Sepulcro vazio é imprescindível para a fé

Novo livro de Bento XVI admite que o Santo Sudário possa ser
verdadeiro e fala em «salto ontológico» para a humanidade com a
ressurreição de Cristo
Lisboa, 10 Mar (Ecclesia) – Bento XVI afirma no seu novo livro que o sepulcro onde Jesus foi colocado após a crucifixão tem de estar vazio, até hoje, vendo nisso “um pressuposto necessário para a fé na ressurreição”.

O segundo volume da obra de Joseph Ratzinger sobre «Jesus de Nazaré», hoje publicada, assinala que “se o sepulcro vazio, como tal, não pode certamente provar a ressurreição, permanece porém um pressuposto necessário para a fé na ressurreição, uma vez que esta se refere precisamente ao corpo”.

“Essencial é o dado de que, com a ressurreição de Jesus, não foi revitalizado um indivíduo qualquer morto num determinado momento, mas se verificou um salto ontológico que toca o ser enquanto tal”, aponta ainda.

Esta questão, sublinha, é “o ponto decisivo” da sua pesquisa sobre a figura de Jesus.

O Papa lembra que “era fundamental para a Igreja antiga que o corpo de Jesus não tivesse sofrido a decomposição” e destaca a própria deposição no sepulcro, a respeito da qual aborda, brevemente, o tema do Santo Sudário.

Três Evangelhos (os chamados sinópticos, dada a sua semelhança) falam num lençol com o qual se envolveu Jesus, mas o texto de São João usa o plural – “«panos» de linho” – segundo o uso judaico.

“A questão sobre a concordância com o sudário de Turim não deve ocupar-nos aqui; em todo o caso, o aspecto de tal relíquia é, em princípio, conciliável com ambas as narrativas”, escreve o Papa.

O Vaticano nunca se pronunciou sobre a autenticidade deste pano de linho de 4,36 por 1,10 metros, venerado por milhões de pessoas em todo o mundo.

No capítulo da obra dedicado à «ressurreição de Jesus da morte», Bento XVI refere que a mesma “ultrapassa a história, mas deixou o seu rasto na história”.

“Por isso pode ser atestada por testemunhas como um acontecimento de uma qualidade completamente nova”, refere.

O Papa apresenta ainda como sinal de um “poder impressionante” a renúncia ao sábado e a sua substituição pelo “primeiro dia da semana” por parte das comunidades cristãs primitivas, nascidas no seio do judaísmo.

“Para mim, a celebração do Dia do Senhor, que desde o início caracteriza a comunidade cristã, é uma das provas mais fortes de que em tal dia sucedeu algo de extraordinário: a descoberta do sepulcro vazio e o encontro com o Senhor ressuscitado”, refere.

Bento XVI apresenta Jesus, ressuscitado, como mais do que “alguém que voltou à vida biológica normal” e teve um dia de morrer novamente, distinguindo-o de um “fantasma”, ou seja, “alguém que, na realidade, pertença ao mundo dos mortos”.

Sobre os relatos de “encontros com o Ressuscitado”, o Papa diz que “são uma realidade distinta das experiências místicas”, acrescentando que “a ressurreição é um acontecimento dentro da história, que, todavia, rompe o âmbito da história e a ultrapassa”.

O epílogo do livro fala de “Cristo junto do Pai” e da chamada “segunda vinda” de Jesus, sublinhando que a oração dos cristãos, neste contexto, “não visa imediatamente o fim do mundo”.

“Na fé, sabemos que Jesus, abençoando, tem as suas mãos estendidas sobre nós. Tal é a razão permanente da alegria cristã”, diz o Papa, nas últimas palavras do seu novo livro.

Toda a obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger como Papa, pelo que este manteve a opção de assinar também com o seu nome próprio e não apenas como Bento XVI.

OC

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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