Sexualidade Humana: Verdade e Significado – Parte 4

VI – OS
PASSOS NO CONHECIMENTO

64. Aos
pais compete particularmente a obrigação de dar a conhecer aos filhos os mistérios
da vida humana, porque a família « é o melhor ambiente para cumprir a obrigação
de garantir uma educação gradual da vida sexual. Ela tem uma carga afectiva
capaz de fazer aceitar sem traumas mesmo as realidades mais delicadas e
integrá-las harmonicamente numa personalidade equilibrada e rica ».1

Este dever
primário da família, que recordámos, comporta para os pais o direito a que os
seus filhos não sejam obrigados, na escola, a assistir a cursos sobre esta
matéria que estejam em desacordo com as suas convicções religiosas e morais.2
De facto, é dever da escola não se substituir à família mas, antes, « assistir
e complementar a tarefa dos pais, oferecendo às crianças e aos adolescentes uma
apreciação da sexualidade como valor e tarefa de toda a pessoa criada, homem e
mulher, à imagem de Deus ».3

Recordemos
justamente o que ensina o Santo Padre na Familiaris Consortio: « A Igreja
opõe-se firmemente a uma certa forma de informação sexual, desligada dos
princípios morais, tão difundida, que não é senão uma introdução à experiência
do prazer e um estímulo que leva à perda – ainda nos anos da inocência – da
serenidade, abrindo as portas ao vício ».4

É preciso,
por isso, propor quatro princípios gerais e em seguida examinar as várias fases
de desenvolvimento da criança.

Quatro
princípios sobre a informação a respeito da sexualidade

65. 1. Cada
criança é uma pessoa única e irrepetível e deve receber uma formação
individualizada. Como os pais conhecem, compreendem e amam cada um dos seus
filhos na sua irrepetibilidade, estão na melhor posição para decidir o momento
oportuno para dar as diversas informações, segundo o respectivo crescimento
físico e espiritual. Ninguém pode tirar aos pais conscienciosos esta capacidade
de discernimento.5

66. O
processo de maturação de cada criança como pessoa é diferente, pelo que os
aspectos que tocam mais a sua intimidade, tanto biológica como afectiva, devem
ser-lhe comunicados por meio de um diálogo personalizado.6 No diálogo com cada
filho, feito de amor e confiança, os pais comunicam algo do seu próprio dom de
si, o que os torna capazes de testemunhar aspectos da dimensão afectiva da
sexualidade, de outro modo não transmissíveis.

67. A experiência demonstra que este
diálogo se desenvolve melhor quando o « pai » que comunica as informações
biológicas, afectivas, morais e espirituais, é do mesmo sexo da criança ou do
jovem. Conhecedoras do papel, das emoções e dos problemas do próprio sexo, as
mães tem um laço especial com as suas filhas, e os pais com os filhos. É
preciso respeitar estes laços naturais; por isso, o « pai » que se encontre só
deverá comportar-se com grande sensibilidade ao falar com um filho de sexo
diverso, e poderá decidir confiar os aspectos particulares mais íntimos a uma
pessoa de confiança do mesmo sexo da criança. Para esta colaboração de carácter
subsidiário, os pais podem servir-se de educadores conscienciosos e bem
formados no âmbito da comunidade escolar, paroquial ou das associações
católicas.

68. 2. A dimensão moral deve
sempre fazer parte das suas explicações. Os pais poderão pôr em realce que os
cristãos são chamados a viver o dom da sexualidade segundo o plano de Deus que
é Amor, isto é, no contexto do matrimónio ou da virgindade consagrada ou ainda
no celibato.7 Deve-se insistir no valor positivo da castidade, e na capacidade
de gerar verdadeiro amor para com as pessoas: este é o seu aspecto moral mais
importante e radical; só quem sabe ser casto saberá amar no matrimónio ou na
virgindade.

