Uma reflexão sobre o cristão e a arte…

Recentemente, o povo cristão e as pessoas de boa vontade ficaram chocadas com a exposição “Queermuseu” realizada em Porto Alegre pelo Santander Cultural. Nesta feira de arte pudemos ver o desvirtuamento da arte, cujo sentido verdadeiro é destacar o belo, com perícia e competência para levar o espírito humano aos valores transcendentes que dão sentido à vida. O que foi visto – e que por isso recebeu o veemente repúdio da sociedade – foi uma exposição grosseira, desrespeitosa, ridicularizando símbolos religiosos, como hóstias com nomes escritos de órgãos sexuais, além de imagens que evocam pornografia, pedofilia, zoofilia e bestialidade. O mais baixo nível da “arte”. Um acinte à inteligência, que merece a nossa indignação!

Os protestos foram tantos que a Exposição foi suspensa pelo Santander e milhares de clientes cancelaram suas contas correntes neste Banco. O próprio Banco pediu “sinceras desculpas a todos que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra”. E reconheceu que; “Entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitaram símbolos, crenças e pessoas”. A forte reação dos cristãos mostrou que não se pode mais aceitar, calados, absurdos desse tipo, os quais tentam querer impor totalitariamente à sociedade “certos antivalores”. Aí vemos o total desrespeito pelo sentido mais belo da arte.

Aproveitando esse triste evento, gostaria aqui de refletir sobre o grande valor da verdadeira arte, algo que sempre foi valorizado pelo cristianismo. Grandes artistas em todos os tempos, enriqueceram a civilização Ocidental com suas magníficas obras de arte. Podemos citar, por exemplo, o grande Michelangelo com suas belas esculturas como o Davi, Moisés, as quatro Pietás, as pinturas da Capela Sistina, os vinte mil metros quadrados de mosaicos da Basílica de São Pedro. Podemos citar Rembrandt, Rafael, Bernini, Giotto, o nosso Aleijadinho, Cândido Portinari, Tarcila do Amaral, Di Cavalcanti, e muitos que elevaram o nível cultural e espiritual do Ocidente com suas obras verdadeiramente belas.

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Esses homens buscavam a mais alta qualidade possível, de maneira profunda, bela, inspirada em nobres ideias como a religião, Deus, a história, a natureza, os grandes feitos humanos, etc.. Hoje, porém, o que estamos assistindo, é toda esta beleza ser substituída pela “cultura do feio”, do horror, do inútil, do bobo, da mensagem sem sentido, algo do contra, da revolta de almas que não encontraram o sentido da vida. Faz-se do corpo como se fosse um “outdoor” que pode ser marcado com quaisquer mensagens, esquecendo-se de que ele é templo do Espírito Santo. Assim também as roupas, os cabelos, parecem mais cultuar o feio do que o belo. E o mais impressionante, é que esta onda vai se alastrando e dominando até boas cabeças… Não praticar esta moda seria fugir do “politicamente correto” e ser taxado como atrasado. É o que Bento XVI chamou de “ditadura do relativismo”, onde não existe mais moral, verdade, padrão de beleza, de competência; mas apenas o gosto subjetivo de cada um.

Segundo o especialista em arte, Robert Florczak, da Prager University, no vídeo indicado abaixo- que vale a pena assistir- tudo começou no século XIX quando os tais “impressionistas” começaram a contestar as exigências da Academia Francesa de Artes, com padrões elevados. Aos poucos esses padrões de qualidade foram sendo substituídos apenas pelas expressões pessoais de cada um, dentro de um relativismo estético que não mais obedece os padrões de qualidade e ética. Ora, sem padrões definidos não se tem como julgar o mérito de uma obra de arte. Se qualquer coisa é válida, então, não há mais meritocracia. Infelizmente, o que percebemos aqui é que este relativismo estético está diretamente ligado ao relativismo ético e moral pelo qual está envolvido o mundo.

