Profecias desmentidas – EB

Revista : “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 454 – Ano: 2000 – pág.
131

 

Em síntese: A revista VEJA,
edição de 20 de outubro de 1999, pp.156-163 apresenta um conjunto de
prognósticos de futurólogos e cientistas que previram para o ano 2000 um
progresso maravilhoso ou também calamidades espantosas.  Nada, porém, se cumpriu do previsto.  A lição dos fatos é útil para descartar os
falsos oragos sobre fim de século e começo de novo milênio (começo que só ocorrerá
em 2001).

A revista VEJA em seu número
de 20/10/99, pp. 156-163, cataloga vinte e nove prognósticos de futurologistas
e cientistas muito alvissareiros e fantasiosos uns, assustadores outros, que
deveriam caracterizar o ano 2000. 
Todavia tais previsões são desmentidas pela própria história, cujo curso
se vai desenvolvendo dentro do ritmo habitual. 
O fato merece registro especial, pois revela quanto é ansioso o ser
humano por desvendar o futuro não somente no campo civil, mas – acrescente-se –
também no tocante à religião.  A
experiência ensina, pois, que é necessária cautela para que ninguém se deixe
iludir por falsos oráculos.

A seguir, referiremos os
principais prognósticos não cumpridos.

A História desmente

INFLAÇÃO

Previsão para o ano 2000:  A disparada de preços e a recessão forçarão o
governo americano a impor a volta do padrão ouro.  Um hambúrguer custará 10,50 dólares em Nova York (Murray
Tothbard, professor do Instituto Politécnico de Nova York, 1981).

Realidade: O padrão ouro
está enterrado e um Big Mac custa 2,45 dólares em Nova York.

GUERRA

Previsão: A guerra nuclear
entre os Estados Unidos e a União Soviética provocará entre 100 milhões e 200
milhões de mortes (Edmund Berkeley, engenheiro de computação da Universidade de
Harvard, 1981).

Realidade : Com o fim da
União Soviética e da Guerra Fria o risco de uma guerra nuclear total é remoto.

BOMBA

Previsão : Catorze países
terão a bomba atômica, inclusive o Brasil (Robert Weil e Bem Bova, futurólogos
americanos, 1982).

Realidade: Índia e Paquistão
têm a bomba atômica, mas o Brasil não.

AMBIENTE

Previsão: A Floresta Amazônica
desaparecerá por volta do ano 2000 (Robert Weil e Bem Bova, 1982).

Realidade: A destruição da
Floresta Amazônica preocupa, mas a Amazônia ainda está em seu lugar.

AGRICULTURA

Previsão: As superfícies
marinhas da Antártica e da Lua serão adaptadas para a plantação de
lavouras.  Parte da humanidade viverá em
cidades subterrâneas (Andrei Sakharov, físico nuclear russo, 1974).

Realidade: Em se plantando,
a terra tudo produz, mas somente neste planeta.

ENERGIA

Previsão: Centrais orbitais
transformarão a energia solar em eletricidade, que será transmitida à Terra por
microondas (Isaac Asimov, 1981).

Realidade:  Não funcionou, nem em testes.

CARRO VOADOR

Previsão: O automóvel e o
avião, duas das maiores invenções, serão combinados e o resultado será o
aerocar, o carro voador (Moulton Taylor, inventor americano, 1946).

Realidade: Automóvel e avião
continuam fazendo sucesso, mas separados.

METRÓPOLE

Previsão : São Paulo será a Segunda
maior metrópole do mundo, com 26 milhões de habitantes (Relatório sobre População
das Nações Unidas 1979).

Realidade: São Paulo tem 17
milhões de habitantes.

A DOENÇA VENCIDA

Previsão: As pessoas morrerão
apenas em acidentes, mas não definitivamente. 
Os mortos serão congelados para ser tratados mais tarde (Esfandiary,
futurólogo e consultor das Nações Unidas).

Realidade:  As doenças continuam matando.

ESPAÇO

Previsão : Haverá mais seres
humanos vivendo no espaço do que na Terra (Gerard K. O’ Neill, professor de
Física da Universidade Princelon e autor do livro Colônias Humanas no Espaço,
1980).

Realidade : Continuamos com
os pés no chão.

FAMÍLIA

Previsão:  A família será substituída por clubes de
amigos.  Todos trabalharão menos, ganharão
menos, assistirão menos à televisão (Ernest Callenbac, autor de Ectopia, 1981).