69. Desde a
idade mais tenra, os pais podem observar inícios de uma actividade genital
instintiva na criança. Não se deve considerar repressivo o facto de se corrigir
suavemente os hábitos que poderiam tornar-se pecaminosos mais tarde e ensinar a
modéstia, sempre que seja necessário, à medida que a criança cresce. É sempre
importante que o juízo de recusa moral de certas atitudes, contrárias à
dignidade da pessoa e à castidade, seja justificado com motivações adequadas,
válidas e convincentes tanto no plano racional como no plano da fé, por isso
num quadro de positividade e de alto conceito da dignidade pessoal. Muitas
admoestações dos pais são simples reprovações ou recomendações que os filhos
percebem como fruto do medo de certas consequências sociais ou de reputação
pública, mais que de um amor atento ao seu verdadeiro bem. « Exorto-vos a
corrigir com todo o empenho os vícios e as paixões que nos assaltam em cada
idade. Porque se, em qualquer época da nossa vida navegarmos desprezando os
valores da virtude e sofrendo assim naufrágios constantes, arriscamo-nos a
chegar ao porto vazios de toda a carga espiritual ».8

70. 3. A formação na castidade e
as oportunas informações sobre sexualidade devem ser fornecidas no contexto
mais amplo da educação para o amor. Não é por isso suficiente comunicar
informações sobre o sexo juntamente com princípios morais objectivos. É
necessário também uma ajuda constante para o crescimento da vida espiritual dos
filhos, a fim de que o desenvolvimento biológico e as pulsões que começam a
experimentar sejam sempre acompanhados de um crescente amor a Deus Criador e
Redentor e de um maior conhecimento da dignidade de cada pessoa humana e do seu
corpo. À luz do mistério de Cristo e da Igreja, os pais podem ilustrar os
valores positivos da sexualidade humana no contexto da inata vocação da pessoa
ao amor e da vocação universal à santidade.

71. Nos
colóquios com os filhos, portanto, nunca devem faltar os conselhos idóneos para
crescer no amor de Deus e do próximo e para superar as dificuldades: « A
disciplina dos sentidos e do espírito, a vigilância e a prudência para evitar
as ocasiões de pecado, a guarda do pudor, a moderação nos divertimentos, as
actividades sãs, o recurso frequente à oração e aos sacramentos da Penitência e
da Eucaristia. Os jovens, sobretudo, devem empenhar-se a desenvolver a sua piedade
para com a Imaculada Mãe de Deus ».9

72. Para
educar os filhos para saberem avaliar bem os ambientes que frequentam, com
sentido crítico e de verdadeira autonomia, e também para habituá-los a um uso
comedido dos meios de comunicação social, os pais deverão sempre apresentar os
modelos positivos e as modalidades adequadas para empenhar as suas energias
vitais, o sentido de amizade e de solidariedade no vasto campo da sociedade e
da Igreja.

Em presença
de tendências e atitudes desviantes, diante das quais é preciso ter grande
prudência e cautela para distinguir e avaliar bem as situações, saberão mesmo
recorrer a especialistas de segura formação científica e moral para identificar
as causas para além dos sintomas e ajudar as pessoas a isso sujeitas, com
seriedade e clareza, a superar as dificuldades. A acção pedagógica seja
orientada mais para as causas do que para a repressão directa do fenómeno,10
procurando também – se necessário – o auxílio de pessoas qualificadas, como
médicos, pedagogos, psicólogos de recto sentir cristão.

73. O
objectivo da obra educativa é, para os pais, transmitir a seus filhos a
convicção de que a castidade no seu estado de vida é possível e portadora de
alegria. A alegria brota do conhecimento de uma maturação e harmonia da sua
vida afectiva, que, sendo dom de Deus e dom de amor, consente na realização do
dom de si no âmbito da própria vocação. O ser humano, com efeito, única
criatura na terra que Deus quis por si mesma, « não pode encontrar-se
plenamente senão por um dom sincero de si mesmo ».11 « Cristo deu leis comuns
para todos… Não te proíbo que te cases, nem me oponho a que te divirtas. Só
quero que o faças com temperança, sem impudicícia, sem culpas e pecados. Não
ponho como lei que fujais para os montes e desertos, mas que sejais corajosos,
bons, modestos e castos vivendo no meio da cidade ».12

74. A ajuda de Deus nunca nos falta, se
cada um puser o empenho necessário para corresponder à graça de Deus. Ajudando,
formando e respeitando a consciência dos filhos, os pais devem procurar que
frequentem conscientemente os sacramentos, caminhando diante deles com o
próprio exemplo. Se as crianças e os jovens experimentarem os efeitos da graça
e da misericórdia de Deus nos sacramentos, serão capazes de viver bem a
castidade como dom de Deus, para a sua glória e para o amar e amar as outras
pessoas. Um auxílio necessário e sobrenaturalmente eficaz é oferecido pela
frequência do Sacramento da reconciliação, especialmente se é possível recorrer
a um confessor estável. A orientação ou direcção espiritual, mesmo que não
coincida necessariamente com o papel do confessor, é um auxílio precioso para o
esclarecimento progressivo das fases da maturação e para um apoio moral.

