Os santos que abalaram o mundo – Parte 2

Confrontada
com os milagres da realidade viva, a técnica do materialismo racional
verificou-se, em última análise, não passar justamente de “um erro que apenas
“macaqueava Deus”, sendo simplesmente capaz de imitar o que já tinha sido
criado, ou reduzir a pedaços o que já está dado a conhecer.”

A Darwin,
de cuja teoria da evolução a filosofia materialista tirou a coragem de
adentrar-se mais e mais no reino dos fenômenos vivos, aconteceu certa vez que
veio a perder, por um instante, diante do espetáculo duma floresta tropical, o
fio de seus princípios mecânicos e exclamou: “Nenhum homem pode permanecer aqui
sem sentir que estas matas são templos cheios dos vários produtos do Deus da
natureza e que há no homem mais alguma coisa do que o hálito de seu corpo.”

O anatomista
do cérebro Constantino von Monakoff investigava, no seu laboratório na Suíça, a
estrutura celular do tecido nervoso do cérebro e do cordão espinal e verificou
que os fenômenos mentais e espirituais não podem ser explicados pelos processos
físico-químicos dentro do sistema nervoso, mas forçam o estudioso a voltar à
suposição dum princípio divino com sua causa derradeira.

Devemos ter
novamente a coragem de conceber o homem como a realização dum pensamento divino
e compreender que crescimento e evolução significam o desenrolar dum plano
traçado por Deus.

À lição que
o eminente biologista oxfordiano Sir John Scott Haldane deduziu de suas
investigações expressa-se da seguinte forma: “O mundo da Natureza que nos cerca
não é um simples mundo físico-químico ou biológico, mas um mundo no qual a
personalidade está justamente tão encarnada como em nossos próprios corpos.
Para certos propósitos práticos, podemos encará-lo como simples mundo
físico-químico ou biológico mas como o mundo de nossa experiência é não somente
um mundo de personalidade, mas também de divina personalidade (…) Não somente se
manifesta a personalidade de Deus em nosso mundo universo, mas nós mesmos, até
onde lutamos em busca do que é divino, somos partícipes, embora
imperfeitamente, da personalidade divina… O universo visível e tangível é muito
mais do que o que pode ser interpretado em termos da ciência física
tradicional. A derradeira interpretação é a interpretação espiritual pela qual
tudo quanto é claramente definível no mundo visível e tangível é a manifestação
de Deus (…). Separada da existência de Deus, vivo e ativo, a realidade não tem
significação última (…). Devemos aceitar os resultados da ciência física como uma
interpretação parcial, e então a religião é não somente compatível com as
legítimas conclusões da ciência natural torna-se uma contribuição à verdade
relativa-uma parte da própria religião.”

“A
ciência”, diz a testemunha Millikan, “é muitas vezes acusada de induzir a uma
filosofia materialista. Mas o materialismo não é seguramente um pecado da
ciência moderna. Se alguma coisa há que o progresso da física moderna haja
ensinado, é que uma assertiva dogmática a respeito de tudo quanto existe ou não
existe no universo, tal como foi descrito pelo materialismo do século XIX, não
é científica, não é verdadeira. O físico tem tido o argumento de suas
generalizações tão completamente inutilizado que aprendeu como Jó que é loucura
multiplicar palavras sem conhecimento, como fizeram todos aqueles que outrora
afirmaram que o universo deveria ser interpretado em termos de átomos
inflexíveis, sólidos, desalmados, e de seus movimentos. A filosofia mecanicista
abriu falência.”

Mas a
testemunha Sir John Scott Haldane vai até mais além, quando declara que “o
materialismo, outrora teoria científica, e agora credo fatalista de milhares,
nada mais é do que uma superstição (…)”.

Anula-se o
processo contra a fé, e parece que o novo réu está honestamente desejoso de
corrigir seus erros.