Realidade:  A vida ainda gira em torno do núcleo
familiar.

SAÚDE

Previsão:  O controle químico do envelhecimento dobrará
o tempo de vida das pessoas (Harry Srine, consultor dos Institutos Smithsonian,
Hudson e do Futuro, 1981).

Realidade :  Só em ratos de laboratório, por enquanto.

TRABALHO

Previsão:  As pessoas viverão mais, trabalharão menos e
se aposentarão mais cedo.  Terão férias
mais longas e jornadas de trabalho mais curtas. 
Num ano, trabalharão 147 dias e descansarão 218 dias (Herman Khan,
1967).

Realidade:  As pessoas ainda trabalham 218 dias por ano e
descansam 147.

DROGAS

Previsão:  A cocaína será legalizada.  A legalização da maconha ocorrerá antes e
servirá para aumentar a arrecadação de impostos (Sheilley Levitt, editora da
revista High Times de apologia das drogas, 1981).

Realidade :  O consumo de drogas é a tragédia de sempre e
o combate ao tráfico virou guerra.

CONSUMO

Previsão :  O preço do barril de petróleo chegará a 75 dólares
e a indústria automobilística declinará. 
As famílias substituirão o automóvel pela bicicleta e pela motocicleta
(David Pearce Snyder, editor da revista The Futurist, 1981).

Realidade:  O automóvel está firme e forte.  O barril de petróleo custa 23 dólares.

COMUNISMO

Previsão:  O comunismo dominará o mundo, com exceção dos
Estados Unidos, do Canadá e da Austrália. 
A Europa Ocidental se tornará satélite da União Soviética (Timothy
Leary, guru americano da contracultura nos anos de 60).

Realidade :  A União Soviética acabou em 1991 e o
comunismo sobrevive em estado puro apenas em Cuba e na Coréia do Norte.

POPULAÇÃO

Previsão:  O mundo terá 7 bilhões de habitantes. O
Brasil, 212 milhões (Herman Kahn).

Realidade: O mundo tem 6
bilhões de habitantes e o Brasil 160 milhões.

O BRASIL NA MISÉRIA

Previsão:  O Brasil terá uma renda per capita de 506 dólares
e um produto interno bruto de 246 bilhões de dólares (Herman Kahn, futurólogo
americano no livro O ano 2000, de 1967).

Realidade :  A renda per capita brasileira é de R$ 5.413 e
o PIB beira os 864,11 bilhões de reais1.

O COMPUTADOR

Previsão: O mercado mundial terá lugar para cinco
computadores (Thomas Watson, fundador da IBM, 1943).

Realidade: Já foram
fabricados 300 milhões de computadores pessoais em todo o mundo.

SEXUALIDADE

Previsão: O ato sexual
perderá importância.  O intercurso deixará
de ser tão popular.  O uso de
anticoncepcionais entrará em declínio e o debate homossexualidade versus
heterossexualidade não terá mais sentido (Shere Hite, autora do Relatório Hite,
uma pesquisa sobre a sexualidade feminina em 1980).

Realidade:  É obviamente muito diversa do previsto.

TRÂNSITO

Previsão: Carros voadores fáceis
de pilotar e baratos serão o sonho realizado de consumo da classe média.

Realidade :  Na hora do rush os carros andam a 6 quilômetros por
hora, velocidade das carruagens do século XIX.

ESPORTE

Previsão : O recorde de Bob
Beamon no salto em distância (8,90 metros) só será superado daqui a 1000 anos
(Roberto Weil e Bom Bova do livro The Omni Future Almanac, de 1982).

Realidade: O recorde
resistiu 23 anos.  Foi batido pelo
americano Mike Powell em 1991; ele saltou 8,95 metros.

Estes dados evidenciam claramente
quanto é fácil enganar-se no tocante à previsão do futuro.  O repórter de VEJA o enfatiza ao escrever à
p. 159:

“O patrono do catastrofismo
é o inglês: Thomas Malthus, que viveu no século XCVIII. Ele previu que a
humanidade não escaparia da fome. Seu cálculo parecia infalível: a população
crescia geometricamente (1,2,4,8,16,32 …) e a produção de grãos
aritmeticamente (1,2,3,4,5,6 …). Trombou com a realidade porque a produção de
grãos se deu num ritmo centenas de vezes mais forte do que o crescimento
populacional.  Malthus não poderia Ter enxergado
isso no tempo em que vivia, quando cada grão de trigo semeado produzia dez
outros num ano bom e cinco num ano ruim”.