De grande
ajuda é a leitura de livros de formação escolhidos e aconselhados seja por
oferecerem uma formação mais vasta e aprofundada seja por fornecerem exemplos e
testemunhos no caminho da virtude.

75. Uma vez
identificados os objectivos da informação, é necessário determinar os seus
tempos e modalidades, a começar pela idade da infância.

4. Os pais
devem dispensar esta informação com estrema delicadeza, mas de modo claro e no
tempo oportuno. Eles bem sabem que os filhos devem ser tratados de modo
personalizado, segundo as condições pessoais do seu desenvolvimento fisiológico
e psíquico e tendo em devida conta também o ambiente cultural de vida e a
experiência que o adolescente faz na vida quotidiana. Para avaliar bem o que
devem dizer a cada um é muito importante que primeiro peçam luz ao Senhor, na
oração, e falem um com o outro, a fim que as suas palavras não sejam nem
demasiado explícitas nem demasiado vagas. Dar demasiados pormenores às crianças
é contraproducente, mas atrasar excessivamente as primeiras informações é
imprudente, porque todas as pessoas humanas têm uma curiosidade natural a esse
respeito e, mais tarde ou mais cedo, se interroga, sobretudo numa cultura em
que se pode ver muita coisa, até na rua.

76. Em
geral, as primeiras informações acerca do sexo, a dispensar a uma criança
pequena, não são sobre a sexualidade genital, mas sobre a gravidez e o
nascimento de um irmão ou de uma irmã. A curiosidade natural da criança é
estimulada, por exemplo, quando vê na mãe os sinais da gravidez e vive a espera
de um bebé. Os pais podem aproveitar desta alegre experiência para comunicar
alguns factos simples acerca da gravidez, mas sempre no contexto mais profundo
das maravilhas da obra criadora de Deus, o qual dispõe que a nova vida que Ele
dá seja guardada no corpo da mãe, perto do seu coração.

As fases
principais do desenvolvimento da criança

77. É
importante que os pais respeitem as exigências dos seus filhos nas diversas
fases do desenvolvimento. Tendo em conta que cada criança deve receber uma
formação individualizada, eles podem adaptar as etapes da educação ao amor às
necessidades particulares de cada filho.

1. Os anos
da inocência

78. Desde a
idade de cinco anos, aproximadamente, até à puberdade – cujo início se coloca
na manifestação das primeiras modificações no corpo do rapaz ou da menina
(efeito visível de um aumento de produção das hormonas sexuais) – diz-se que a
criança está na fase descrita, segundo as palavras de João Paulo II, como « os
anos da inocência ».13 Este período de tranquilidade e serenidade nunca deve
ser perturbado com uma informação sexual desnecessária. Nestes anos, antes que
se torne evidente um desenvolvimento físico sexual, é normal que os interesses
da criança se voltem para outros aspectos da vida. Desapareceu a sexualidade
instintiva rudimentar da criança pequena. Os meninos e as meninas desta idade
não estão particularmente interessados pelos problemas sexuais e preferem
conviver com crianças do mesmo sexo.

Para não
perturbar esta importante fase natural do crescimento, os pais reconhecerão que
uma cauta formação para o amor casto, neste período, deve ser indirecta, em
preparação para a puberdade, período em que a informação directa será
necessária.

79. Nesta
fase do desenvolvimento, a criança está normalmente à vontade com o corpo e as
suas funções. Aceita a necessidade de modéstia no modo de vestir e no
comportamento. Embora conheça as diferenças físicas entre os dois sexos, a
criança em crescimento mostra em geral pouco interesse pelas funções genitais.
A descoberta das maravilhas da criação, que acompanha esta época, e as
experiências nesse sentido em casa e na escola, deverão também ser orientadas
para as fases da catequese e a aproximação dos sacramentos, que acontece no
interior da comunidade eclesial.

80.
Todavia, este período da infância não é desprovido do seu significado em termos
de desenvolvimento psico-sexual. O menino ou a menina que cresce aprende, com o
exemplo dos adultos e a experiência familiar, o que significa ser uma mulher ou
um homem. Certamente, não se deveriam desencorajar as expressões de ternura
natural e de sensibilidade da parte dos rapazes, nem, vice-versa, se deveriam
excluir as meninas de actividades físicas vigorosas. Mas, por outro lado, em
algumas sociedades sujeitas a pressões ideológicas, os pais deverão evitar
também uma oposição exagerada em relação àquela que se define como uma «
esteriotipização dos papéis ». Não se deveríam ignorar ou minimizar as
diferenças efectivas entre os dois sexos e, num ambiente familiar são, as
crianças aprenderão que é natural que a estas diferenças corresponda uma certa
diversidade entre os papéis familiares e domésticos normais, respectivamente
dos homens e das mulheres.

