A Adhonep

A Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno
(Adhonep), filiada à Full Gospel Business Men’s Fellowship International, vem
se es­palhando cada vez mais pelo país, convidando mais e mais pessoas para
suas reuniões. Mas, o que vem a ser essa organização? Quais seus objeti­vos?
Como o catolicismo encara seus preceitos? É o que pretendemos elucidar.

Em 1952, o armênio Demos Shakharian afirma ter tido uma
visão: uma multidão de pessoas de todos os continentes sendo conduzidas a Jesus
Cristo em atitude de amor; compreendeu então que deveria se esforçar para con­quistar
muitos homens para Jesus. No restaurante Chifton – não se diz de que cidade –
fundou, no mesmo ano, a Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno
(Adhonep), e doravante financiaria com seus próprios re­cursos as reuniões em
auditórios e salões dos Estados Unidos.

Após um ano de resultados desanimadores, Demos estava
prestes a desistir do seu empreendimento quando, numa sexta-feira à noite,
enquanto rezava, o Espírito lhe teria propiciado outra visão, conforme ele
mesmo relata: “Pude ver pessoas de diferentes raças e de todo o mundo,
todas bem próximas umas das outras, mas sem nenhum contato entre si. Como o
zoom de uma câmera, percebia cada detalhe à distância: suas faces eram miserá­veis,
fechadas…”

Ao contemplar tal quadro, clamou: “Senhor,
ajuda-as!” Subitamente, Deus as mostrou transformadas, suas faces
radiantes, as mãos levantadas para o céu, em adoração. Foi quando
a esposa de Demos exclamou: “Meu filho, tudo o que você viu diante de seus
olhos, acontecerá mui­to em breve!” Na ma­nhã seguinte, um ho­mem
prontamente doou um milhão de dólares; outro, depois de dirigir seu carro a
noite intei­ra, ofereceu-se para publicar uma revista para a associação – daí
por diante, esta tomou grande impulso.

Aliás, já em 1944 o pastor Charles Prince, referindo-se a
curas e reavivamento de homens leigos movidos pelo Espírito Santo, teria dito a
Demos Shakarian: “Quando você vir isto, saberá que o tempo do
arrebatamento da Igreja estará muito próximo”. Também o pastor Mordechai
Han teria afirmado: “A Adhonep é um instrumento que Deus vai usar para
acordar os homens leigos, o gigante adormecido da evangelização”.

Atualmente, a Adhonep se espalha por 110 países, com o
propósito de reunir homens de negócios, executivos, profissionais liberais,
empresários, autoridades civis e militares, levando-os a abraçar o
protestantismo. As reuniões se realizam em hotéis, clubes ou nos melhores
restaurantes, durante almoços, jantares ou cafés da manhã.

Batismo no Espírito Santo e cura divina

Em 1976 um grupo de brasileiros e Demos Shakarian se
encontraram a bordo de um avião nos Estados Unidos; aqueles cantavam corinhos e
louvavam a Deus ao som do piano. Estavam entre eles os pastores Túlio de Barros
Ferreira, Alcebíades Pereira Vasconcelos, Lawrence Olson e o empresário
Custódio Rangel Pires.

Convidados por Demos para um banquete em Los Angeles com 500
talheres, patrocinado pela Full Gospel Business Men’s Fellowship International,
lá ouviram os testemunhos de homens de negócios que falavam de Jesus a seus
colegas descrentes e rezavam fervorosamente uns pelos outros num ambiente de fé
contagioso

O empresário Custódio Rangel Pires foi então convidado para
dar origem à Adhonep no Brasil, e aceitou. A fundação, porém, só aconteceu em
1975, quando Mark Burbridge, vindo dos Estados Unidos, reuniu-se em São Cristóvão, no
Rio de Janeiro, com o pastor Túlio de Barros Ferreira, o empresário Rangel
Pires, o Sr. Antonio Regis e outros. Foi então criado o primeiro núcleo da Adhonep
no Rio de Janeiro; todavia, durante sete anos tal obra pouco prosperou.
Finalmente, em 1982 uma comissão de norte-americanos chefiada por Norman
Noorwood veio ao Brasil e deu o impulso definitivo à organização.

Hoje, a Adhonep conta 214 núcleos (Capítulos) instalados em
23 Estados do país, que realizam reuniões mensais com a participação de mais de
60% de não-crentes; durante os jantares oferecidos, muitos destes se convertem
ao protestantismo ou ao Evangelho Pleno, entendido como libertação, salvação,
batismo no Espírito Santo e cura divina.

Impacto de uma doutrinação bem estruturada

A Adhonep conta também com o Departamento de Apoio Feminino.
Dados estatísticos demonstram que tem aumentado de 30% a 40% a participação de
homens de negócios nos jantares, almoços e cafés daqueles Capítulos em que
funciona regularmente o Chá de Apoio Feminino, cujo principal objetivo é a
evangelização, a comunhão e a divulgação da associação. Além desta meta, outras
seis estão na mira do Apoio Feminino:

1)unir as esposas dos associados com o propósito de realizar
um trabalho mais eficaz;

2)proporcionar crescimento espiritual às esposas de homens
de negócios;

3)reunir pelo menos 50% de mulheres não-cristãs nestes chás;

4)oferecer às esposas de oficiais oportunidades de exercer
os seus dons espirituais;

5) promover: eventos sociais com finalidades espirituais;

6) propiciar condições para que as senhoras compartilhem
mutuamente suas experiências religiosas.

A Adhonep é mais uma organização de índole proselitista que visa,
no Brasil, a transformá-lo num país protestante, conforme um piano pré-elabo­rado
chamado “Alvorecer”.

Chama a atenção o fato de que a proposta da Adhonep, como
tantas outras do protestantismo, segue a tendência de diluir cada vez mais o
conteú­do do cristianismo. Trata-se de “aceitar Jesus Cristo como
Salvador” em ter­mos subjetivos, independentemente de qualquer denominação
protestante já existente. O conceito de “Igreja Corpo de Cristo, confiada
ao pastoreio de Pedro e de seus sucessores” (cf. Mt 16,16-19; Lc 22,31s;
Jo 21,15-17; Mt 28,18-20) está ausente por completo. O cristianismo se torna,
assim, cada vez mais individualista; é vivido segundo “visões” e
“revelações” particulares, atribuídas ao Espírito Santo.

A Adhonep promove Seminários Avançados de Treinamento de
Liderança (SATL), cujos resultados são assim enunciados: “Centenas de
pessoas têm sido batizadas no Espírito Santo; outras centenas São curadas,
tanto física como emocionalmente; lares são restaurados e o amor entre os
cônjuges ou entre pais e filhos é renovado”. Não se pode negar os frutos
positivos que decorrem de tais seminários. Seria, porém, oportuno evitar
atribuir precipi­tadamente ao Espírito Santo efeitos que podem ser explicados
pelo impacto de uma doutrinação bem estruturada para calar fluido nos ouvintes.

Em nossos dias, os sentimentos religiosos são freqüentemente
associados à emoção e desligados do senso Crítico que a razão e o bom senso
costumam aplicar às fusões exuberantes da religiosidade.

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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