Passemos agora ao campo da
futurologia religiosa, onde pululam igualmente prognósticos assustadores
destituídos de todo fundamento.

No setor religioso

São numerosas as publicações
voltadas para a temática de catástrofes e fim de uma era ou fim do mundo.  Apoiam-se em textos bíblicos mal
interpretados e em revelações particulares, sujeitas a crítica.  Dentre as muitas obras sobre tal assunto,
vai, a seguir, citada a de Carlos Era que tem por título: “O Fim do Mundo e o
Futuro da Humanidade à Luz das Profecias e da Ciência”, Casa de José de Alencar
/ Programa Editorial 1997.  O autor fala
de “Astrolatria e Astrologia Suscitadas por Lúcifer” (cap. 10), “ultima Remessa
de Almas para Almateca de Hades” (cap. 32), “Reino Messiânico de Mil Anos”
(cap. 34)… À p. 73 apresenta o capítulo 28 com o título “Quando acontecerá o
Prodígio”, que na sua íntegra afirma o seguinte:

“28 – Quando Acontecerá o
Prodígio

Bem, agora que já sabemos como será realizado o
evento, e quem acenderá a fogueira, resta perguntar:

“E quando será que isso vai
acontecer?”

Perguntado a respeito, o
Homem Jesus respondeu :

“Acerca daquele dia e da
hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai”
.  Mt 24, 36-42; Mc 13,32.

Mas, apesar de não se poder
precisar nem o dia, nem a hora, pode-se concluir, pela fala dos profetas, que o
Fim do Nosso Mundo está próximo. Mt 24, 32-34; Mc 13, 28-30; Lc 21, 29-31.

Está marcado para acontecer
ao completar 6.000 anos, ou seja, 6 dias no calendário sideral do Deus Jahveh,
a contar desde a criação do Homem Adão, os 6.000 anos de atuação legal de Lúcifer.
Gn 2, 1-3.

De acordo com os cotejos dos
estudiosos de datas históricas e registros genealógicos da Bíblia, estaríamos
agora, em 1996, no ano 5. 996 na história do Homem.

Considerando exatos os
cotejos, que, aliás, foram feitos com toda a minudência, o nosso mundo só teria
mais 4 anos pela frente.

Todavia poderá haver ainda
algum erro na contagem do tempo, pois existem pequenas discordâncias nos cálculos,
que podem nos render mais um ou dois anos de governo de Lúcifer.

É curioso encontrar vaticínios
de videntes profanos, como o controverso Nostradamus, apontando o ano 2.000
para o temido evento.

Alguma ajuda, quiçá demoníaca,
tiveram eles nas suas conjeturas, pois Lúcifer sabe muito bem até quando vai o
seu mandato autorizado, se bem que ele é muito mentiroso”.

Como se vê, o autor cita as
Escrituras como um cristão, mas designa o Senhor como “o Homem Jesus”.

Atribui ao mundo a duração
de 6.000 anos, correspondentes aos seis dias da criação, pois mil anos nossos
seriam como um dia para Deus (cf. 2Pd 3,8). 
Este modo de calcular a duração do mundo é arbitrário, embora proposto
mais de uma vez na literatura apocalíptica. 
Estaria o gênero humano terminando o sexto milênio da sua existência – o
que não condiz com as afirmações da ciência, a qual reconhece a duração de mais
de um milhão de anos para a espécie humana. Paradoxalmente Carlos Era diz que
fala em nome das Profecias e da Ciência !

O autor julga que os seis
milênios de existência do ser humano estão sob o governo de Lúcifer – o que
também é gratuito.  A Providência Divina
rege a história da humanidade e concede a Satanás agir no mundo dentro de um
plano sábio e santo;

A evocação de Nostradamus
para corroborar a data de 2000 para o fim do mundo não procede, pois, segundo
os comentadores, Nostradamus propôs três datas para a consumação da história:
1999, 2769 e 3797!  Muito menos se pode
dizer que Lúcifer “ajuda os videntes”, comunicando-lhes segredos que só ele a
Deus conhecem.

Chama a atenção ainda a
ressalva que Carlos Era faz às suas interpretações: se o mundo não acabar em
2000, acabará um ou dois anos depois, já que “pode haver algum erro na contagem
do tempo”!

O espécimen de profecias
contemporâneas aqui analisado evidencia o baixo teor de credibilidade que
merece tal gênero literário.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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