81. Durante
esta fase, as meninas desenvolvem em geral um interesse materno pelas crianças
pequeninas, pela maternidade e pelos cuidados da casa. Tendo constantemente
como modelo a Maternidade da Santíssima Virgem Maria, deveriam ser encorajadas
a valorizar a sua própria feminilidade.

82. Um
rapaz, nesta fase, está num período de desenvolvimento relativamente tranquilo.
Este representa frequentemente o período mais fácil para estabelecer um bom
relacionamento com o pai. Neste tempo, ele deveria aprender que a sua
masculinidade, embora deva ser considerada um dom divino, não é sinal de
superioridade em relação às mulheres, mas um chamamento de Deus para assumir
certos papéis e responsabilidades. O rapazinho deveria ser desaconselhado de se
tornar excessivamente agressivo ou muito preocupado com a coragem física como
garantia da sua virilidade.

83. Todavia,
no contexto da informação moral e sexual, podem surgir nesta fase da infância
diversos problemas. Hoje, em algumas sociedades, há tentativas programadas e
determinadas para impor uma informação sexual prematura às crianças.

Neste
período do desenvolvimento, todavia, elas não são ainda capazes de compreender
plenamente o valor da dimensão afectiva da sexualidade. Não podem compreender e
controlar a imagem sexual num contexto adequado de princípios morais e,
portanto, não podem integrar uma informação sexual prematura com a
responsabilidade moral. Tal informação tende assim a infringir o seu
desenvolvimento emocional e educativo e a perturbar a serenidade natural deste
período de vida. Os pais deveriam excluir com suavidade mas com firmeza as
tentativas de violar a inocência dos filhos, porque tais tentativas comprometem
o desenvolvimento espiritual, moral e emocional das pessoas que estão crescendo
e que têm direito a tal inocência.

84. Um
problema ulterior surge quando as crianças recebem uma informação sexual
prematura da parte dos meios de comunicação social ou de coetâneos que foram
desencaminhados ou que receberam uma educação sexual precoce. Nestas
circunstâncias os pais terão necessidade de começar a fornecer uma informação
sexual cuidadosamente limitada, habitualmente para corrir uma informação imoral
errada ou para controlar uma linguagem obscena.

85. Não são
pouco frequentes as violências sexuais diante das crianças. Os pais devem
proteger os seus filhos, antes de mais educando-os para uma forma de modéstia e
de reserva diante de pessoas estranhas; além disso, dispensando uma adequada
informação sexual, sem porém antecipar pormenores e particularidades que os
poderiam perturbar ou assustar.

86. Como
nos primeiros anos de vida, também durante a infância os pais deveriam
encorajar os seus filhos no que respeita ao espírito de colaboração,
obediência, generosidade e abnegação, assim como favorecer as capacidades de
auto-reflexão e de sublimação. De facto, é característico deste período de
desenvolvimento ser-se atraído por actividades intelectuais: e a
intelectualização permite adquirir a força e a capacidade de controlar a
realidade que nos rodeia e, num futuro próximo, mesmo os instintos que provêm
do corpo, de modo a transformá-los em actividades intelectuais e racionais.

A criança
indisciplinada ou viciada tem tendência para uma certa fragilidade moral no
futuro, porque a castidade é difícil de conservar se uma pessoa desenvolve
hábitos egoístas ou desordenados e não é capaz de se comportar com os outros
com interesse e respeito. Os pais devem apresentar padrões objectivos daquilo
que está certo ou errado, criando um contexto moral seguro para a vida.

