VATICANO,
11 Jan. 11 (ACI) .- Ao referir-se à
situação da liberdade religiosa no Ocidente, o Papa Bento XVI disse que “a
religião não constitui um problema para a sociedade, não é um fator de
perturbação ou de conflito”.
Assim o indicou o Santo Padre em seu tradicional discurso anual ao Corpo
Diplomático na manhã de ontem no Vaticano, diante dos quais ressaltou que a
Igreja Católica “não procura privilégios, nem quer intervir em questões
estranhas à sua missão, mas simplesmente cumpri-la com liberdade. Convido cada
um a reconhecer a grande lição da história”.
“Neste sentido, a figura da Beata Madre Teresa de Calcutá é emblemática: o
centenário de seu nascimento foi celebrado em Tirana, em Skopje, em Pristina,
assim como na Índia; renderam-lhe uma vibrante homenagem, não só a Igreja, mas
também as autoridades civis e os chefes religiosos, sem contar pessoas de todas
as confissões. Exemplos como o seu mostram ao mundo quanto pode beneficiar a
sociedade o compromisso que nasce da fé”.
O Papa exortou logo a que “nenhuma sociedade humana se prevê
voluntariamente da contribuição fundamental que constituem as pessoas e as
comunidades religiosas. Como recorda o Concílio Vaticano II, a sociedade,
assegurando plenamente a todos a justa liberdade religiosa, poderá assim gozar
‘dos bens da justiça e da paz que emanam da fidelidade dos homens a Deus e a
sua Santa vontade'”.
Religião é essencial na vida pública
O Papa advertiu logo que diversos países do Ocidente concedem uma “uma
grande importância ao pluralismo e à tolerância, enquanto a religião sofre uma
crescente marginalização. Tende-se a considerar a religião, toda a religião,
como um fator sem importância, alheio à sociedade moderna ou mesmo
desestabilizador e procura-se, com diversos meios, impedir toda e qualquer
influência dela na vida social”.
“Deste modo, chega-se a pretender que os cristãos ajam, no exercício da
sua profissão, sem referimento às suas convicções religiosas e morais, e mesmo
em contradição com elas, como, por exemplo, quando estão em vigor leis que
limitam o direito à objeção de consciência dos profissionais da saúde ou de
certos operadores do direito”.
Outra manifestação de marginalização da religião e, em particular, do
cristianismo, disse logo o Santo Padre, “consiste em banir da vida pública
festas e símbolos religiosos, em nome do respeito por quantos pertencem a
outras religiões ou por aqueles que não acreditam. Agindo deste modo, não
apenas se limita o direito dos crentes à expressão pública da sua fé, mas
cortam-se também raízes culturais que alimentam a identidade profunda e a
coesão social de numerosas nações”.
“Reconhecer a liberdade religiosa significa, além disso, garantir que as
comunidades religiosas possam agir livremente na sociedade, com iniciativas nos
setores social, caritativo ou educativo. Pode-se constatar por todo o lado, no
mundo, a fecundidade das obras da Igreja Católica nestes âmbitos”.
É preocupante, continuou o Papa, “este serviço que as comunidades
religiosas prestam a toda a sociedade, particularmente em favor da educação das
jovens gerações, comprometido ou dificultado por projetos de lei que correm o
risco de criar uma espécie de monopólio estatal em matéria escolástica, como se
constata, por exemplo, em certos países da América Latina”.
“Continuando a minha reflexão, não posso passar sem referir outra ameaça à
liberdade religiosa das famílias nalguns países europeus, onde é imposta a
participação em cursos de educação sexual ou cívica que propagam concepções da
pessoa e da vida pretensamente neutras mas que, na realidade, refletem uma
antropologia contrária à fé e à reta razão”.
“Menos justificáveis ainda são as tentativas de contrapor ao direito da
liberdade religiosa pretensos novos direitos, promovidos ativamente por certos
setores da sociedade e inseridos nas legislações nacionais ou nas diretrizes
internacionais, mas que, na realidade, são apenas a expressão de desejos
egoístas e não encontram o seu fundamento na natureza humana autêntica”.
“Por isso, ao mesmo tempo que formulo votos de um novo ano rico de
concórdia e de real progresso, exorto a todos, responsáveis políticos, líderes
religiosos e pessoas de todas as categorias, a empreenderem com determinação o
caminho para uma paz autêntica e duradoura, que passa pelo respeito do direito
à liberdade religiosa em toda a sua extensão”, concluiu.