Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 367 – Ano 1992 – p. 529
(Ap 22,20)
É muito significativo o fato
de que a Escritura Sagrada se encerra com um apelo caloroso e repetido: “Vem,
Senhor Jesus!” (Ap 22,20.17).
São João nos diz que este
brado procede do Espírito Santo e da Esposa (=a Igreja), que Ele vivifica (cf.
Ap 22, 17). É a expressão de um anseio profundo, que os cristãos experimentam
em virtude da sua condição de peregrinos…, e peregrinos do Absoluto. Todo
ser humano foi feito para a Vida, e a Vida plena, (…) para a Verdade e o Amor
sem contradições; sabe, porém, que ainda não atingiu o termo de suas aspirações.
Daí o apelo ardente, que o Espírito Santo, hóspede dos corações retos, sugere a
cada cristão e à Igreja inteira. São Paulo, aliás, nos diz que “não sabemos
como rezar, mas o Espírito socorre a nossa fraqueza, intercedendo por nós com
gemidos inefáveis” (Rm 8,26), ou seja, com gemidos que a linguagem humana é
incapaz de reproduzir.
Ao apelo da Igreja responde
o Senhor Jesus que virá, (…) e virá muito em breve: “Eis que venho em breve, e
trago a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap
22,12; cf. 22,7.20). Sem dúvida, Ele virá rematar a história: dirá a última
palavra, revelará os segredos dos corações, exaltará os que, na sua modéstia
despercebida, se esforçam por ser fiéis à vocação cristã.
Em breve (…) Isto não
significa iminência do fim do mundo, pois o Senhor Jesus vem diariamente em
seus sacramentos e sacramentos. Os bens definitivos já lançaram raízes nos
tempos presentes; o futuro já se deixa antegozar no decorrer mesmo da nossa
história. Por isto pode São João escrever: “Aquele que ouve, diga também: “Vem!”.
Que o sedento venha, e quem o deseja, receba gratuitamente água da vida!” (Ap
22,17). Através mesmo dos véus da fé e dos sinais sacramentais dá-se encontro
do cristão com Cristo, a fim de que antecipadamente usufrua dos valores
celestiais.
Estas ideias são a base da
espiritualidade da Igreja no mês de dezembro até o dia de natal. Nas quatro
semanas do Advento (= vinda) a Igreja se prepara sequiosamente para a vinda do
Senhor Jesus: (…), vinda nos sinais do Natal (…), Natal, porém, que não é senão
o primeiro eco da vinda definitiva do Senhor. A espera sequiosa de algo de
melhor, que corresponda aos mais genuínos anseios do homem, é profundamente
humana e cristã; torna-se espontâneo a todo homem sentir a precariedade dos
valores desta vida.
É para desejar, pois, que o
próximo Natal signifique para toda a humanidade, especialmente para as pessoas
de fé, a convicção renovada de que não esperam em vão, mas existe, sim, a
resposta, que é o Senhor Jesus, presente em seus sacramentos, penhor da vida
plena!