2. A puberdade

87. A puberdade, que constitui a fase
inicial da adolescência, é um momento em que os pais são chamados a estar
particularmente atentos à educação cristã dos filhos: é o momento da descoberta
de si mesmo « e do próprio universo interior, tempo de planos generosos, o
tempo do desabrochar do sentimento do amor, com os impulsos biológicos da sexualidade,
o tempo do desejo de estar junto com os outros, o tempo de uma alegria
particularmente intensa, ligada a uma inebriante descoberta da vida. Muitas
vezes, porém, é conjuntamente a idade das interrogações mais profundas, das
indagações angustiadas ou até mesmo frustratórias, de uma certa desconfiança
para com os outros acompanhada do debruçar-se sobre si mesmo, fechando-se; é a
idade, por vezes, dos primeiros passos e das primeiras amarguras ».14

88. Os pais
devem estar particularmente atentos à evolução dos seus filhos e às suas
transformações físicas e psíquicas, decisivas para a maturação da
personalidade. Embora sem revelar ânsia, medo e preocupação obsessiva, todavia
não consentirão que a cobardia e o comodismo bloqueiem a sua intervenção. Logicamente,
é um momento importante na educação para o valor da castidade, o qual se
traduzirá mesmo no modo de informar sobre a sexualidade. Nesta fase, a
interrogação educativa inclui também o aspecto da genitalidade e requer, por
isso, a sua apresentação, seja no plano dos valores seja no plano da realidade
globalmente compreendida; isto implica, além de mais, a compreensão do contexto
relativo à procriação, ao matrimónio e à família, contexto que se deve ter
presente numa autêntica obra de educação sexual.15

89. Os
pais, partindo das transformações que as filhas e os filhos experimentam no seu
corpo, são agora levados a dar explicações mais detalhadas sobre sexualidade,
todas as vezes que – apoiados num relacionamento de confiança e de amizade – as
meninas se abrem com a mãe e os rapazes com o pai. Tal relacionamento de
confiança e de amizade é instaurado desde os primeiros anos de vida.

90. Tarefa
importante dos pais é acompanhar a evolução fisiológica das filhas, ajudando-as
a acolher com alegria o desenvolvimento da feminilidade em sentido corpóreo,
psicológico e espiritual.16 Normalmente, poder-se-á falar, portanto, também dos
ciclos de fertilidade e do seu significado; não será porém ainda necessário, a
menos que não seja explicitamente pedido, dar explicações pormenorizadas sobre
a união sexual.

91. É muito
importante que também os adolescentes de sexo masculino sejam ajudados a
compreender as fases do desenvolvimento físico e fisiológico dos órgãos
genitais, antes que ouçam estas notícias dos companheiros de jogos ou de
pessoas não bem intencionadas. A apresentação dos factos fisiológicos da
puberdade masculina deve ser feita num clima de serenidade, de positividade e
de reserva, no contexto da perspectiva matrimónio-família-paternidade. A
instrução quer das adolescentes quer dos adolescentes deverá por isso incluir
também uma informação circunstanciada e suficiente sobre as características
somáticas e psicológicas do sexo oposto, em relação ao qual existe
principalmente curiosidade.

Neste
contexto, pode ser uma ajuda para os pais o apoio informativo do médico
consciencioso e ainda do psicólogo, sem se separar tais informações de uma
referência à fé e à obra educativa do sacerdote.

92. Através
de un diálogo confiante e aberto, os pais poderão não só guiar as filhas para
enfrentar toda a perplexidade emotiva, mas ainda manter o valor da castidade
cristã na consideração do outro sexo. A instrução tanto das meninas como dos
rapazes deve procurar evidenciar a beleza da maternidade e a maravilhosa
realidade da procriação, assim como o profundo significado da virgindade. Deste
modo, serão ajudados a opor-se à mentalidade hedonista hoje muito presente e,
em particular, prevenir, num período tão decisivo, aquela « mentalidade
contraceptiva » desgraçadamente muito difusa e com a qual as filhas deverão
defrontar-se mais tarde, no matrimónio.

93. Durante
a puberdade, o desenvolvimento psíquico e emotivo do rapaz pode torná-lo
vulnerável às fantasias eróticas e à tentação de fazer experiências sexuais. Os
pais deverão estar perto dos filhos, corrigindo a tendência para utilizar a
sexualidade de forma hedonista e materialista. Eles, por isso, recordar-lhes-ão
o dom de Deus, recebido para cooperar com Ele para « realizar ao longo da
história a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela
geração de homem a homem »; e assim fortalecê-los-ão no conhecimento de que a «
fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena
doação recíproca dos esposos ».17 Deste modo os filhos aprenderão também o
respeito devido à mulher. A obra de informação e de instrução dos pais é
necessária, de facto, não porque de outro modo os filhos não poderiam conhecer
as realidades sexuais, mas para que as conheçam a uma luz correcta.