Assista:

Robert dá o exemplo de um patinador que treina com afinco para dar uma boa exibição no gelo; seu mérito está na alta performance de sua apresentação, analisada e julgada pelos entendidos. Aceita-se, por exemplo, que alguém sem qualquer qualificação no gelo, apenas se espalhe sobre ele escorregando, sem técnica e elegância, tenha o mesmo valor do patinador qualificado, então, se destrói toda a arte da patinação do gelo? Esse bom exemplo pode ser multiplicado para todos os tipos de arte (música, pintura, arquitetura, escultura, desenhos,literatura, etc.).

Parece que hoje, qualquer tipo de pintura ou escultura é válida, deixando para que cada um encontre nela o que desejar, subjetivamente. Na verdade isso favorece os incompetentes e aproveitadores. Por exemplo, há uma matéria circulando na internet mostrando os óculos que alguém, propositalmente, derrubou num corredor do Museu de Arte Moderna em San Francisco, nos Estados Unidos, e que logo alguns começaram a fotografa-lo como se fosse uma obra de arte (Confira: https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/visitantes-confundem-oculos-no-chao-como-obra-de-arte-nos-eua.ghtml). Em um outro caso, um museu americano expôs uma rocha de 340 toneladas como uma obra de arte que custou caro. Ou seja, se tudo é arte, não há mais arte; há o vazio, a incompetência artística.

O Papa Bento XVI, em 22/11/2009, disse a um grupo de 260 artistas renomados internacionalmente: cantores, músicos, escritores, pintores, arquitetos, atores, entre outros, reunidos na Capela Sistina, que:

“O que os homens e mulheres contemporâneos realmente precisam é de beleza, caminho para encontrar Deus”. “O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode animar a alma humana a encontrar o caminho, a elevar o olhar ao horizonte, a sonhar com uma vida digna da sua vocação? Não é acaso a beleza?. A experiência do belo, do autenticamente belo, do que não é efêmero nem superficial, não é acessório ou algo secundário na busca do sentido e da felicidade, porque essa experiência não afasta da realidade, e sim leva a enfrentar totalmente a vida cotidiana para libertá-la da escuridão e transfigurá-la, para torná-la luminosa, bela.”

A beleza, segundo o Papa, pode provocar no ser humano “uma saudável ‘sacudida’ que o leve a sair de si mesmo, que o arranque da resignação, da comodidade do cotidiano; que o faça também sofrer, como um dardo que o fere, mas que o ‘desperta’, abrindo-lhe novamente os olhos do coração e da mente, dando-lhe asas, empurrando-o para o alto”.

Nota-se nitidamente que muitos eventos “artísticos” tem objetivamente o interesse de atacar a Igreja, o cristianismo e os valores morais e espirituais que moldaram a nossa Civilização Ocidental, a mais bela que o mundo já conheceu. Nela surgiram as grandes descobertas do mundo científico e tecnológico (carro, avião, telefone, gramofone, trem, celular, eletricidade, etc. ).

Até mesmo o nosso Código Penal criminaliza a ofensa às crenças das pessoas. Liberdade de expressão não quer dizer cada um fazer e dizer o quem bem entende, ofendendo as pessoas. Liberdade não é libertinagem. Eu posso dar murros no ar à vontade, até não acertar o nariz do outro. Isto seria libertinagem. Liberdade sem a verdade objetiva e sem a responsabilidade e o respeito se torna abuso grosseiro.

É urgente que se restabeleça a verdadeira arte, com beleza e transcendência. Patrocinadores de eventos de arte, empresários, museus, galerias, críticos, etc., precisam repensar que tipo de eventos realizam ou patrocinam; e cabe a cada um de nós, sobretudo cristãos, exigir que se retire de pauta o “lixo artístico” que toma a forma apenas de protesto desrespeitoso e ofensivo à moral, à religião, e aos bons costumes. Não podemos permitir que se substitua na arte, a perícia e o belo, pelo protesto ideológico com baixarias e indecências. Não podemos aceitar que a transcendência da arte seja substituída pelo ridículo, porque a arte é um patrimônio da humanidade que deve ser preservado com dignidade.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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