Papa celebra 10 anos do Catecismo da Igreja

L`OSSERVATORE ROMANO
Nº 42   19/10/2002  p. 3

Discurso aos participantes no Congresso Catequético Internacional,
no X aniversário do Catecismo da Igreja Católica

O CONCÍLIO VATICANO II É UMA ‘BÚSSOLA’ SEGURA PARA OS CRENTES DO TERCEIRO MILÊNIO

Na manhã de Sexta-feira, 11 de outubro, Sua Santidade João Paulo II recebeu em audiência os participantes no Congresso Catequético Internacional promovido pela Congregação para o Clero, para comemorar o 40º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, e o 10º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica.  No início da Audiência, o Cardeal Joseph Ratizenger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, dirigiu ao Santo Padre em nome de todos, uma respeitosa saudação de homenagem e de agradecimento pelo encontro concedido no final dos trabalhos do Congresso.

Em seguida, o Papa pronunciou o seguinte discurso :

1.  Sinto-me particularmente feliz por intervir neste Congresso Internacional, convocado para celebrar o décimo aniversário da publicação da edição original do Catecismo da Igreja Católica e o quinto aniversário da promulgação da sua edição típica latina.
Ao mesmo tempo, nesta importante assembléia, desejam-se recordar também outros acontecimentos que caracterizaram, nestes últimos decênios, a vida catequética eclesial: o XXV aniversário do desenvolvimento, em 1977, da IV Assembléia geral do Sínodo dos Bispos dedicada à catequese, e o V aniversário da publicação, realizada em 1997, da nova edição do Diretório Geral para a Catequese.  Mas sobretudo, é-me grato realçar que precisamente há quarenta anos, o beato João XXIII inaugurava solenemente o Concílio Ecumênico Vaticano II: o Catecismo refere-se a ele constantemente, a ponto que se poderia chamá-lo, justamente o Catecismo do Vaticano II.  Os textos conciliares constituem uma `bússola`  certa para os crentes do terceiro milênio.

2.  Agradeço do fundo do coração ao Senhor Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, as palavras com as quais introduziu este nosso encontro e apresentou o vosso trabalho, e ao Senhor Cardeal Dario Castrillón Hoyos, Prefeito da Congregação para o Clero, por ter, de comum entendimento, promovido e presidido a este Congresso.  Dirijo-vos também uma saudação cordial e agradecida a vós, venerados Irmãos no Episcopado, e a todos vós, representantes das várias Igrejas locais, empenhados, de várias formas mas com o mesmo entusiasmo e coragem, nos vários Organismos Internacionais e nacionais, instituídos para a promoção da catequese.

3.  Nestes dias vós rezastes, refletistes e dialogastes juntos sobre a forma de realizar, no contexto de hoje, aquela que é a ansiedade perene e sempre nova da Igreja católica: anunciar a todos a boa nova que Cristo nos confiou: `Alimentar-nos com a Palavra, para sermos `servos da Palavra` no empenho da evangelização: euntes in mundum aniversum`.
Durante estes intensos dias de trabalho, procurastes realizar quanto está escrito na Carta apostólica Novo milênio ineunte `Abrir o coração à vaga da graça e permitir que a palavra de Cristo passe através de nós com todo o seu poder: Due in altum` (n. 38).
Acolher nós próprios e partilhar com os outros o anúncio de Cristo, que `é sempre o mesmo ontem, hoje e sempre` (Hb 13,8): eis a idéia fixa que deve caracterizar a vida de cada cristão e Comunidade eclesial.

