O site ACI publicou na última sexta (25/09/15) as partes principais do histórico discurso do Papa Francisco ante a Assembléia Geral das Nações Unidas. Ele foi o quarto Pontífice a dirigir-se a este auditório, logo depois de Paulo VI, João Paulo II (que esteve na sede em duas ocasiões) e Bento XVI.
Durante seu discurso de aproximadamente 50 minutos, cabe destacar estas sete chaves de leitura:
1. A exclusão e a pobreza
O Santo Padre denunciou “uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material” que “leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os menos hábeis”.
“A exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente”, assegurou.
“A fim de que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam atores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos”, explicou o Santo Padre e destacou que “isto supõe e exige o direito a educação”.
2. Cuidado da criação
O Papa sublinhou que “a casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada”.
Nós cristãos, indicou o Pontífice juntamente com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo provém duma decisão de amor do Criador, que permite ao homem servir-se respeitosamente da criação para o bem dos seus semelhantes e para a glória do Criador, mas sem abusar dela e muito menos sentir-se autorizado a destruí-la. E, para todas as crenças religiosas, o ambiente é um bem fundamental.
3. O rechaço à guerra e ao comércio de armas
O Santo Padre sublinhou em seu discurso que “a guerra é a negação de todos os direitos e uma dramática agressão ao ambiente”.
“Se se quiser um verdadeiro desenvolvimento humano integral para todos, deve-se continuar incansavelmente com a tarefa de evitar a guerra entre as nações e os povos”, assegurou.
O Papa denunciou além disso a “tendência sempre presente para a proliferação das armas, especialmente as de destruição em massa, como o podem ser as armas nucleares. Uma ética e um direito baseados sobre a ameaça da destruição recíproca, advertiu que “constituem um dolo em toda a construção das Nações Unidas, que se tornariam «Nações Unidas pelo medo e a desconfiança”.
“É preciso trabalhar por um mundo sem armas nucleares”, demandou.
O Santo Padre pediu ainda concentrar a atenção em todas as situações de conflito, não só nos casos de perseguição religiosa ou cultural, mas em toda a situação de conflito, como na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e na região dos Grandes Lagos, na África.
4. Os cristãos perseguidos
Francisco reiterou seu apelo sobre a perseguição de cristãos, outras minorias religiosas e inclusive muçulmanos devido a mãos de extremistas islâmicos, no Oriente Médio, o norte da África e outros países africanos.
Nesses lugares, lamentou, “os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não quer deixar-se envolver pelo ódio e a loucura, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu patrimônio cultural e religioso, das suas casas e haveres, e foram postos perante a alternativa de escapar ou pagar a adesão ao bem e à paz com a sua própria vida ou com a escravidão”.
“Estas realidades devem constituir um sério apelo a um exame de consciência por parte daqueles que têm a responsabilidade pela condução dos assuntos internacionais”.
5. A família
A família, recordou o Papa, “é a célula primária de qualquer desenvolvimento social”. “os governantes devem fazer o máximo possível por que todos possam dispor da base mínima material e espiritual para tornar efetiva a sua dignidade e para formar e manter uma família”, assinalou.
“A nível material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis”, explicou.
Em seguida, o Papa destacou a importância do “direito primário das famílias a educar e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos”.
O Santo Padre recordou em outra parte de seu discurso que “a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão exigem o reconhecimento de uma lei moral inscrita na própria natureza humana, que inclui a distinção natural entre homem e mulher”.
6. Luta contra o narcotráfico
O Papa advertiu que “muitas das nossas sociedades vivem um tipo diferente de guerra com o fenômeno do narcotráfico”. Esta guerra, lamentou, tem sido “pobremente combatida”.
“O narcotráfico, por sua própria natureza, é acompanhado pelo tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, exploração infantil e outras formas de corrupção”, advertiu.
Esta corrupção, assinalou, “penetrou nos diferentes níveis da vida social, política, militar, artística e religiosa, gerando, em muitos casos, uma estrutura paralela que põe em perigo a credibilidade das nossas instituições”.
7. A defesa da vida
O Papa Francisco destacou repetidamente durante seu discurso a importância de defender a vida desde a concepção e em todas as suas etapas e dimensões.
Os “pilares do desenvolvimento humano integral”, disse, “têm um fundamento comum, que é o direito à vida”, e solicitou o “respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões”
“A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma reta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, dos idosos, das crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números desta ou daquela estatística”, destacou.