Sem mim nada podeis fazer

O poder de Deus só se manifesta naqueles que estão cientes da própria fraqueza e da própria incapacidade para fazer algo de bom, sem que seja pela graça de Deus. Santo Agostinho, Santo Ambrósio e outros padres do século IV tiveram de lutar duramente para vencer a heresia de Pelágio (o pelagianismo), segundo a qual o homem poderia se salvar contando apenas com o auxílio da natureza, sem precisar do concurso da graça de Deus.

Jesus, já se despedindo dos Seus apóstolos, deixa-lhes uma séria recomendação: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. (…) Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,4a.5c).

O maior risco que corremos no trabalho do reino de Deus, é o de nos esquecermos dessa Palavra de Jesus, tentando realizar as obras da fé apenas com os nossos pobres recursos humanos. Nota-se hoje, infelizmente até em pessoas da Igreja, um certo humanismo exagerado, que chega até a dispensar a graça de Deus, como se essa não fosse imprescindível no sucesso das obras espirituais.

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Sem mim nada podeis fazer

Permanecei em Mim

Ninguém melhor do que São Paulo experimentou e exprimiu a importância da humildade para que Deus possa agir através de nós. Falando aos coríntios sobre as visões e revelações do Senhor, dizia que não tinha do que se gloriar. E, para ficar livre do perigo da vaidade, dizia: “Foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear” (II Cor 12,7). E depois de ter pedido três vezes ao Senhor que o livrasse disso, ouviu Sua resposta: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” (II Cor 12,9a). Quero destacar esse “totalmente”. E São Paulo afirmava: “Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo” (II Cor 12,9b). E arrematava: “Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (II Cor 12,10b).

Ser fraco é estar muito consciente da própria pequenez e impotência. Mas, quando colocamos nas mãos do Senhor a nossa pobreza, aí então Ele começa a realizar em nós maravilhas… Maria é o melhor exemplo dessa verdade. Ela mesma disse: “(Ele) olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas” (Lc 1,48-49a). Se Maria não fosse Sua “pobre serva”, não poderia Deus ter feito nela maravilhas. Em nós também será assim: enquanto não estivermos despojados de nossa autossuficiência e pretensão de que por nós mesmos podemos fazer algo, não poderemos ser úteis a Deus. Para deixar isso bem claro e para nos ensinar que dependemos d’Ele em tudo, Deus escolhe o fraco para confundir o forte, o inculto para confundir o sábio e o pequenino para confundir o grande. “Assim”, afirmou São Paulo, “nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus” (I Cor 1,29). Falando das tribulações que tinha enfrentado por Cristo – açoites, naufrágios, fome, perseguições, etc. -, dizia: “Sentíamos dentro de nós mesmos a sentença de morte: para que aprendêssemos a pôr a nossa confiança não em nós, mas em Deus…” (II Cor 1,9). E, quando se referia às maravilhas que o Senhor realizava através dele, não deixava de dizer também: “Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (II Cor 4,7). Essa é uma boa imagem: somos como que vasos de barro, trazendo dentro de nós o poder extraordinário de Deus. Vasos estes que podem se quebrar facilmente…

Deus quer que dependamos d’Ele em tudo, a cada dia, a cada obra. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5c). Por isso, a melhor garantia para não cairmos no desânimo ou na frustração que, infelizmente, já se abateram sobre muitos que quiseram viver por própria conta, o melhor caminho e obedecermos ao Senhor em Sua Palavra: “Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15,5b). Aí então, livres da autossuficiência mesquinha e orgulhosa, poderemos dizer: ”Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13) ou, ainda: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20a).

Que a Virgem bendita, nossa Mãe, interceda junto de Deus por nós, para que possamos ser como ela, “a pobre serva do Senhor”, e para que também em nós o Todo-Poderoso possa realizar maravilhas. Que ela nos ajude a crer definitivamente no seu Filho, que nos advertiu: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5c).

Retirado do livro: “Em Busca da Perfeição”. Prof. Felipe Aquino. Editora Cléofas.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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