Rezar sempre

Entre as práticas que somos chamados a fazer durante a Quaresma, além do jejum e da esmola existe uma terceira prática muito importante se desejamos viver plenamente este tempo e a nossa vida cristã: a oração.

A Igreja, em sua tradição milenar, possui um conjunto de orações que fazem parte da cultura e do “ser católico”, como o Pai Nosso, a oração que o próprio Jesus nos ensinou, a oração do Terço, a Profissão de Fé e outras tantas devoções que cada um de nós aprendeu desde criança e sente em seu íntimo que deve praticar.

No entanto, a oração é muito mais do que a repetição de fórmulas. Se rezamos, por exemplo, um Pai Nosso sem o sentido que este exige, praticamente só repetimos a fórmula. Esta verdade se aplica a todas as orações conhecidas como vocais. “Nas vossas orações não useis vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes.” (Mt 6,  7-8).

O cristianismo é fruto de um encontro com Cristo. Pois bem, a oração é o lugar privilegiado para este encontro. Com ela temos experiência do amor e há renovação no amor. É lugar de conversão a Deus. Ela oferece a ocasião para que Cristo possa ser o único necessário. Ela nos fortalece para que toda a nossa vida tenha um toque divino.

Não há cristianismo sem oração, pois não há amor sem diálogo e entrega na liberdade. A oração é tão importante que, até hoje, cada um de nós, apóstolos e missionários, especialmente consagrados e consagradas, somos frutos daquela noite silenciosa em que Cristo subiu ao monte para orar e escolheu os doze apóstolos. A oração transcende o espaço e o tempo. (Cf. Lc 6, 12-16)
Deus, em sua onipotência e misericórdia, quis necessitar de nós. Pois só na liberdade há a plena adesão a Cristo. Só na oração posso descobrir os planos que Deus tem para mim. Maria estava em oração quando recebeu a sua missão, e, por ser uma alma generosa e contemplativa, pôde dizer sim a Deus.

A oração é promotora de amor, de generosidade e de entrega. Ela nos convida ao jejum como conversão de nós mesmos, através da consciência de nossa indigência. Ela nos lança a prática da esmola e da caridade, como manifestação do amor a Deus e a meu irmão. A oração é lugar de transformação e de impulso. Reconhecemos o homem e a mulher de oração no olhar, janela da alma, pois resplandece a presença interior de Deus.

Como afirma o Catecismo: “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 27). O ser humano só se realiza plenamente quando cria em sua vida este espaço diário de encontro com o divino. Como lembra muito bem Bento XVI: “O homo religiosus não emerge só dos mundos antigos, mas atravessa toda a história da humanidade.” (Audiência Geral, 11 de maio de 2011).

A oração nunca será superada pela técnica, pelo desenvolvimento e pelo progresso. Ao contrário, a sede de infinito que o homem possui, o desejo de transcender é a condição de possibilidade para todo e qualquer avanço científico e moral. Portanto, apenas na oração é que a sede e o desejo de ir mais além se saciam.

A oração é a manifestação da atração que todos temos por Deus. Por isto, entremos alegres na via quaresmal, conscientes de que em Deus encontramos o fim de nossas vidas. Deus nos convida a conviver com Ele. Vamos deixar que Cristo seja realmente o Senhor de nossas vidas.

Para isso, bastam pequenos gestos. Se no caminho do trabalho ou da escola me deparo com uma Igreja, entremos e passemos alguns minutos com Jesus no sacrário. Ensinemos nossos filhos e filhas a fazer uma oração antes e depois das refeições. Rezemos, também, antes de começar o trabalho ou um estudo. Aproveitemos para reunir a família algum dia da semana, ou todos os dias, para rezar o Terço. Lancemos, durante o dia, muitas flechas de amor ao céu através de pequenas frases conhecidas como jaculatórias, como por exemplo: “Senhor, eu te amo”, ou “Senhor, cuida da minha vida”, ou “Cristo, dai-me paz e alegria”.

Orar é amar muito! E se ama não apenas com palavras, mas com gestos e olhares. Necessitamos de tempo de oração vocal, litúrgica e silenciosa para que toda a vida se transforme em oração. E assim, todas as vezes que fazemos a vontade de Deus, segundo a própria missão e vocação, estamos orando. Ora a mãe que cuida de seus filhos, ora o filho que estuda e ajuda a sua mãe, ora o Pai que tem gestos de carinho com a sua esposa.

Que a exemplo de nossa querida mãe Maria Santíssima, que guardava todas as coisas em seu coração, deixemos que toda a nossa vida seja oração, e reservemos momentos para subir ao monte espiritual da oração para estar diante de Deus, face a face, e descobrir o quanto Deus nos ama.

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Dom Orani João Tempesta

Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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