A Catedral de Notre Dame e a Idade Média

O incêndio que atingiu a Catedral de Notre Dame de Paris em 2019, teve um lado positivo, mostrou ao mundo a beleza e a grandeza da Idade Média cristã, que foi desde a queda do Império Romano do Ocidente (476) até a queda do Império Romano do Oriente (1453) nas mãos dos turcos otomanos, muçulmanos, por Maomé II.

Nesses mil anos de civilização cristã, segundo do Dr. Thomas Woods, da universidade de Harvard, em seu livro “Como a Igreja construiu a Civilização Ocidental” (Ed. Quadrante, SP), a Igreja Católica salvou a nossa Civilização. Ele disse:

“Bem mais do que o povo hoje tem consciência, a Igreja Católica moldou o tipo de civilização em que vivemos e o tipo de pessoas que somos. Embora os livros textos típicos das faculdades não digam isto, a Igreja Católica foi a indispensável construtora da Civilização Ocidental. A Igreja Católica não só eliminou os costumes repugnantes do mundo antigo, como o infanticídio e os combates de gladiadores, mas, depois da queda de Roma, ela restaurou e construiu a civilização”.

Neste tempo a Igreja educou e evangelizou os bárbaros construindo a grande civilização Ocidental cristã. Thomas Woods diz que:

“É difícil encontrar algum grupo em algum lugar do mundo cuja contribuição foi tão variada, tão significativa, e tão indispensável como aquelas dos monges da Igreja Católica no Ocidente durante um tempo de perturbações e desespero generalizado” (pg. 32).

O sistema universitário que temos hoje com cursos de graduação, pós-graduação, faculdades, exames e graus veio diretamente do mundo medieval. “Na universidade e em outras partes, nenhuma outra instituição fez mais para promover o saber do que a Igreja Católica”, garante Thomas Woods (pg. 51). “Se alguma época na História da nossa cultura merece ser glorificada como uma era de regeneração e restauração é esta”.

A catedral de Notre Dame é um ícone que mostra a grandeza da Idade Média. Construída no estilo gótico, no século XII (1163-1250), quando não havia estrutura de ferro e cimento armado, nem eletricidade e guindastes, etc., tem 128 metros de comprimento e 48 metros de largura, com um telhado de 43 metros de altura e uma abóboda de 33 metros de altura, com duas torres de 69 metros, sendo que o Pináculo atinge 96 metros. Seu interior abriga 5 naves, 37 capelas, 113 janelas, com vitrôs maravilhosos, portais belamente decorados com as imagens de 28 reis de Israel e de Judá. Para chegar à sua torre temos de subir 386 degraus! O sino principal da catedral tem 13 toneladas e seu badalo tem 500 KGs.

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Nas janelas há cerca de 200 vitrais coloridos, alguns deles os maiores da história. A catedral possui três grandes órgãos musicais (o maior com 7.800 tubos sonoros!), e muitas esculturas maravilhosas.

Durante a Revolução Francesa (1789) ela foi terrivelmente profanada, quando os iluministas e racionalistas, inimigos da Igreja, entronizaram sobre o seu altar a “deusa da razão”, destruindo parte de seus monumentos.

A Notre Dame é a obra de arte mais visitada em toda a França, o que mostra o apogeu da Idade Média. Isto acontece porque é maravilhosa, fantástica, impressionante. Como então, os inimigos da Igreja católica tem a coragem de dizer que a Idade Média foi um tempo obscuro, onde não se cultivou a arte, a ciência, etc.. Somente uma mente má ou desinformada pode afirmar isso. Infelizmente maus professores de História, e outros, mentem descaradamente a seus alunos sobre isso.

A Idade Média foi o tempo das grandes sumas teológicas e filosóficas de São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Santo Anselmo, etc. Foi o tempo das construções das grandes e belas catedrais em toda a Europa; só na França, mais de 500. Foi a época em que a Igreja criou as primeiras universidades no Ocidente: Sorbonne, Bolonha, Montpellier, Coimbra, Valladolid, Oxford, Cambridge, La Sapienza, etc…

A Igreja foi a matriz das universidades; como, então, dizer que a Idade Média foi um tempo obscuro? Só um grande preconceito contra a Igreja pode explicar isso. Por que os turistas gastam rios de dinheiro para ver as obras de arte da Igreja, construídas na Idade Média?

A Catedral, por exemplo, é a “suma” das artes deste tempo, que concretiza um tempo disposto a “construir para Deus” com uma fé e uma coragem inigualáveis.

Nesta época por Providência Divina, como em todos os tempos, tivemos os grandes santos, que deram nova vida e abriram caminhos espirituais aos cristãos: São Bernardo (1090-1153), São Francisco de Assis (1182-1226) e São Domingos de Gusmão (1170-1221), figuras que marcaram toda a sociedade. Temos aí grandes gênios doutores da Igreja: São Pedro Damião (1007-1072), Santo Anselmo (1033-1109), São Bernardo (1090-1153), Santa Hildegarda de Büngen (1098-1179), Santo Antônio de Pádua (1195-1231), Santo Alberto Magno (1206-1280), São Boaventura (1218-1274), o gigante Santo Tomás de Aquino (1225-1274), Santa Catarina de Sena (1347-1380).

A Idade Média não foi um período de desorganização política, econômica e cultural. Não foi um período de desprezo da razão e da morte do saber e da ciência, nem tampouco um período obscurantista, como estão mostrando os historiadores modernos.

Raymond Bloch (†1997), historiador francês, disse que: “A civilização medieval surge-nos hoje espantosamente enriquecida – talvez mais que nenhuma outra – pela expansão do campo da pesquisa” (Le Goff, A Civilização do Ocidente, 1983, pg. 14).

A Idade Média foi chamada, maldosamente, pelos autores da Revolução Francesa (1789) de “idade das trevas”, mas isso está mudando. O famoso Le Goff (†2014), historiador francês da Idade Média, não católico, disse que: “O século XX enriqueceu a paixão pela Idade Média com novas aquisições no domínio da sensibilidade, da técnica e do pensamento”.

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“Somos frequentemente medievais quando nos vangloriamos de sermos modernos; e frequentemente não passamos de “apreciadores da Idade Média” quando cremos nos enraizar no tempo das catedrais, dos cavaleiros, dos trovadores e dos comerciantes. Os códigos e os valores desse longínquo passado-próximo são bem mais estranhos a nós do que habitualmente pensamos. Mas lhe devemos bem mais do que queremos admitir”. Para ele, nós “projetamos sobre a Idade Média as nossas sombras, sem lhe ver as luzes” (Le Goff, 2005, p. 12-16).

As terríveis mentiras contra a Idade Média, foram inventadas pelos filósofos iluministas, que, acreditando serem eles os “iluminados” pela “Deusa da Razão” – odiavam a Idade Média por ser este o período em que a Igreja Católica mais exerceu a sua boa influência no mundo.

Foi preciso que o fogo destruísse uma parte da Catedral de Notre Dame para que aflorasse a grandeza da Idade Média cristã.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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