“Cada pessoa do grupo, da comunidade, precisa sentir-se amada e querida pelo grupo, pela comunidade”
Na última reunião dos Bispos do Brasil, em Aparecida do Norte, em abril deste ano (2013), eles trataram do importante tema “ Paróquia, Comunidade de Comunidades”. A Igreja é uma comunidade (koinonia). Jesus fundou uma comunidade de Apóstolos, que foi o “pequeno rebanho” a quem Jesus confiou o Reino de Deus. “Não temas pequeno rebanho, foi do agrado do Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).
A Igreja nasceu como comunidade, é o Corpo de Cristo, onde todos tinham tudo em comum e “não havia entre eles necessitados”. Diante da imensidão da Igreja hoje, não é possível mais que os cristãos tenham tudo em comum como antes numa comunidade pequena; mas não pode haver entre nós necessitados. No entanto ainda há, e muitos. E é exatamente isso uma das razões que enfraquece a Igreja católica e faz com que ela perca muitos de seus filhos para outras comunidades não católicas, e até mesmo para seitas não cristãs.
Minha filha, que é médica endocrinologista, contou-me um caso muito interessante. Certa vez, chegou a seu consultório um homem bastante doente, levado em uma cadeira de rodas por dois irmãos de uma comunidade evangélica. Ela o examinou e constatou que o paciente estava com a saúde bastante comprometida e necessitava tomar uma medicação de custo elevado, mas que poderia ser obtida gratuitamente por meio de uma ação judicial. Ela orientou os que conduziam o paciente de como fazer. No dia seguinte o Pastor da comunidade evangélica telefonou para minha filha dizendo que já tinha conseguido, na comunidade, um advogado que iria cuidar de tudo. Este advogado esteve com minha filha e foi orientado. Assim, o paciente conseguiu a medicação cara e pode ser tratado. Tudo isso porque a sua comunidade o ajudou. Que beleza! Será que isso teria acontecido em nossa igreja?
Infelizmente, isso falta entre nós católicos. A maioria dos católicos não está engajada em uma comunidade. Vamos à missa, cumprimentamos as pessoas no “abraço da paz” antes da Comunhão, mas, acabada a Missa, cada um vai para a sua casa sem se importar com a vida do outro, sem saber se o outro precisa de ajuda, se tem necessidade de alguma coisa, se está desempregado, doente, etc. Nosso relacionamento é frio. Não somos, normalmente, uma comunidade. É por isso que muitos católicos abandonam a Igreja quando são acolhidos pelos evangélicos, tratados em suas necessidades, etc. Conheço toda uma família católica que se tornou evangélica porque a avó da família que ficava sozinha o dia todo, na solidão, começou a ser visitada e amada pelos nossos “irmãos separados”. Foi o suficiente para que a avó se tornasse evangélica e, atrás dela, toda a família. Faltou o amor cristão, faltou a solidariedade católica de uma comunidade que cuidasse dessa senhora, rezasse com ela, a levasse a missa, a Igreja, ao médico, etc..
Hoje, graças a Deus, há muitas comunidades de vida e de aliança; mas de precisamos mais, precisamos que todo o povo católico seja envolvido nisso. Precisamos urgentemente viver comprometidos com uma comunidade, que pode ser um grupo de oração, por exemplo.
A Renovação Carismática Católica envolve hoje cerca de 4.000 grupos de oração. Já pensou se cada um desses grupos se transformasse em uma comunidade onde “não haja necessitados entre eles”? Onde o grupo cuide dos desempregados, dos doentes, dos abandonados, dos solitários, dos fracos? Eu penso que ninguém abandonaria a beleza da fé católica para ir para outra comunidade não católica, onde não há os Sacramentos da salvação.
Em 1995, o Papa João Paulo II pediu aos bispos do Brasil em Roma, que incentivassem o que chamou de “ministério da acolhida”. Mas isso não é apenas termos um grupo de pessoas nas entradas dos Encontros, com um avental escrito “ministério da acolhida”. Isso é bom e necessário, mas não é suficiente. Tem de ser mais do que isso, tem de ser um ministério que visite as pessoas do grupo em suas casas frequentemente, que assista os doentes, que cuide dos velhos e das crianças, etc. Cada pessoa do grupo, da comunidade, precisa sentir-se amada e querida pelo grupo, pela comunidade. E tudo isso poderia estar ligado ao Pároco e ao Vigário, formando da Paróquia, uma verdadeira “Comunidade de comunidades”.
Prof. Felipe Aquino