94. De
maneira positiva e prudente os pais realizarão o que pediram os Padres do
Concílio Vaticano II: « Os jovens devem ser instruídos convenientemente e a
tempo, sobretudo no seio da sua família, sobre a dignidade, a função e o
exercício do amor conjugal, a fim de que, preparados no cultivo da castidade,
possam passar, na idade própria, do noivado honesto para as núpcias ».18

Esta
informação positiva sobre a sexualidade estará sempre inserida num projecto
formativo, para criar aquele contexto cristão em que devem ser dadas todas as
informações sobre a vida e sobre a actividade sexual, sobre a autonomia e sobre
a higiene. Assim, as dimensões espirituais e morais deverão sempre prevalecer e
ter duas finalidades especiais: a apresentação dos mandamentos de Deus como
caminho de vida e a formação duma consciência recta.

Jesus, ao
jovem que o interroga sobre o que deve fazer para obter a vida eterna,
responde: « Se queres entrar na vida, observa os Mandamentos » (Mt 19, 17); e,
depois de ter enumerado aqueles que se referem ao amor do próximo, resume-os na
formulação positiva: « Ama o teu próximo como a ti mesmo » (Mt 19, 19).
Apresentar os mandamentos como dom de Deus (escritos pelo dedo de Deus, cf. Ex 31,
18) e expressão da Aliança com Ele, confirmados por Jesus com o seu próprio
exemplo, é muito importante porque o adolescente não os desliga da sua relação
com uma vida interiormente rica e liberta de egoísmos.19

95. A formação da consciência requer,
como ponto de partida, que se seja esclarecido sobre o projecto de amor que
Deus tem para cada pessoa, sobre o valor positivo e libertador da lei moral e
sobre o conhecimento tanto da fragilidade proveniente do pecado como também dos
meios da graça que corroboram a pessoa humana no seu caminho para o bem e a
salvação.

« Presente
no coração da pessoa, a conciência moral » – que é o « núcleo mais secreto e o
sacrário do homem », como afirma o Concílio Vaticano II20 – « obriga-a, no
momento oportuno, a fazer o bem e a fugir do mal. Ela julga também as opções
concretas, aprovando as boas e denunciando as más. Ela atesta a autoridade da
verdade em relação ao Bem supremo, de Quem a pessoa humana recebe o atractivo e
acolhe os mandamentos ».21

De facto «
a consciência moral é um juízo da razão mediante o qual a pessoa humana
reconhece a qualidade moral de um acto concreto que vai realizar, está
realizando ou já realizou ».22 Por isso, a formação da consciência requer o
esclarecimento acerca da verdade e do plano de Deus e não se deve confundir com
um vago sentimento subjectivo ou com a opinião pessoal.

96. Ao
responderem às perguntas dos filhos, os pais deverão oferecer argumentos bem
reflectidos sobre o grande valor da castidade e mostrar a fraqueza intelectual
e humana das teorias que inspiram comportamentos permissivos e hedonísticos;
responderão com clareza, sem dar importância excessiva às problemáticas
patológicas sexuais nem à falsa impressão de que a sexualidade seja uma
realidade vergonhosa ou suja, visto que é um grande dom de Deus, o qual deu ao
corpo humano a capacidade de gerar, tornando-nos participantes do seu poder
criador. Até mesmo, tanto na Escritura (cf. Cant 1-8; Os 2; Jer 3, 1-3; Ez 23,
etc.) como na tradição cristã23 sempre se viu o amor conjugal como um símbolo e
uma imagem do amor de Deus pelos seres humanos.

97. Visto
que durante a puberdade um rapaz ou uma jovem são particularmente vulneráveis
às influências emotivas, os pais têm o dever, através do diálogo e do seu
estilo de vida, de ajudar os filhos a resistir aos influxos negativos que
chegam do exterior e poderiam levá-los a substimar a formação cristã sobre o
amor e sobre a castidade. Às vezes, particularmente nas sociedades alteradas
pelos impulsos consumísticos, os pais deverão – sem que isso se note muito –
ter cuidado com os relacionamentos de seus filhos com adolescentes do sexo
oposto. Embora aceites socialmente, há hábitos no falar e nos costumes que são
moralmente incorrectos e representam uma forma de banalizar a sexualidade,
reduzindo-a a um objecto de consumo. Os pais devem então ensinar a seus filhos
o valor da modéstia cristã, da sobriedade no vestir, da necessária autonomia em
relação às modas, característica de um homem ou de uma mulher com personalidade
madura.24

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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