Em síntese: Um Curso em Milagres são palestras e livros que utilizam linguagem cristã, atribuindo-lhe significado totalmente alheio ao sentido clássico das palavras. O seu autor seria o próprio Jesus Cristo a falar por locução interior à Sra. Helen. – Nas páginas subsequentes é denunciada a falsidade deste propósito.
Foi ministrado em uma (e quiçá em outras) paróquias do Brasil um chamado “CURSO EM MILAGRES (UCEM)”, que provocou perplexidade nos cursistas. O autor do Curso seria o próprio Jesus Cristo a falar por locução interior à Sra. Helen, Cristo estaria propondo uma mensagem radicalmente oposta à do Evangelho. A temática será mais detidamente abordada nas páginas subsequentes.
1. UCEM: Introdução
O conteúdo do Curso encontra-se numa obra em três volumes e 1.200 páginas publicadas pela primeira vez em 1976. – Segundo apostila colhida na Internet, o UCEM tem em vista “ajudar a remover as barreiras que nos impedem de despertar para a presença do Amor e começar a ouvir a Voz de Deus, nosso Professor interior”.
O autor do Curso seria Jesus Cristo mediante locução interior comunicada à Sra. Helen. Eis, porém, que no Curso o hipotético Jesus subverte por completo a clássica mensagem cristã a tal ponto que é impossível aderir à nova mensagem sem deixar de ser cristão.
E qual seria essa nova mensagem?
2. UCEM: doutrina
Eis como a doutrina é exposta na mencionada apostila:
UCEM diferencia-se da doutrina Cristã nos seguintes pontos:
1. Deus não criou o mundo. O mundo físico é ilusório e é o resultado da projeção do ego que é a ideia de separação. Nos Esclarecimentos de Termos lemos: “O mundo que você vê é uma ilusão de um mundo. Deus não criou o mundo, pois o que Ele cria tem que ser eterno como Ele” (Manual, p. 81; C-4.1).
A principal doutrina dos cristãos é que o mundo físico é real, e que Deus criou o mundo. O Credo Cristão começa com as seguintes palavras: “Creio em Deus-Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da TERRA”.
2. Jesus não é o único Filho de Deus; no Curso o termo “Filho de Deus” inclui todos os seres humanos. Jesus não é uma de idade para ser adorada, mas um irmão mais velho, diferindo de nós somente no tempo, dado que ele foi o primeiro a se lembrar da sua verdadeira identidade como o Cristo, uma identidade compartilhada por todos nós.
No Cristianismo tradicional, Jesus foi “O filho unigênito de Deus”, e o restante de nós somos filhos adotados”. (conforme o Apóstolo Paulo escreveu na Epístola aos Gálatas, Ga 4:5).
3. O sistema de pensamento do Curso é Monoteísta e não Dualista. Ou seja, o Curso advoga a existência de somente um poder, Deus, sem oposição de qualquer força milagrosa ou diabólica.
4. No Curso não há nenhum inferno, a não ser aquele criado por nossos próprios pensamentos como uma auto-punição. O Curso ensina que no final todo mundo se lembrará de Deus e retornará a Ele, e que na realidade, estamos separados Dele somente em nossa imaginação.
5. O Curso contesta categoricamente a idéia de expiação substitucionária ou “salvação vicária”; ou seja, o conceito de que, quando Jesus morreu na cruz, Deus o estava castigando pelos pecados de toda humanidade, e que ele sofreu e morreu por nós, para que recebêssemos a Vida Eterna. Para o Cristianismo o pecado é real, e Jesus pagou um preço bem alto pelos nossos pecados.
Para o Curso o pecado é irreal, um erro a ser corrigido, em vez de castigado, e a salvação não exige nenhum sacrifício. A expiação não é o preço pago pelo pecado, mas simplesmente a correção de nosso erro em acreditar que a separação de Deus é real.
Por que a mensagem universal do Curso emprega o simbolismo cristão, usando palavras como “Cristo”, “Espírito Santo”, e “Salvação”?
Por uma razão ou outra, quase todo mundo tem problemas com a linguagem do Curso. Pessoas influenciadas por alguma ramificação do Cristianismo como os protestantes ou os católicos têm um tipo de problema. Judeus, ateus, e pessoas de religiões não-cristãs podem ter resistências com relação às palavras cristãs. E as pessoas, como eu, que tiveram momentos felizes no círculo evangélico, podem ter dificuldade de se livrar de alguma definições bíblicas que aceitaram por muitos anos.
Basicamente o Curso redefine todos os termos. Jesus fez praticamente a mesma coisa com os escritos religiosos de seu tempo. Os judeus pensavam que o “Reino de Deus” era um reino político, militar; e Jesus ensinou que o Reino de Deus está dentro de nós.
3. Que dizer?
1. Não será necessário que nos detenhamos longamente sobre a incompatibilidade da UCEM e doutrina cristã; A própria exposição feita pelo autor da apostila em foco enfatiza as diferenças radicais.
2. Quanto à locução interior, pertence à categoria dos fenômenos místicos extraordinários, que exigem cautelosa avaliação. No caso da UCEM é evidentemente falsa, pois Jesus não se pode contradizer como o imaginam.
3. Por último, cabe uma interrogação: por que o aposto “em milagres” dado ao Curso?
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, Osb
Nº 506, Ano 2004, Página 378