4.  Para este terceiro milênio, que acabou de se iniciar, o Senhor ofereceu-nos um instrumento particular para o anúncio da sua Palavra: o Catecismo da Igreja Católica, por mim aprovado há dez anos.
Ainda hoje ele conserva a sua realidade de dom privilegiado, posto à disposição de toda a Igreja Católica, e também oferecido `a cada homem que nos pergunta a razão da nossa esperança e que deseja conhecer aquilo que a Igreja Católica crê`, como escrevi na Constituição apostólica  Fidei depositum, por ocasião da publicação do edição original do Catecismo.
Como exposição completa e integral da verdade católica, da dictruba tan de fude quam de moribus válida sempre e para todos, ele, com os seus conteúdos essenciais e fundamentais, permite conhecer e aprofundar, de maneira positiva e serena, aquilo que a Igreja Católica crê, celebra, vive e reza.
Ao apresentar a doutrina católica de modo genuíno e sistemático, mesmo na sua sintetização (bib inbua sed tityn), o Catecismo reconduz todos os conteúdos da catequese ao seu centro vital, que é a pessoa de Cristo Senhor.  O amplo espaço dado pela Bíblia a Tradição Ocidental e Oriental da Igreja, aos Santos Padres, ao Magistério, à hagiografia; a centralidade garantida ao rico conteúdo da fé cristã; a interconexão das quatro partes, que constituem, de maneira complementar, a estrutura do texto e que realçam o estreito vínculo entre lex credendi, lex celebrandi, lex agendi, lex operandi, são apenas alguns dos méritos  deste Catecismo, que nos permite mais uma vez admirar-nos diante da beleza e da riqueza da mensagem de Cristo.

5.  Também não devemos esquecer a sua natureza de texto magisterial colegial. De fato, sugerido pelo Sínodo episcopal de 1985, redigido pelos Bispos como fruto da consulta de todo o Episcopado por mim aprovado na versão original de 1992 e promulgado na edição típica latina de 1997, destinado antes de mais aos Bispos, como mestres autorizados da fé católica e princípios da fé católica e princípios responsáveis da catequese e da evangelização, o texto está destinado a tornar-se cada vez mais um instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial com o grau de autoridade, autenticidade e veracidade que é próprio do Magistério ordinário pontifício.
De resto, a boa aceitação e ampla difusão, que ele teve neste decênio nas várias partes do mundo, também em âmbitos não católicos, são um testemunho positivo da sua validade e atualidade perene.
Tudo isto não deve fazer diminuir, mas ao contrário, deve intensificar o nosso empenho renovado por um seu acolhimento mais jubiloso e um seu uso melhor na Igreja e no mundo, como também foi amplamente desejado e concretamente indicado durante os trabalhos deste Congresso.

6.  O Catolicismo está chamado a desempenhar um papel particular em relação à elaboração dos catecismos locais, para os quais ele se propõe como `ponto de referência` segura e autêntica no dedicado empenho de mediação a nível local do único e perene depósito da fé.  Com efeito, é necessário conjugar ao mesmo tempo, com a ajuda do Espírito Santo, a maravilhosa unidade do mistério cristão com a multiplicidade das exigências e das situações dos destinatários do anúncio.
Para realizar este objetivo, desde já cinco anos está à disposição também a nova edição do Diretório Geral para a Catequese.  Como revisão do Diretório de 1971 querido pelo Concílio Vaticano II, o novo texto constitui um documento importante para orientar e estimular a renovação catequética, sempre indispensável para toda a Igreja.
Como está muito bem indicado no seu Prefácio, ele, assumindo os conteúdos da fé propostos pelo Catecismo da Igreja Católica, oferece, sobretudo, normas e critérios  para a sua apresentação, assim como os princípios de base para a elaboração dos Catecismos para as Igrejas particulares locais, formulando de igual modo as orientações essenciais e as coordenadas fundamentais de uma sadia e rica pedagogia divina e atenta às múltiplas e complexas situações dos destinatários do anúncio catequético, imersos num contexto cultural misto.

7.  Desejo cordialmente que os vossos trabalhos contribuam para dar um posterior realce àquela prioridade pastoral que é uma catequese clara e motivada, integral e sistemática e, quando for necessário, também apologética.  Uma catequese que consiga ficar impressa na mente e no coração, de maneira a alimentar a oração, imprimir um estilo à vida, orientar o comportamento dos fiéis.
Invoco sobre os participantes no Congresso e sobre os vossos trabalhos a proteção da Virgem Maria, a perfeita `serva da Palavra`, que caminha sempre diante de nós para nos indicar o Caminho, para manter os nossos olhos fixos na Verdade e obter-nos todas as graças de Vida, que brota unicamente de Jesus Cristo seu Filho e nosso Senhor.

Com a minha Bênção.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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