique d’Information” n.º 596, de 15/07/87, p. 4, a seguinte notícia:
“Londres, 15 de julho (BSS) – Num documento adotado por muito grande maioria (394 votos favoráveis e 52 contrários), o Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra¹ reunido em York, na segunda-feira 13 de julho de 1987, qualificou os ritos maçonicos de “blasfemos” e “heréticos”. Alertou os seus fiéis sobre a incompatibilidade da prática maçonica com a pertença a uma Igreja cristã.
Os anglicanos assim se associam às comunidades e à Igreja Católica da Inglaterra na crítica à Franco-Maçonaria, que parece contar hoje na Grã-Bretanha onde ela nasceu no século XVIII 500.000 iniciados e 8.500 Lojas. O sínodo Geral, porém, se absteve de toda “caça às bruxas” contra cristãos pertencentes a alguma Loja Maçonica. O arcebispo de York, Dr. John Habgood, chegou a descrever a Franco-Maçonaria como sendo “excentricidade antes inofensiva”.
O Grão-Secretário da Loja Unificada, M. Michael Higham, que assistia aos debates, criticou vivamente essa decisão do Sínodo Geral, mas afirmou que o diálogo nem por isto tinha cessado. Lembramos que, se a Igreja Católica Romana já não aplica a censura da excomunhão aos maçons, não obstante, por normas de 1983 a 1985 da Congregação para a Doutrina da Fé, ela reprova a dupla pertença dos seus fiéis à Igreja e à Maçonaria (Le Monde/BSS)”.
A propósito podemos notar que a Maçonaria filosófica de nossos tempos teve origem na própria Inglaterra. Com efeito; as corporações medievais de pedreiros perderam seu prestígio e seus privilégios no século XVI, com o declínio da arte gótica, muito cultivada na Idade Média. Procuraram então restaurar seus quadros e sua influência admitindo pensadores e intelectuais em suas Lojas. Estes deram a tais grêmios um cunho filosófico. Em 24/07/1717 quatro Lojas de Londres se uniram entre si para dar novo rumo às corporações de pedreiros, constituindo a Maçonaria em seu estilo moderno. O pastor presbiteriano James Anderson em 1723 redigiu o primeiro Estatuto dessa nova Sociedade; conservava a fé em Deus “Grande Arquiteto do Universo” e o uso da Bíblia. As Lojas maçonicas foram sendo invadidas pelo deísmo, ou seja, pela filosofia religiosa do século XVIII, que considerava Deus com os olhos da razão apenas. O relativismo religioso adotado pelas Lojas e o seu caráter secreto suscitaram logo a condenação por parte da Igreja Católica.
Na segunda metade do século XIX, a Maçonaria da França e dos países meridionais da Europa se tornou anti-religiosa, dando origem à “Questão Religiosa” no Brasil sob o Império de D. Pedro II. Entrementes, nos países nórdicos, os Maçons continuam aceitando a crença no Grande Arquiteto do universo dentro de certo relativismo. Algumas Lojas têm um ritual eclético e esdrúxulo… É o que explica que os metodistas da Inglaterra em 1985 tenham condenado a Maçonaria, atitude esta que a própria Comunhão Anglicana assume em 1987.
Ver a propósito
PR 171/1974, pp. 104-125 (histórico e visão geral da Maçonaria).
179/1974, pp. 415-426 (decisão da Igreja em 19/07/74);
275/1984, pp. 303-314 (atitude da Igreja em 27/11/83);
281/1985, pp. 300-307 (os porquês dessa atitude);
284/1986, pp. 20-24 (os Metodistas da Inglaterra e a Maçonaria).
291-1986, pp. 347-356 (ainda os porquês do Não).
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¹ Trata-se da Igreja Anglicana ou Episcopal devida ao cisma provocado pelo rei Henrique VIII em 1531. (Nota do Tradutor).
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 305 – Ano 1987 – p. 470