Páscoa e o Enigma da História – EB

Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 287 – Ano 1986 – p.
145

O cristão que acaba de
festejar a Páscoa, celebrou-a no contexto de dias turbulentos… A história é
um enigma aos olhos do observador: Por que a desonestidade e a corrupção
parecem merecer o favor de Deus? Não se diria que Este esquece os seus amigos?

Tais perguntas já
atormentaram as mentes dos Profetas bíblicos (cf. Jr 12, 1s; Hab 1,1-4; 2, 1-4;
Ml 2, 17) e de Jó. Atormentaram também os cristãos do século I como os do
século XX.

Ora, sob o impacto da
ressurreição de Cristo, São João, em 96, escreveu o seu Apocalipse, que é
precisamente uma revisão da história à luz do dom de Páscoa. Neste escrito, o
autor sagrado apresenta a corte celeste à semelhança das cortes orientais
antigas (cf. Ap 4-5): Deus Pai, sobre o seu trono, entrega ao Cordeiro que foi
imolado e traz as marcas das suas chagas, mas está em pé como quem triunfou, o
Livro da História da humanidade; neste livro todo o futuro dos homens e dos
povos está registrado pela preciência de Deus (que não tira a liberdade dos
homens): hão de se desenrolar calamidades, que farão os homens gemer (cf. Ap
6), mas nenhuma dessas desgraças perturbará a corte celeste, que no decorrer de
todo o livro canta um Aleluia permanente (cf. Ap 7, 10-12; 11, 15-18; 15,3s;
16, 5-7…). Com efeito; os anjos e santos sabem que cada evento da história
está dimensionado pela Providência Divina e faz parte de um harmonioso plano de
santificação dos homens; nada acontece fora dos desígnios da Sabedoria Divina.
O Cordeiro chagado, mas vitorioso, é o Senhor da história; Ele a sustenta em
suas mãos, de modo que ela na verdade nada tem de absurdo, mas através das
linhas tortas, traçadas pelo livre arbítrio dos homens, serve ao plano de
salvação de Deus.

Eis a resposta cristã para o
enigma da história. Não pretende (nem pode, como ninguém pode) explicar cada
acontecimento, mas afirma, com plena convicção, que o Senhor Jesus é o Rei dos
séculos, aos quais Ele imprime o seu caráter de Páscoa; a dor, decorrente da
fragilidade das criaturas, é redimida pelo Amor, que transfigura e diviniza
todo sofrimento, fazendo-o penhor da Glória futura.

E tu, cristão, que responderás
ao desafio dos teus tempos? – Procura, sem dúvida, trabalhar ardorosamente em
prol da Boa Causa; mas lembra-te de que tens um recurso muito mais teu, menos
dependente de meios extrínsecos: sim, sê mais santo, mais perfeitamente cristão,
pois “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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