Páscoa com sombras e luzes no Reino Unido

Ainda há atos de vandalismo contra lugares de culto

ROMA, quarta-feira, 4 de maio de 2011 (ZENIT.org) – Na Abadia de Westminster, em Londres, o príncipe William de Gales se casou, na sexta-feira, 29 de abril, com a “commoner” ou plebeia Kate Middleton. Se tudo correr bem, o jovem Windsor subirá um dia ao trono. Em uma solene cerimônia de entronização, rica em elementos e símbolos da tradição judaico-cristã, novamente na Abadia de Westminster, o novo soberano do Reino Unido deveria receber também o título de “Defender of the faith” (“defensor da fé” – supõe-se que da fé cristã), conferido pelo Papa Leão X a Henrique VIII em plena Reforma, no distante 1521.

Mas, enquanto a monarquia atrai a atenção do público e da mídia, a fé cristã está sendo atacada hoje nas Ilhas Britânicas. De acordo com um relatório do Christian Institute, publicado em dezembro de 2009, intitulado “Marginalising Christians. Instances of Christians being sidelined in modern Britain” [1], de maio de 2008 a maio de 2009, mais de 20 igrejas espalhadas por todo o Reino Unido sofreram ataques incendiários. Em março do ano passado, um incêndio quase destruiu a igreja de Saint Mary em Westry, perto de March, no condado de Cambridgeshire (The Daily Mail, 16 de março de 2010).

Finalmente, durante o tríduo santo, símbolos e lugares de culto cristão foram alvo de atentados e ataques. Como relata o Christian Institute (28 de abril), na noite da Sexta-Feira Santa, desconhecidos ataram fogo duas vezes a uma grande cruz de madeira colocada em uma praça no centro da cidade de Faversham, em Kent County. Após a segunda tentativa, a polícia decidiu retirar a cruz, que tinha sido utilizada no período da manhã para uma procissão e um culto ecumênico organizado por Churches Together. Enquanto um suspeito foi detido, o reverendo Geoff Cook, da Igreja Batista de Faversham, declarou ignorar as razões do ataque. “Eu só posso especular”, afirmou (BBC, 23 de abril).

Piores foram os danos sofridos por uma igreja do condado escocês de Lothian Ocidental. Trata-se da igreja de St. Andrews, em Livingston, no sudoeste de Edimburgo. Na noite entre a Sexta e o Sábado Santos, desconhecidos atiraram pedras em um lugar de culto, quebrando em mil pedaços os vidros de 11 janelas (com exceção dos vitrais, felizmente protegidos por folhas de plástico). Segundo o Scotsman (27 de abril), é o sexto ou sétimo ato de vandalismo perpetrado contra a igreja no ano passado. Segundo o vigia, Jim Pollock, os autores provavelmente pertencem a uma gangue juvenil que muitas vezes vaga pela região. “Suponho que foram os jovens, o que seria ainda mais triste para a sociedade”, disse ele. Um conselheiro local, Bruce Ferrie, falou de um “ato vil e insensato de vandalismo dentro de uma pequena comunidade”.

Mas neste período da Páscoa, o golpe mais doloroso foi infligido pela própria justiça britânica. O Charity Tribunal rejeitou, de fato, na terça-feira, 26 de abril, o último apelo apresentado pela agência católica de adoção Catholic Care, da diocese de Leeds. Como outras agências católicas que operam no setor das adoções, também a Catholic Care pediu para ser dispensada ??das disposições da Equality Act (Sexual Orientation). Introduzidas em 2007 para eliminar a discriminação baseada na orientação sexual, as disposições em questão exigem das agências de adoção que aceitem os casais homossexuais como potenciais pais adotivos.

A sentença do Charity Tribunal, que confirma uma decisão prévia da Charity Commission, satisfez as organizações pró-direitos dos homossexuais, como Stonewall. Ficou muito decepcionado, no entanto, o bispo da diocese de Leeds, Dom Arthur Roche. “É lamentável que aqueles que sofrem por causa dessa decisão sejam as crianças mais vulneráveis, a quem Catholic Care proporcionou um excelente serviço por muitos anos”, disse, depois de uma batalha judicial que durou dois anos (The Guardian, 26 de abril).

Para o diretor-gerente da Catholic Care, Mark Wiggin, a mensagem do tribunal é clara: acabar com as atividades ou deixar de ser uma agência católica, um ultimato inaceitável para o organismo. Algumas das 11 agências de adoção católicas presentes em 2007 no Reino Unido, de fato, já fecharam suas portas; outras, porém, decidiram abrir mão do status de agência diocesana para continuar com o serviço. Embora o Tribunal tenha reconhecido que um eventual fechamento da Catholic Care seria “uma perda para a sociedade”, seguiu, no entanto, a linha traçada pelo então ministro Tony Blair, segundo a qual não pode haver lugar para discriminação na sociedade britânica. Para o Charity Tribunal, endossar o pedido de isenção proposto pela Catholic Care, suporia “um mal para casais do mesmo sexo e para a sociedade em geral”.

De acordo com o diretor-geral do Christian Legal Centre, Andrea Minichiello Williams, a sentença do Charity Tribunal confirma o que já se sabia: “A Equality Act, que se apresenta como uma ferramenta para garantir uma sociedade mais tolerante, é utilizada como uma forma de intolerância patrocinada pelo Estado”.

Das Ilhas Britânicas também nos chega uma boa notícia. A Wakefield and District Housing (WDH) – com cerca de 1.500 funcionários e mais de 30 mil casas em Yorkshire Ocidental, uma das maiores cooperativas de construção na Grã-Bretanha – decidiu abandonar o procedimento disciplinar aberto contra um de seus eletricistas, Colin Atkinson. O trabalhador, de 64 anos, recusou-se a remover uma discreta e simples cruz feita com uma folha de palmeira, do para-brisa de sua camionete, pertencente à empresa.

Segundo o “Daily Mail” (22 de abril), que fala de uma “vitória pascal”, a marcha atrás da WDH veio depois de uma reunião “confidencial” entre dois responsáveis da empresa e o interessado, que estava acompanhado do seu representante judicial, Terry Cuncliffe. “Eu não quero impor a minha fé a ninguém. Mas não quero esconder minha cruz como se fosse um segredo do qual deveria me envergonhar – disse Atkinson, após a decisão tomada pela direção da cooperativa (The Daily Mail, 23 de abril). Eu quero ser respeitado. Seria pedir muito?”

Tem sido muito forte, por outro lado, a análise fornecida pelo eletricista, que se descreveu como “um cara normal”. “Este país foi construído sobre os valores cristãos, mas está perdendo sua identidade, porque todo mundo tem medo de ofender as minorias – disse ele. Eu sempre me orgulhei muito de ser britânico. Mas será que eu ainda me orgulho? Esta é uma pergunta forte.”

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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