Uma Visão Inadequada sobre a RCC

O Semanário Litúrgico-catequético – O DOMINGO – de 30/10/2011, trouxe uma matéria de J. B. Libânio, sj, onde  fala da Renovação Carismática, na coluna “CAMINHOS DE EXISTÊNCIA” (23 . o Caminho carismático em comunidade).

Nota-se que o artigo foi escrito por alguém que conhece a RCC mais de “ouvir falar” ou de ler sobre ela do que de “participar de sua vida”; corre-se o perigo de alguém que conhece uma laranjada de ouvir falar dela e não de saboreá-la. Por isso, a matéria apresenta uma visão inadequada da RCC.

Depois de descrever ligeiramente algumas atividades da RCC, diz Libânio: “Um líder oferece maior segurança num caminho por si mesmo extremamente pessoal e subjetivo”. E falando desses líderes da RCC diz que a ligação das pessoas com ele se faz “pelos laços afetivos de confiança mútua, criados entre todos e, de modo especial com o guru”.

Quem conhece  a RCC e participa dela sabe que a segurança que os líderes oferecem aos demais não são “pessoais” e nem “subjetivas”, mas baseadas na mais pura fé católica: na Palavra de Deus, na força dos Sacramentos, na doutrina sem erro da Igreja, aprendidas no Catecismo da Igreja; na união à sagrada Hierarquia; na oração pessoal e comunitária (Terço, adoração e  bênção do Santíssimo Sacramento, meditação da Palavra,  cânticos de louvor, adoração, reparação, intercessão…), no jejum, na esmola e na caridade. Não é uma ação subjetiva de um líder isolado; se fosse, a RCC não teria sobrevivido e crescido nesses 40 anos e nem mesmo seria aprovada pelos Papas. Ela foi amplamente reconhecida pelo “Conselho Pontifício para os Leigos”, e  atualmente são  mais de cem milhões de católicos que vivem a experiência da RCC, segundo confirma Alan Panozza, presidente dos «Serviços Internacionais da Renovação Carismática Católica» (ICCRS, por suas siglas em inglês), com sede no Vaticano. Ela está presente em mais de 200 países.   ( 25 de setembro de 2003 – ZENIT.org).

O Frei Inácio Cantalamessa; pregador do Papa, e assíduo nos Encontros internacionais da RCC, disse que ela é “uma corrente de graças que está destinada a transformar toda a  Igreja”. Nesta mesma entrevista (25/9/2003 – www. Zenit.org) ele disse: “O batismo no Espírito não é uma invenção humana, é uma invenção divina. É uma renovação do batismo e de toda a vida cristã, de todos os sacramentos. Para mim foi também uma renovação de minha profissão religiosa, de minha confirmação, de minha ordenação sacerdotal. Todo o organismo espiritual se reaviva como quando o vento sopra sobre uma chama. Por que o Senhor decidiu atuar neste tempo desta maneira tão forte? Não sabemos. É a graça de um novo pentecostes.”

O pregador do Papa atesta que  Paulo VI afirmou em 1974 que “a Renovação Carismática é uma oportunidade para a Igreja”. Cantalamessa ainda disse: “Não há que ter medo. Há Conferências Episcopais, por exemplo, na América Latina – é o caso do Brasil-, onde a hierarquia descobriu que a Renovação Carismática não é um problema: é parte da solução ao problema dos católicos que se afastam da Igreja porque não encontram nela uma palavra viva, a Bíblia vivida, uma possibilidade de expressar a fé de maneira gozosa, de forma livre, e a Renovação Carismática é um meio formidável que o Senhor pôs na Igreja para que se possa viver uma experiência do Espírito, pentecostal, na Igreja católica, sem necessidade de sair dela. Tampouco se deve considerar que se trata de uma «ilha» na qual se reúnem algumas pessoas que são um pouco emocionais. Não é uma ilha. É uma graça destinada a todos os batizados. Os sinais externos podem ser diferentes, mas em sua essência é uma experiência destinada a todos os batizados” (ibidem).

Bento XVI já aprovava a RCC quando era cardeal: “Certamente [a Renovação no Espírito]  trata-se de uma esperança, de um positivo sinal dos tempos, de um dom de Deus para a nossa época. È a redescoberta da alegria e da riqueza da oração contra a teoria e práxis sempre mais enrijecidas e ressecadas no tradicionalismo secularizado. Eu mesmo constatei pessoalmente a sua eficácia em Munique…”. (Vittorio Messori, J. Ratzinger, A Fé em Crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. E.P.U, São Paulo, 1985, pg. 117-118)

Libânio fala em “guru” na RCC. Nada mais estranho! Ora, nas comunidades e nos grupos de oração não há “gurus”, um venerável mestre espiritual como no hinduísmo, em torno do qual se reúnem os “seus” discípulos para ouvir e viver a “sua” doutrina. Não. Na RCC o Senhor único é Jesus Cristo, o Mestre; sua Palavra é a doutrina; a fé em seu Nome e na Eucaristia dão a força da unidade; os sacramentos são os canais da graça da salvação e a autoridade, “Mater et Magistra” é a Igreja. Os líderes na RCC não são chefes, mas “servos”. Por isso mesmo, não é verdade o que diz Libânio, que a RCC “baliza-lhes a trajetória sem com isso traze-los necessariamente a alguma instituição eclesial oficial”. Ora,  a RCC, como disse o frei Cantalamessa, traz o povo de volta para a Igreja católica, como nenhuma outra instituição da Igreja.

Na “Conferência Internacional da Renovação Carismática”,  na Itália, em outubro de 1998, João Paulo II, disse: “A Renovação Carismática Católica tem ajudado muitos cristãos a redescobrirem a presença e o poder do Espírito Santo em suas vidas, na vida da Igreja e do mundo; e esta redescoberta tem levantado neles uma fé em Cristo cheia de alegria, um grande amor pela Igreja e uma generosa dedicação a sua missão evangelizadora”.

São um tanto enigmáticas as palavras de Libânio quando ele diz que:  “As comunidades emocionais resistem e vivem à margem da correnteza maior da sociedade moderna – da lógica racional e pragmática, governada pela razão instrumental… para viver da força do Espírito”.

As comunidades nascidas da RCC, como o Shalom, a Canção Nova, Obra de Maria, Pantokrator, … e tantas outras que já são cerca de 500 só no Brasil, são uma poderosíssima força de evangelização no Brasil e no mundo, com seus filhos capacitando-se cada vez mais na teologia e em outras ciências. Não é à toa que no Pentecostes de 1998 o Papa se referiu a elas como sendo “a resposta do Espírito Santo para o novo milênio”.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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