Estamos
sendo testemunhas duma nova “renascença”, que se ocupa em fazer voltar a
apreciação do homem à sabedoria construtiva e à beleza da fé. Uma nova
“ilustração” conduzirá à vitória, emancipará nosso pensamento da intolerância
dogmática do materialismo restaurará nosso privilégio duma avaliação
verdadeiramente sem preconceito da História e nos capacitará a avaliar plena e livremente
os tesouros do passado.

Nós, homens
e mulheres do século XX, sentimo-nos orgulhosos de nossa adesão ao ideal de
justiça social, de nosso credo democrático, de nossos princípios humanos, de
nosso desprezo por todas as formas de preconceito racial, de nossa compreensão
de problemas econômicos, de nossos interesses e de nossas organizações de
âmbito universal. Mas todas estas realizações são, em última análise, uma
herança a nós confiada por um passado embebido na fé divina, e se reconhecemos
que como guardas e curadores do passado estamos lutando por preservar e
desenvolver os valores que nos foram transmitidos por uma antiga tradição,
estamos também pagando tributo aos santos do passado que criaram aqueles
valores e deram testemunho de sua excelência em tudo quanto praticaram.

Entre os
santos contam-se os primeiros proclamadores dos ideais humanitários, os
primeiros combatentes pela justiça social, os primeiros campeões do pobre.
Consideravam todas as nações e raças iguais; o horizonte deles era verdadeiramente
global: foram os primeiros libertadores dos escravos. Estabeleceram a santidade
do trabalho e foram os primeiros a insistir na sua categoria ética. Elevaram a
mulher à posição de companheira do homem e determinaram nova importância às
suas funções na estrutura social. Foram os conselheiros espirituais da
humanidade, os protagonistas da liberdade intelectual, os primeiros educadores
e os fundadores dos primeiros institutos científicos. Quer estudemos a História
dum ponto de vista político ou econômico, quer consideremos os domínios da
cultura ou da ciência e da técnica, em toda parte vamos descobrir que os santos
a proclamaram e por ela combateram, por essa espécie de cultura que hoje
estamos lutando por preservar.

Todos os
nossos tesouros culturais, os valores eternos e ideais do progresso moral, de
caridade, de amor e de justiça, nossa apreciação da arte e o sentimento que
temos da grandeza do mundo natural, são expressões duma forma de energia
criadora que tem seu fogo nas vidas dos santos e delas se irradia.

Mas se em
troca perguntarmos o que foi que deu aos santos tais poderes criativos,
capacitando-os a exercer decisiva influência sobre o curso cultural de séculos,
subseqüentes até ao presente e, sem cessar, até ao futuro, a resposta é simplesmente
que foi sua fé numa realidade sobrenatural que se situa acima da realidade dos
sentidos: sua fé numa lei divina que é mais forte do que as misérias e
necessidades da vida na terra; numa eternidade que é mais verdadeira do que o
momento; numa ordem e numa beleza de que a confusão desenfreada da ordem e da
beleza da existência terrena é apenas uma noção errônea. Acreditavam que o
homem é capaz de entender as ordens de Deus, de harmonizar com elas as
exigências da vida sobre a terra, de dar ao momento valor duradouro, e de ir no
encalço de seus ideais até à sua definitiva realização.

Os santos
acreditavam em Cristo, cujo reino, que “não era deste mundo”, tornava-se uma
realidade neste mundo.

Sua
mensagem de otimismo é a simples verdade que o homem não é um brinquedo nas
mãos de forças cegas, que não está condenado para todo o sempre a sustentar
“uma guerra fratricida de todos contra todos”, que não é o produto de condições
materiais de produção e a vítima de irremediáveis males econômicos; que é uma
criatura de Deus, um ser livre, o senhor e não o escravo de sua raça, de sei
tempo e de seu meio, – que está destinado a viver sobre a Terra até que o germe
da perfeição divina que nele permanece possa crescer e tornar-se forte.

Ao escritor
francês Maurício Barres certa vez perguntaram: “Para que servem os santos?”
Respondeu “Eles deleitam a alma!”

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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