Diante da grave situação social de muitos membros de nossas comunidades, sempre nos reaparece a incômoda pergunta: o que fazer para socorrer os menos favorecidos? A solução seria, por ventura, acostumar tais pessoas a receber tudo de mão beijada, ou haveria outro caminho viável? As soluções são várias.
Quero aqui registrar as duas formas mais comuns de ajudar o semelhante:
1. Caridade assistencial – É a forma de ajuda mais tradicional, e diga-se de passagem, a mais fácil. Ela é louvada pela Sagrada Escritura, e Jesus a chamou de “obras de misericórdia”. Nesse contexto se colocam a distribuição de comida, de remédios, de roupas, de brinquedos e cestas básicas, as famosas filas de sopa… Neste mesmo contexto se apresenta também o programa Bolsa Família, nem sempre livre de interpretações “assistencialistas”. Será que a caridade assistencial resolve os problemas? Os que hoje, em estado quase de humilhação, estão nas filas, nela não estarão ainda daqui a dois anos? A caridade assistencial se justifica quando é uma atividade ocasional, e não permanente. Por quê? Esse tipo de ajuda favorece o paternalismo, abrindo espaço para o culto da personalidade; cria dependência, por tirar a liberdade dos usuários; leva à falta de iniciativa, pois “papai” resolve tudo. Os Vicentinos estão numa dinâmica muito boa, porque a ajuda que prestam sempre procura ser temporária.
2. Caridade promocional – É uma forma de ajuda muito eficaz, porque desafia o espírito criativo dos favorecidos. Não é muito fácil de praticar. Não costuma formar um grupo de “agradecidos” diante das bondades do “bom pai”. Cada um se sente estimulado a despertar em si as suas potencialidades. Às vezes, pelo contínuo chamamento à co-responsabilidade, existem momentâneas irritações e até desânimos. É educação para o futuro, por confiar na inteligência e no trabalho de cada um. Gera autoconfiança e determinação, e por isso mesmo é a base de uma economia sólida, e de vida conquistada no esforço pessoal. Essa ajuda vem em forma de favorecimento dos estudos, melhoria de saúde e higiene, aprendizagem de artes e ofícios, cursos de aperfeiçoamento, conhecimentos profissionais… É bem verdade, esse tipo de caridade não dá manchetes, porque não tem nada de impactante. Mas é uma caridade sólida. Forma cidadãos livres e criativos, pouco dependentes do bom ou do mau humor dos outros. Aqui está o papel de uma verdadeira Família, das diversas Escolas, e também das Paróquias e Comunidades. “Fazei o bem sem desfalecer” (Gal 6, 10).
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Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba – MG