Sofrer na fé

rosario-mao“Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” (1Tes 5,16-18).

Deus não é o autor do mal, da dor, do sofrimento e da morte. Ele Deus não pode fazer o mal; pois é o bem Perfeito. São Paulo deixa claro que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,13). Todo sofrimento e toda lágrima tem sua raiz última no pecado da humanidade. O nosso Catecismo diz com toda clareza que se o pecado não tivesse entrado em nossa história, não haveria a morte e a dor.

A Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens e sua inclinação para o mal e para a morte são incompreensíveis, a não ser referindo-se ao pecado de Adão que nos afeta a todos e é “morte da alma”(Cat. n. 403).

São Paulo disse: “Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram…” (Rm 5,12).

Santo Agostinho buscava a razão do mal: “Eu perguntava de onde vem o mal e não encontrava saída”, e só encontrou a resposta em sua conversão a Deus. Pois “o mistério da iniquidade” (2 Ts 2,7) só se explica à luz do “Mistério da piedade”. O nosso Catecismo explica que: “Esta situação dramática do mundo, que “inteiro está sob o poder do Maligno” (1Jo 5,19), faz da vida do homem um combate: Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história universal da humanidade. Iniciada desde a origem do mundo, vai durar até o último dia, segundo as palavras do Senhor”. (n.409)

Mas Jesus veio nos salvar dessa situação terrível. Ele é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1,29). Com sua morte destruiu a morte e nos devolveu a vida eterna. Agora, graças a Cristo, a dor e a morte cristã tem um sentido positivo, porque Cristo transformou o sofrimento “em matéria prima da salvação”. Assumido a dor e a morte, Cristo deu-lhes sentido; como um lixo reciclado que dá bons produtos. Agora cada cristão pode juntar sua dor no cálice do Sangue do Senhor e oferecer a Deus pela sua salvação e a do mundo.

Com base nisso São Paulo disse: “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 1,11). Para o cristão maduro na fé, a dor e a morte não causa desespero e nem desânimo; pois ele as enfrenta na fé em Cristo.

Certo de que todo sofrimento oferecido a Deus é salvífico, São Paulo disse aos colossenses: “Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo no seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24).

E mandava que os fiéis se alegrassem sempre, mesmo nos sofrimentos: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus” (Fil 4,4-7).

Deus sabe de todo mal tirar um bem para nossa santificação; assim, quando estamos sofrendo, qualquer tipo de sofrimento, Deus está nos santificando. Por isso o Apóstolo disse: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom 8,28). “Vivei sempre contentes. Orai sem cessar” (1 Tess 5,16). Sofremos um pouco aqui nesta vida, mas ganhamos a vida eterna em Deus para sempre.sofrendo_menor

O cristão, com a graça de Deus, não se deixa vencer pelo sofrimento, mas o vence na fé, como disse São João: “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5,4). Só pela fé o cristão consegue sofrer com paz: “O justo vive pela fé” (Rom 1,17). “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6).

Eu gostaria de mostrar dois belos exemplos dessa fé. Um deles foi de Mons. Ignatius Ong Pin-Mei, Bispo de Shangai, que passou 30 anos nas prisões da China (1988). Ao ser solto, disse: “Eu fiquei fiel à Igreja Católica Romana. Trinta anos de prisão não me mudaram. Eu guardei a fé. Eu estou pronto amanhã a voltar novamente à prisão para defender minha fé”.

Outro exemplo foi do Cardeal Frantisek Tomasek, que esteve preso também muitos anos nos cárceres comunistas da antiga Tchecoslováquia; ao ser solto em 1985, um repórter lhe pergunto se ele, um cardeal, um príncipe da Igreja, não se sentiu frustrado em sua missão, preso por tantos anos; ele respondeu: “Digo sempre uma coisa: quem trabalha pelo Reino de Deus faz muito; quem reza, faz mais; quem sofre, faz tudo. Este tudo é exatamente o pouco que se faz entre nós na Tchecoslováquia“ (IL Sabato 8,14/06/85, p.11),( PR,n.284, jan86).

Por tudo isso, os santos se alegravam mesmo nos sofrimentos; não pelo mal em si, que Deus não quer, mas pelo que de bom Ele sabe tirar do mal. Por isso São Paulo nos convida: “Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” (1Tes 5,16-18).

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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